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A China – Quando a Natureza e a Verdade se Renegam a Cada Esquina…

João Aníbal Henriques, 27.05.15

 

 

por João Aníbal Henriques
 
A China é o maior e o mais populoso País do Mundo. Com os seus perto de um bilião e meio de habitantes, ocupando uma imensidão de mais de nove milhões de quilómetros quadrados, a República Popular da China conjuga uma história milenar, patente em cada canto e recanto e sensível em milhares de pequenos laivos da vivência cultural do seu povo, com uma espécie de história nova, de pouco de setenta anos, que acompanha algo a que por lá se chama “revolução cultural” e que ditou os destinos do controle do Partido Comunista Chinês desde o fim da guerra civil que aconteceu em meados do Século XX.
 
Quando se chega à China tudo é inesperado e a sensação que perdura, mais do que os sons marcantes e os cheiros que preenchem todos os detalhes da sua paisagem marcante, é uma sensação de choque cultural que se traduz num impacto muito grande.
 
Com um regime político muito marcado pelo totalitarismo político do Partido Comunista, bem visível nos símbolos, nas cores e na profusa presença de militares nas ruas das cidades, a China empreendeu um esforço hérculeo ao longo das últimas décadas para literalmente apagar das memórias dos seus habitantes os ensinamentos antigos que haviam dado corpo à identidade  nacional. Quem hoje visita a China, e salvo as raríssimas excepções de monumentos ancestrais que não foi possível demolir pelo impacto que tiveram e continuam a ter um pouco por todo o Mundo, como a Cidade Proibida, a Grande Muralha da China, etc. vê um país marcadamente ocidentalizado, com avenidas largas repletos de milhões de carros em engarrafamentos constantes, enormes arranha-céus ao jeito do que se faz na Alemanha e na América e centenas de gigantescos centros comerciais, copiados dos que existem no Ocidente mas agigantados ao gosto chinês, nos quais se encontram as marcas e as lojas mais importantes da Europa actual.


 
 
É por isso um banho de água fria, para quem lá chega à espera de encontrar os vestígios da cultura milenar chinesa, da sua forma de vestir e de estar, bem como os retorcidos telhados dos pagodes ancestrais. Tudo isso desapareceu mercê da revolução dita cultural que o regime empreendeu, e foi paulatinamente substituído por uma espécie de grande cenário Ocidental onde se tenta copiar de forma espampanante o que se faz por cá.
 
Mas tenta-se somente. Porque por detrás das fachadas de vidro, dos carros alemães e das lojas mais requintadas de Paris, sobressaem ainda os gestos antigos que os Chineses teimam em perder… os arrotos sonoros em plena rua, a preparação de comida à porta de casa, as cuspidelas para o chão e o lixo que esvoaça por todo o lado, contrastam de sobremaneira com aquilo que imaginamos para um lugar assim. E depois a desordem ordenada e controlada que existe por todo o lado. Num País onde não é possível navegar livremente na internet, as ruas estão cheias de prostitutas e chulos que perseguem os poucos turistas ocidentais que por ali andam, oferecendo o seu produto e tentando levar os mais incautos para aventuras estranhas e muitos caras das quais poucos têm a coragem de voltar a falar mais tarde.

 
 
E o engano é palavra de ordem que não deixa ninguém indiferente. À sombra da sua incapacidade de falar outra qualquer língua para além do Chinês e da natural dificuldade de comunicação que daí advém, qualquer ocidental que entre num táxi, que tente comprar o que quer que seja e que não esteja habituado aos usos e costumes daquela gente, será enganado com toda a certeza.
 
Apesar de tudo isso, da falta que fazem as memórias antigas de um País antiquíssimo e que tanta importância teve na nossa forma de estar e de ser, o impacto de uma visita à China traduz-se numa experiência de vida, provavelmente mais impactante do que qualquer outra viagem que alguém possa tentar fazer.
 
Vale a pena? Vale certamente!
 

Pequim vs Beijing

 
 
 
 
Existem elementos incontornáveis numa visita a Pequim. Para além da sua imponência e antiguidade, são marcos fulgurantes na imaginação de qualquer um e definem com rigor aquilo que um turista Ocidental pensa antes de chegar a um destino tão impactante. A Cidade Proibida, a Praça de Tian’anmen, a Grande Muralha ou o Templo do Céus, são parte da paisagem e da aura de mistério que acompanha esta enorme metrópole asiática.
 
Tendo anteriormente designações diferentes, como Zhongdu, Dadu ou Cambuluc, Pequim (ou Beijing na ortografia local) é a actual capital da China. Com uma imensa população de quase 24 milhões de habitantes, é a segunda cidade chinesa depois de Shanghai e aquela que conjuga maior simbolismo no contexto da ditadura comunista que actualmente se está ali a viver.



 
 
Fundada originalmente no Século XIII, quando Genghis Khan unificou um conjunto de pequenos povoados ali existentes, Pequim (ou Capital do Norte) foi crescendo ao sabor das muitas vicissitudes que deram forma à sua História. Ali residiram as principais figuras da História da China e ali se centralizam as estruturas de poder ao longo dos últimos séculos.
 

A Praça da Paz Celestial ou Praça de Tian’amnen

 
 
 
 
A Praça da Paz Celestial, como optou por chamar-lhe o regime comunista que controla o País, também conhecida por Praça de Tian’amnen, é a maior do Mundo e foi inaugurada em 1651 às portas da Cidade Proibida. Por ali se representaram as encenações das grandes paradas e dos espectáculos com maior impacto políticos da Ásia e nela se desencadearam acontecimentos políticos que mudaram para sempre a percepção do Mundo em relação a este país tão marcante. Foi ali, em 1989, que centenas de estudantes foram massacrados pelo regime depois de tentaram mostrar a sua insatisfação pelo que estava a acontecer.
 
Hoje, rodeada de enormes medidas de segurança muito visíveis (e também de outras que ninguém vê mas que se sentem), alberga o monumento de memória ao antigo líder comunista Mao Tsé-Tung (1893-1976) e a tumba onde se encontra exposto o seu corpo embalsamado e está permanentemente cheia com centenas de milhares de visitantes maioritariamente chineses que, com um permanente sorriso nos lábios, por ali deambulam horas e horas a fio para poderem ver de perto o corpo daquele a quem, por medo ou respeito, continuam a chamar o “Grande Timoneiro”. E quase faz impressão olhar para aquele mar de gente, ali às portas da antiquíssima Cidade Proibida, gesticulando de satisfação em filas intermináveis que rodeiam o monumento várias vezes e onde passam horas após horas só para comprar o bilhete.

 
 

Mao Tsé-Tung e a Revolução Cultural Chinesa

 
 
 
 
E se a cidade tem uma história ancestral, marcante principalmente no Século XV quando a Cidade Proibida foi construída, o certo é que a sua importância foi reforçada no dia 1 de Outubro de 1949 quando Mao Tsé-Tung (1893-1976) ali proclama o nascimento da actual República Popular da China. Tendo sido conquistada pelo poder Nipónico em 1937, que manteve o controle sobre a cidade até à sua derrota na II Guerra Mundial em 1945, Pequim foi libertada pelo exército liderado por Mao e posteriormente reconquistada pelo poder comunista após a Guerra Civil que impôs o actual regime político.
 
E foi precisamente o auto-designado Grande Líder que, com a ajuda de uma das suas mulheres, empreende entre 1966 e 1969 aquilo a que optou designar por Revolução Cultural que literalmente deu forma à China actual e que tanta influência tem ainda hoje na formulação plástica e social o povo Chinês.
 
Tendo reformulado praticamente todos os aspectos da via quotidiana no seu País, o regime comunista optou por uma solução final que pusesse cobro a toda e qualquer possibilidade de protesto ou de sublevação. Para além de destruir grande parte do património histórico e cultural do País, que associava à possibilidade de descentrar as atenções do povo das inovações e do progresso que o regime comunista pretendia impor, a revolução cultural foi palco de grandes perseguições a oposicionistas, artistas e a todos os que ousassem pensar de maneira diferente. A autêntica lavagem cerebral levada a cabo por Mao Tsé-Tung, apagando os vestígios da milenar história chinesa e reforçando os laços com o movimento comunista, estendeu-se a escolas, empresas e às suas, que se encheram de simbologia do regime e apagaram por completo tudo aquilo que dissesse respeito a outros tempos.

 
 
Ainda hoje, na fachada principal da entrada da Cidade Proibida, se ostenta a fotografia do líder revolucionário, literalmente vigiando o seu povo e reverenciado como se de uma divindade se tratasse… 
 

A Cidade Proibida

 
 
 
 
E o maior choque para quem visita a China pela primeira vez será possivelmente a Cidade Proibida. Conjunto monumental de templos e palácios utilizados pelos vários imperadores chineses desde 1420, quando foi construído, a Cidade Proibida é possivelmente o monumento chinês que transversalmente acompanha o imaginário de todos aqueles que já pensaram estar neste lugar tão diferente.
 
Palco de filmes e de dramas imperiais, vedada ao acesso do cidadão comum, a Cidade Proibida é um autêntico e maravilhoso palco onde se recriavam os espectáculos que sustentavam a magnificência do poder político Chinês.


 
Actualmente, depois da revolução cultural de Mao Tsé-Tung, franquearam-se os portões antigamente sempre fechados e o povo literalmente tomou conta do espaço. Perdendo grande parte da sua mística e o antigo silêncio que dava corpo à apreciação do lugar e que é contado e recontado por todos os viajantes antigos que tiveram a sorte de lá entrar, a Cidade Proibidade está sempre literalmente a abarrotar de milhares e milhares de visitantes, maioritariamente chineses, que entram aos gritos, preenchem cada recanto e vão (literalmente) arrancando bocados dos adornos existentes no local.
 
Sem qualquer outra espécie de orientação para além de umas ténues informações muitos genéricas acerca dos nomes ancestrais daquelas vastas praças e terraços, os visitantes seguem ao ritmo da curiosidade, espreitando aqui e além as muitas salas que enchem o lugar e ouvindo aqui e ali algumas palavras ditas por algum guia mais descuidado. Não existe informação escrita, placas indicativas ou sequer livros à venda com notas sobre o lugar (o único sítio onde encontrámos um livro em inglês sobre a história da Cidade Proibida foi na área de embarque do Aeroporto), tudo acontecendo ao sabor do nada que tudo enche! Perde-se a simbologia, o significado profundo e a magnificência milenar de uma história que importava recordar.






 





 




 


 
 

Shanghai ou Xangai e Pudong

 
 
Situada junto à foz do Rio Yangtze, importante empório comercial durante muitos séculos, a Cidade de Shanghai é actualmente a maior cidade da China e possivelmente uma das maiores metrópoles do Mundo.

 
 
Considerada como “Cidade Mercado” em 1074, foi sempre ponto central na distribuição das riquezas produzidas no vastíssimo território Chinês e um porto da maior importância. De tal forma assim foi que, em 1842, quando a revolução industrial simplesmente começava na Europa, Shanghai se tornou no ponto-angular do comércio asiático, facto que ficou consubstanciado no Tratado de Nangum.
 
Profundamente ocidentalizada, com a sua estrutura urbana marcada por alguns dos maiores arranha-céus do mundo, Shanghai consubstancia o seu impacto na linha costeira do Rio Huangpo e no magnífico cenário do Pudong e a Torre Pérola Oriental, visto a partir do Bund.
 
A torre, construída entre 1991 e 1995, foi desenhada por Jia Huan Cheng e, com os seus 468 metros de altura, é actualmente uma das mais altas torres de televisão do Mundo, tendo-se assumido como ex-libris da cidade. O seu traço, baseado num poemos da Dinastia Tang, procura recriar a linha de paisagem com os traços de um alaúde…
 
Do outro lado, causando estranheza por ter sobrevivido ao surto implacavelmente destruir da revolução comunista, sobrevive um antigo palacete colonial actualmente utilizado como Embaixada da Rússia na China.


 






 
 

Guangzhou e o Cantão

 

 
De todas as cidades Chinesas, Guangzhou é possivelmente aquela que melhor traduz o estado em que se encontra China actual. Empório comercial antiquíssimo, fundada no Século II a.C. e com mais de dois milénios de História, Guangzhou ou Cantão, como é conhecida no Ocidente, é a capital da província de Guangdong, um dos mais prósperos territórios do País.
 
E se o Cantão é bem conhecido dos Portugueses, existindo centenas de relatos e descrições de viagens feitas à cidade ao longo de muitos séculos, até porque um tratado de 1511 atribui a Portugal o monopólio do comércio em Guangzhou, já pouco resta da magnificência de outrora.
 
Os antigos bairros, as casas típicas, os templos e as ruelas estreitas, foram progressivamente substituídos por enormes arranha-céus com dezenas e nalguns casos centenas de andares de altura, muitas vezes pintados de dourado e verdadeiramente resplandescentes, num processo de descaracterização total que cumpre os objectivos ditados pela dita revolução cultural comunista. Sendo actualmente a terceira metrópole da China continental, com mais de 13 milhões de habitantes, Guangzhou é uma espécie de enorme centro comercial, cruzando vários centros comerciais entre si e que se estende por cima e por baixo da terra.
 
Da sua história mais rocambolesca, subsiste o velho abrigo anti-bombardeamentos, resquício da pressão japonesa durante a II Grande Guerra, mas que se encontra literalmente perdido debaixo de uns quantos arranha-céus e de uma amálgama de centenas e centenas de lojas aglomeradas em vários centros comerciais subterrâneos.
 
O que sobrevive da antiquíssima cultura Chinesa? Pouco mais de nada. Os maus hábitos arreigados por práticas de sucessivas gerações, a sujidade que permanentemente vai enchendo as ruas das suas cidades, alguns hábitos alimentares também eles associados a práticas de pouca higiene e… nada mais. 
 
Uma pena.





 

 

至尊旅行 in Beijing, Shanghai and Guangzhou

João Aníbal Henriques, 27.05.15

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葡萄牙是克里斯蒂亚诺·罗纳尔多(C罗)的故乡,距离当初这里的水手们奔向大海的怀抱,创造连接东西方的历史,已经有超过五百年的时间了。我们的“至尊旅行”将会为您提供一次难忘的葡萄牙之旅,那里是太阳落下的地方,是欧洲最靠西的边缘,在那个美丽的地方,交织着令人难忘的历史遗迹与最引人注目的风景。它会让你觉得正在走进一个历史厚重,传统丰富的国度。现如今,它已经成为欧洲一个时尚的旅行地,一个阳光和魅力交相辉映的国际大都市。  
 
我们的“至尊之旅”,会为您提供一位时刻陪伴左右的中国导游,他将同时担任您的翻译。在旅行中,不仅有中国传统的美食,我们还为您提供了葡萄牙最好的美食与美酒与之互补,并有欧洲最负盛名的商业空间可供参观。在“至尊之旅”的合作酒店中,会对中国旅客提供特殊的照顾,有传统的中式早餐、中国人常穿的拖鞋以及普通话的电视频道。相信这一切,都是让您下一次旅行成为一场至尊之旅的必备要素。

 

 

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Espectro de Ódio no Gueto de Frankfurt

João Aníbal Henriques, 07.05.15

 

 

Num Mundo marcado pelos acontecimentos e pela história poucos são os locais que possuem um impacto de tal maneira forte que nos afecta desde o primeiro momento que deles nos acercamos. É o que acontece com o antigo gueto judaico de Frankfurt, na Alemanha, musealizado depois da II Guerra Mundial e recriando o espaço de ódio e de segregação racial que determinou a vida dos Judeus durante muitos séculos.
 
Indissociada da história da cidade de Frankfurt, os judeus alemães viveram apartados do resto da comunidade e literalmente fechados num espaço próprio desde praticamente o Século XIII. No final do Século XIX, durante um período de florescimento do poder dos judeus, o gueto foi parcialmente demolido, num espectro de degradação que foi imensamente agravado durante o período do III Reich.
 
Escavado arqueologicamente durante o processo de reconstrução de Frankfurt, o gueto judaico preserva os arruamentos estreitos e os becos e ruelas que davam forma aquele antro de segregação. Para além de algumas habitações, onde quase podemos sentir a forma como sobreviveram os judeus naquele diminuto espaço, podemos ainda ver dois mikvá, o local dos banhos rituais judaicos perdidos no acanhado espaço onde se processava a vida de toda aquela imensa comunidade e se pressentem o horror da doença e da falta de higiene que foi transversal a toda a história daquele espaço.


 
Durante o período de terror nazi, quando o gueto já mais não era do que um mero antro de criminalidade, muitos foram aqueles que morreram assassinados às mãos dos algozes do Reich simplesmente por caminharem pelo emaranhado de ruelas que dava forma aquele lugar tão especial.
 
Hoje, numa Alemanha ainda fustigada pelos fantasmas de duas guerras cruéis e substanciais onde abundam os sinais, as memórias e as ruínas das inconcebíveis atrocidades que terminaram há precisamente 70 anos, o gueto de Frankfurt é uma memória que subsiste por si própria e se sobrepõe à própria História da Alemanha. As suas paredes parecem gemer de uma dor que se foi perpetuando de geração em geração, dando forma a uma sobrevivência na qual o humanismo nunca esteve presente. 
 
Quando se comemora o fim da guerra, vale a pena visitar em silêncio o gueto de Frankfurt, Vale a pena ouvir os gemidos longínquos daqueles que ali nasceram, viveram e morreram ao longo dos séculos. Vale a pena ponderar sobre as razões que levaram a uma situação deste género. Vale a pena pensar como foi possível que tal tenha acontecido ainda há tão pouco tempo.







 

70 Anos do Horror no Campo de Extermínio de Mauthausen-Gosen

João Aníbal Henriques, 07.05.15

 

 
 
 
No rescaldo das comemorações dos 70 anos que se cumprem desde a derrota da Alemanha na II Guerra Mundial, importa relembrar o mal-conhecido campo de concentração de Mauthasen-Gusen, na Áustria, libertado no dia 7 de Maio de 1945. 
 
Criado ainda antes da eclosão oficial da guerra, quando em 1938 o Reich Alemão começou a enviar para ali alguns prisioneiros oriundos de Dachau, Mauthasen-Gusen era um campo de concentração vocacionado especialmente para o trabalho, tendo recebido prisioneiros de estatuto mais elevado oriundo dos países paulatinamente anexados pela Alemanha. 
 
Os trabalhos forçados que ali se desenvolviam, maioritariamente em pedreiras e minas que serviam para construir armamento, munições e aviões de guerra, provocaram mais e 300.000 mortos oriundos das mais cultas e socialmente mais relevantes classes sociais dos países ocupados. Na chacina, para além dos métodos atrozes usuais nos muitos campos de extermínio nazi espalhados um pouco por todo o território controlado pelos alemães, desempenharam papel de relevo a fome e a exaustão extremas, que levaram à morte um número impossível de determinar com exactidão de homens.
 
Desse grupo de prisioneiros fez parte o fotógrafo espanhol Francisco Boix que, tendo conseguido sobreviver ao martírio, conseguiu recuperar um conjunto muito explícito de fotografias que ilustram (e comprovam) o que ali se passou. 
 
Homens destituídos de toda a sua humanidade, com os ossos visíveis sob a pele diáfana e descoberta e carne, sempre nus e de olhar perdido perante o horror que viam consolidar-se ao seu lado. 
 
As imagens de Boix, mais tarde utilizadas como prova nos julgamentos de guerra que se sucederam ao armistício, são o cerne incontornável de um dos mais negros e terríveis acontecimentos de sempre na Europa. Para além das atrocidades cometidas e do regime de terror imposto pelo III Reich, foi um período de profunda desumanização que põe em causa milhares de anos de evolução e de civilidade. 
 
O ano de 1945 aconteceu há já setenta anos mas, na globalidade da nossa longa história, foi anteontem. Importa lembrar e relembrar, porque as imagens atrozes de Francisco Boix são a prova de que é fácil à humanidade resvalar para as trincheiras animalescas da barbárie. Demasiado rápido. Demasiado fácil.