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cascalenses

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O Convento de Nossa Senhora da Piedade em Cascais (Casas do Visconde da Gandarinha e/ou Centro Cultural de Cascais)

João Aníbal Henriques, 19.09.22

 

 

 

 

por João Aníbal Henriques

A porta de entrada do auditório principal do Centro Cultural de Cascais abre caminho através de uma história longa e profícua de mais de 426 anos de segredos imensos que urge revelar.

As abóbodas incompletas daquela sala, oferecendo ao espaço uma aura mística que mesmo a utilização actual não consegue toldar, são o que resta da Capela onde rezavam quotidianamente os frades do Convento de Nossa Senhora da Piedade.

 

 

E nas paredes envelhecidas pelos séculos, está ainda a Pietá envolvida pelo silhar de azulejos que confirma a sua origem cultual, bem as placas evocativas dos beneméritos que ao longo dos anos foram contribuindo com a sua esmola e trocando a materialidade dos seus bens pelas Missas eternas que lhes garantiam a saúde da Alma…

 

 

Na denominada Capela do Fundador, ali mesmo à entrada do novo restaurante, parecem ainda ouvir-se as vozes tristes dos que acompanharam os seus entes queridos à sua última morada em cerimónias de uma magnificência terrena que contrastava com a singeleza excruciante de quem nem calçado usava. E nas sepulturas abertas no chão, está marcado o brilho da espada, das esporas e os restos da farda de gala de um dos mais importantes cavaleiros desse velho Cascais, mesmo ao lado dos confessionários onde se partilhavam sob sigilo sagrado as tentações de uma vida onde o pecado sempre teima em vingar.

 

 

Na passagem para o antigo claustro, sob o olhar atento do Camões que nasceu dolorosamente das mãos de Mestre Cutileiro, surge marcado a negro o percurso alquímico do deambulatório onde muitas gerações de religiosos descalços cruzavam as suas ladainhas elevando ao Altíssimo as preces mais pungentes das gentes de Cascais.

 

 

Nos vãos das janelas antigas, que abrem agora para sítio nenhum, pressentem-se os raios de luz que emanavam das representações majestosas de Nossa Senhora da Conceição e de Santa Teresa de Ávila, ali mesmo onde o caldeirão alquímico dos frades-filósofos transformava o cobre em ouro e dava ensejo para a retransformação espiritual da comunidade. E na Sala do Capítulo, onde se tomavam as decisões mais impactantes relativas ao futuro da comunidade, estão ainda as janelas que ofereciam aos irmãos uma visão privilegiada sobre a cidadela relembrando-os da ligação ao poder temporal que ela representava.

O céu e a terra ligados numa ponte mística neste convento de Cascais…

O Convento de Nossa Senhora da Piedade, onde em 1594 nasceram e cresceram os primeiros laivos da ciência em Portugal, é hoje o cadinho da cultura em Cascais. E onde há quatro séculos atrás se salvavam as Almas através do deleite proporcionado pela oração permanente e pela proximidade a Deus, crescem agora os espíritos deslumbrados pelo carácter onírico e pela pujança cromática dos muitos artistas que permanentemente ali encontram um palco privilegiado.

 

 

A Igreja de Nossa Senhora de Fátima na Parede

João Aníbal Henriques, 19.09.22

 

 

por João Aníbal Henriques

Em Agosto de 1950, quando o então Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Gonçalves Cerejeira, benzeu a primeira pedra da futura Igreja da Parede, já a localidade tinha uma longa e profícua História, afirmando-se como pilar de modernidade no Concelho de Cascais.

De facto, desde praticamente a chegada da Corte a Cascais, no final do Verão de 1870, que a Parede, antiga São José do Estoril, havia ganho fama de local especial. As suas arribas, com propriedades terapêuticas únicas, eram desde há muito local de cura para diversos males, com especial preponderância para as maleitas dos ossos.

No Hospital de Santana, situado nas falésias confinantes com a Estrada Marginal, o vetusto edifício recebia todos os anos uma população flutuante que ia engrossando à medida em que crescia a fama da localidade. E ao lado, na Clínica Hélio Marítima, mais conhecida pelos locais como a “Casa do Patriarca”, por lá ter vivido no início do Século XX o então Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. José Sebastião Netto, os tratamentos inovadores alcançavam resultados nunca antes vistos nos locais de tratamento daquelas doenças existentes no Portugal dessa época.

Em ambos os edifícios (no hospital e na Casa do Patriarca) existiam pequenas capelas abertas ao culto popular e era aí que os paredenses se deslocavam para expressarem a sua religiosidade dada a distância considerável que os separava da sua Igreja Paroquial situada nos confins de São Domingos de Rana.

 

 

Era esse, por definição, o problema mais relevante com que se debatia a povoação naquela época. Com valores populacionais crescentes, mercê do crescimento urbano centrado nas suas potencialidades terapêuticas mas, também, do esforço empreendedor de Nunes da Mata, o visionário republicano que havia projectado a fama da Parede além fronteiras, a Parede continuava a pertencer administrativamente à Freguesia de São Domingos de Rana, não possuindo autonomia secular ou religiosa. Os Paredenses, que desde há muito pediam que fosse criada uma freguesia encabeçada pela localidade e uma paróquia que fosse deles, debatiam-se com um problema grave e irresolúvel. As pequenas capelas anexas aos espaços hospitalares não tinham dignidade nem tamanho para servirem de Igreja Paroquial e o templo de São Domingos de Rana, com a sua História longa e uma monumentalidade que expressava bem os laivos rurais da sua implantação, ofuscavam por completo os anseios daquelas progressivas gentes.

Dessa forma, foi a própria população quem tomou a iniciativa de construir na sua localidade uma igreja projectada de raiz que despoletasse, por seu turno, a necessária movimentação em direcção à autonomia paredense. A Comissão de Senhoras Pró-Construção da Igreja da Parede não se poupou a esforços. E, entre saraus musicais, concertos na rádio, festas populares e quermesses, demorou menos de meia década a angariar o manancial necessário para avançar com a obra e para cumprir este seu desiderato maior de dar à Parede um reconhecimento oficial que a povoação ainda não lograra obter.

Contactado o Arquitecto Rebelo de Andrade, que já nessa altura alcançara a fama através da sua participação na preparação de diversos pavilhões oficiais representativos de Portugal nas principais feiras internacionais do seu tempo, o mesmo imediatamente ofereceu os seus serviços gratuitamente, preparando o projecto que surgiria em linha com a modernidade que se associava ao culto ainda muito recente à Virgem de Fátima, cujas aparições haviam despoletado um renovado fulgor para a Igreja Católica depois dos anos conturbados que tinham caracterizado o início do período republicano.

 

 

Com a ajuda do escultor Jorge Barradas, que ficou encarregue da decoração do novo templo, e se dedicou a esculpir as imagens que o haviam de encher, Rebelo de Andrade projectou um edifício de traça modernista com um impacto imenso na paisagem e uma capacidade cénica que influi directamente nas expectativas dos paredenses quando por ele passavam no seu quotidiano. As linhas verticais de cor branca, marcadas na frontaria pelo portal de Jorge Barradas com figuras bíblicas e a imagem de Nossa Senhora de Fátima rodeada por duas pombas brancas, assumiam o apelo à singeleza da Fé paredense, recriando em torno daquele lugar uma mística onde se espraiavam os laivos maiores do culto do Espírito Santo e, por extensão, uma abordagem igualmente assumida e transconsubstanciada na pureza virginal da Mãe de Deus.

Conjugadas as vontades e os meios necessários à sua concretização, foi a igreja inaugurada no dia 1 de março de 1953, no meio de uma festa imensa que juntou naquele espaço todos os paredenses. O culto foi inaugurado no novo templo pelo próprio Cardeal-patriarca Dom Manuel Gonçalves Cerejeira que surgiu acompanhado pelo Ministro e pelo Secretário-de-Estado das Obras Públicas, que se reuniram na Parede com as principais autoridades civis, militares e eclesiásticas de Cascais.

 

 

A Igreja Matriz de Grândola

João Aníbal Henriques, 16.09.22
 

 

por João Aníbal Henriques

Integrada na paisagem urbana de Grândola, a Igreja Matriz, com invocação recente a Nossa Senhora da Assunção, é um excelente exemplo da forma como evoluiu a própria localidade. A simplicidade da sua traça, numa apologia assumida ao estilo chão que dá forma à extraordinária expressão arquitectónica do Alentejo, aponta para um sentido neoclássico, porventura resultante das vicissitudes imensas que conheceu ao longo da sua longa História.

Não se conhecendo a sua origem, uma vez que documentalmente a primeira menção a esta igreja data de 1482, quando se efectuou uma campanha de obras que visava contrariar a degradação em que o templo se encontrava, sabe-se que nessa altura o seu orago era Nossa Senhora da Abendada, facto que se alterou já no Século XVI quando lhe foi atribuída a actual designação.

A volumetria que actualmente apresenta, fruto de sucessivas campanhas de obras ali efectuadas pela Ordem de Santiago da Espada, foi determinada pelo visitador-mor da ordem, D. Jorge de Lencastre, Duque de Coimbra, após visita ao espaço em 1513. Nessa altura, em virtude da pobreza original do edifício, a Ordem de Santiago considerou que era pouco digno o carácter campesino da igreja original, com a sua Pia Baptismal feita a partir de uma tina de barro e o chão de terra batida, foi decidida a ampliação do espaço original e a criação de um conjunto de serviços que incluíam basicamente todas as necessidades referentes ao apoio à população.

 

 

A afirmação de Grândola ao longo de todo o Século XVI, quando a pujança fértil das suas terras acabou por ser determinante na criação de excessos de produção que consolidaram a componente mercantil da localidade, traduz-se em sucessivas intervenções na Igreja de Nossa Senhora da Assunção, assim se explicando a riqueza das suas talhas e dos painéis de azulejos que contrastam de forma evidente com a simplicidade do seu traçado.

Nossa Senhora da Assunção, a invocação maior deste período mais recente, aponta simultaneamente para a evolução cultual naquela zona do Alentejo, numa apologia permanente aos mistérios maiores da criação, assertivamente dependentes de um pragmatismo simples expropriado das abordagens mais elaboradas que populações oriundas de outros lugares para ali procuravam trazer. Por isso, para a Senhora da Assunção convergem os interesses, relegando para segundo plano outros tipos de motivações que contradissessem as mais puras formas de expressão da piedade popular. E a nova invocação, sendo ela própria uma assumida ponte entre o carácter mundano da vida comum e o prolixo contexto da religiosidade mais elaborada e exigente das camadas populacionais mais privilegiadas, transforma-se assim no cadinho onde se fermenta uma nova forma de ser e de estar que é determinante para a consolidação do tecido social da própria Vila de Grândola até à actualidade.

Eixo consistente para a estruturação urbana local, a Igreja de Nossa Senhora da Assunção de Grândola é assim o ponto mais significante da localidade, nele reservando toda a informação relevante para compreendermos o que foi a História daquele local.

As Casas da Câmara de Grândola

João Aníbal Henriques, 15.09.22

 

por João Aníbal Henriques

No Século XVI a região de Grândola conheceu um período de crescimento sem par. Os bons anos agrícolas, transfigurados em colheitas de grande potencial, significaram fartura nos índices de produção locais. E o excesso, suprindo de forma cabal as necessidades alimentícias da população, foram escoadas para o mercado, rentabilizando assim a energia despendida no trabalho e reforçando o valor estratégico de toda a região.

Em 1544, a povoação recebeu a sua Carta de Foral, criando assim as bases da sua autonomia administrativa e, por consequência, todas as obrigações e responsabilidades que normalmente correspondiam aos municípios.

 

 

Este esforço, necessário para enfrentar os vários desafios políticos e económicos que acompanharam o crescimento e consolidação da estrutura municipal, exigiam infraestruturas de que a terra não estava dotada. E, para fazer face a essas necessidades, recebeu o município as devidas autorizações para iniciar a construção de raiz de um complexo que fosse capaz de albergar as instalações da Câmara Municipal, as dependências do tribunal e, no seu piso térreo, prisões masculinas e femininas, acompanhadas por habitação para albergar o carcereiro.

Assim, depois de muitos esforços para conseguir recolher os valores necessários para esse avultado investimento, iniciaram-se em 1725 as obras de construção das novas Casas da Câmara que, sem a monumentalidade de outros edifícios congéneres situados noutros concelhos, são bem demonstrativos da periclitante situação em que sempre viveu este município alentejano. A pouca qualidade dos materiais utilizados, e o carácter precário da obra de construção, obrigou à realização de várias obras de manutenção e requalificação ao longo do tempo.

 

 

E em 1755, quando o Grande Terramoto abalou de sobremaneira a estrutura construída da localidade, o edifício ficou profundamente danificado, gerando nova necessidade de recolha de dinheiro para fazer face às imensas despesas de recuperação. É nessa altura que a Coroa assume uma quota-parte das mesmas e, para viabilizar a intervenção urgente que era necessário fazer na construção, oferece ao município a quantia de 664.397 Réis, quantia com a qual se realizou a intervenção e que recuperou o edifício.

Depois de a câmara ter crescido e consolidado a sua importância no contexto municipal alentejano, já em pleno Século XX, o município arrendou outro espaço para instalar os serviços municipais. E as velhas Casas da Câmara, mercê do restauro da Comarca de Grândola, em 1919, foram cedidas para a instalação do tão almejado tribunal.

Pelas suas características urbanas e pelo desenho extraordinário das suas ruas, a Vila de Grândola é hoje um ex-libris da História do Alentejo. E se o final do Século XX lhe consolidou as memórias, sobretudo acentuadas pela ligação perene do município às alterações impostas pela revolução, trouxe também a Grândola um cunho de serenidade que se impôs na paisagem envolvente, transformando-a numa das mais atractivas de Portugal.

Miguel Pinto Luz Empossado como Académico da ALA – Academia de Letras e Artes

João Aníbal Henriques, 09.09.22

 

O Engº. Miguel Pinto Luz, Vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais, foi empossado como académico da ALA – Academia de Letras e Artes. O recém-empossado, como formação académica nas áreas da engenharia informática e da liderança, tem-se dedicado a estudar aprofundadamente as estruturas de suporte à sociedade do futuro. É essa área, aliás, que deu mote ao seu mais recente livro, no qual aborda caminhos transversais que garantam um futuro coeso e sustentável em Portugal, alicerçado no seu trabalho enquanto autarca no Concelho de Cascais. A mobilidade urbana, associada à coesão territorial é pedra angular na construção de uma sociedade mais justa e plena, oferecendo a todos os cidadãos as ferramentas necessárias para que se garanta o acesso a níveis de qualidade de vida que sejam sinónimo de felicidade.  No dicurso de apresentação a Academia de Letras e Artes sublinhou a expectativa de poder contar com o contributo crítico e empreendedor de Miguel Pinto Luz para reforçar a sua capacidade de intervenção no panorama social e cultural da comunidade. Nesta cerimónia tomaram ainda posse como novos académicos da ALA o Dr. Pedro Gomes Sanches, a Drª. Júlia Nery, a Drª. Dulce Rodrigues e o Dr. Bonifácio Ricardo José.