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Miguel Pinto Luz Empossado como Académico da ALA – Academia de Letras e Artes

João Aníbal Henriques, 09.09.22

 

O Engº. Miguel Pinto Luz, Vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais, foi empossado como académico da ALA – Academia de Letras e Artes. O recém-empossado, como formação académica nas áreas da engenharia informática e da liderança, tem-se dedicado a estudar aprofundadamente as estruturas de suporte à sociedade do futuro. É essa área, aliás, que deu mote ao seu mais recente livro, no qual aborda caminhos transversais que garantam um futuro coeso e sustentável em Portugal, alicerçado no seu trabalho enquanto autarca no Concelho de Cascais. A mobilidade urbana, associada à coesão territorial é pedra angular na construção de uma sociedade mais justa e plena, oferecendo a todos os cidadãos as ferramentas necessárias para que se garanta o acesso a níveis de qualidade de vida que sejam sinónimo de felicidade.  No dicurso de apresentação a Academia de Letras e Artes sublinhou a expectativa de poder contar com o contributo crítico e empreendedor de Miguel Pinto Luz para reforçar a sua capacidade de intervenção no panorama social e cultural da comunidade. Nesta cerimónia tomaram ainda posse como novos académicos da ALA o Dr. Pedro Gomes Sanches, a Drª. Júlia Nery, a Drª. Dulce Rodrigues e o Dr. Bonifácio Ricardo José.

 

 
 
 
 

 

 

Joaquim António Pereira Baraona (1930-2018)

João Aníbal Henriques, 30.03.20

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por João Aníbal Henriques
 
Agitador de massas, de consciências e de paradigmas, Joaquim António Pereira Baraona, nascido em Ourique, no Alentejo, no ano de 1930 e falecido em Cascais em 2018, foi uma das figuras mais marcantes e controversas da História recente de Portugal.
 
Enorme, na sua capacidade de compreender o Mundo e os Homens e de se entregar sem pejo na luta convicta pela justiça e pelos valores que vivia de forma justificante e plena, era simultaneamente humilde na relação com todos aqueles que ele sabia que viviam de acordo com os princípios que sempre nortearam a sua existência.
 
O Comendador Joaquim Baraona nunca deixou ninguém indiferente nos locais por onde passou. E, gerando de forma desconexa uma multiplicidade de amores e ódios que determinaram a sua passagem pela Terra, deixou atrás de si um rasto pujante e pleno de significado, que se multiplica e multiplicará durante séculos de forma exponencial na medida em que muito do que fez e defendeu teve, tem e terá repercussões duradouras na vida de muita gente e que se estenderá por várias gerações.
 
Logo desde muito jovem, quando na Vila de Ourique aprendia as primeiras letras, Joaquim Baraona deixou nota da sua diferença. 
 
Oriundo de uma família ligada ao pequeno comércio local e à exploração agrícola das terras, empenhou-se com muito sucesso na generalidade das poucas iniciativas de âmbito social que existiam naquela região nessa altura. Da Mocidade Portuguesa à Banda de Música Local, Baraona foi sempre figura de destaque nos locais por onde passou. E tal facto, contrariamente ao que dita a mediocridade da História, não resultou de grandes feitos e de enormes iniciativas, até porque a sua tenra idade nessa época impediria tal forma de estar e esse alcance normativo. Veio precisamente do facto de ele ser figura diferente no devir social e anímico da sua terra, tendo assim construído e reforçado a personalidade que o caracterizou até ao final da sua vida.
 

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Sempre preocupado com o bem-estar de quem o rodeava, e com a sua capacidade de contribuir para o sustento dos seus, logo desde muito jovem foi um empreendedor nato, tendo trabalhado arduamente na criação de riqueza em todos os locais por onde passava.
 
Na sua biografia “A Montanha” publicada quando comemorou o 70º aniversário, dizia-se que ainda em criança comprava fruta pelos pomares dos arredores de Ourique, que revendia com lucro no centro de vila, melhorando a vida de quem lhe comprava os seus produtos e também de quem, com esta sua capacidade empreendedora, acabava por ser contributo inestimável na venda desses produtos e no alargamento dos muito escassos mercados dessa época. E era uma criança somente quem assim pensava e fazia, num ímpeto de construir e de criar que nunca o largou até ao fim.
 
E nas terras do seu pai, cumprindo os afazeres que os progenitores lhe encomendavam de acompanhar os trabalhos agrícolas que gente assalariada era paga para realizar, nunca ninguém o viu de braços cruzados dando ordens conforme seria de esperar. Desde cedo, chegando sempre antes dos outros e sendo o último a largar o trabalho, campeava lado-a-lado com quem trabalhava, endurecendo as mãos e o espírito e reforçando de forma inequívoca os valores e os princípios que tão importantes serão nos episódios rocambolescos que deram forma à sua História pessoal.
 
Durante a pujança da sua juventude, Joaquim Baraona foi consubstanciando as suas potencialidades e amadurecendo o espírito, de uma forma tão sentida que, nas descrições que dele fazem os seus contemporâneos, surge envolvido por uma aura de concretizador sem par, que o há-de acompanhar ao longo dos anos. 
 
Quando se mudou para Cascais, num acto de entrega total e absoluta e de adopção assumida de um novo destino que escolheu para corporizar a vida adulta, fê-lo novamente de Alma e Coração, multiplicando de forma abissal a sua lógica de concretizadora e deixando um legado de tal forma impactante que as próximas gerações nunca o conseguirão esquecer.
 

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Na terra de adopção, enquanto consolidava a sua família recém constituída, Joaquim Baraona trabalhou afincadamente em vários projectos em simultâneo e, mais uma vez, os frutos do seu empenho foram de tal maneira fortes que alterou por completo a praxis social do seu local de residência.
 
Da Conservatória do Registo Predial, onde desempenhou funções desde muito novo mas sempre com uma capacidade de criar que fazia toda a diferença, até às instituições sociais da localidade, como a Paróquia de Cascais, a Santa Casa da Misericórdia e as muitas academias e tertúlias culturais que o Cascais de então ainda conseguia ter, Baraona recriou rotinas e dinâmicas, instituiu novos procedimentos e gerou projectos-sobre-projectos num ímpeto de criação de transformou as ditas instituições e as pessoas que com ele participavam nos seus muitos projectos.
 
E, para além dos grandes empreendimentos de vulto e circunstância que lhe granjearam o reconhecimento público e a notoriedade que se prolongou durante a vida inteira, Joaquim Baraona interessou-se, participou, empenhou-se e trabalhou de forma incessante em centenas de pequenos projectos pessoais, em ajudas a todos quantos lho pediam e no apoio desmesurado a incontáveis instituições de visibilidade nula, dos quais quase ninguém ouviu falar, dos quais não ganhava nenhuma fama, mas que alteraram de forma brutal a vida de muita gente…
 
Nesta sua faceta menos conhecida, na linha de benemérito e de benfeitor recatado, foi sempre o mais discreto dos intervenientes, zangando-se mesmo quando aqueles a quem ajudava, por entenderem que ao reconhecerem a sua ajuda estavam a reforçar a gratidão que sentiam por ele, tornavam públicos os actos de grande abnegação e humanismo que só ele tinha capacidade de empreender. 
 
Em termos da sua vida pública, são conhecidos e reconhecidos os projectos enormes em que se envolveu. Bairros sociais construídos de raiz; um novo, moderno e pujante hospital distrital pelo qual a vila ansiava há tantos anos; uma praça de toiros construída a partir da conjugação do trabalho empenhado e da dedicação comunitária de milhares de Cascalenses; a maternidade na qual nasceram sucessivas gerações de Cascalenses; jornais e revistas; colectividades; e tantas estátuas, monumentos, escolas, academias e associações que nasceram pela sua mão e com a ajuda dele…
 

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Não existem palavras no léxico Português onde caiba a obra e o legado do Comendador Joaquim Baraona. Porque ela, sendo reconhecidamente enorme na parte pública, era incomensuravelmente maior na componente que poucos tiveram a sorte de conhecer.
 
A grandiosidade do seu trabalho, trilhando caminhos quase sempre improváveis mas sempre marcados pelo ferro do bem-fazer, espraiaram-se por áreas das quais a sua obra transpira quotidianamente. Baraona foi erudito, escritor, diplomata, político, empresário, benfeitor e tantas outras coisas onde expressou a profundidade da sua excelência. 
 
E, quando foi agraciado pela Presidência da República com a condecoração máxima que existe para a área da benemerência, recebeu os louros do seu trabalho perante uma multidão que todos os dias, na sua vida pública e privada, vivia e usufruía dos resultados de tudo quanto ele estava a fazer.
 
Dias depois, quando a revolução aconteceu, foram muitos aqueles que correram de imediato a defendê-lo. E ao contrário do que seria expectável, até porque na vida de Joaquim Baraona nunca nada foi aquilo que seria de esperar que se supusesse acontecer, os meses seguintes àquela mudança destruturante na vida de Portugal, foram de continuidade e de luta constante para que o universo dos Portugueses não se desmoronasse e para salvar postos de trabalho, ensejo e projectos. Contou nessa altura com o apoio de quase todos os que estavam há muito tempo ao seu lado mas, na força maior da raiva e da inveja, outros houve que não foram capazes ou quiseram honrar os compromissos e as dívidas de vida que com eles haviam contraído e que, de forma fácil e com o apoio dos novos poderes emergentes, num registo de injustiça atroz e de um desprezo que Ser Humano algum merece sofrer, ousaram apunhalar a sua confiança e sacar da sua posse os instrumentos de que ele necessitava para se defender.
 
E Baraona surpreendeu novamente. 
 
Perseguido pelo bem que tinha feito e sofrendo injúrias e as mentiras que uns poucos usaram para toldar a rectidão da sua vida e a dedicação a tantos projectos, teve de salvar os filhos ainda menores e de encontrar um caminho alternativo que os salvaguardasse do sofrimento causado por motivos que ainda nem sequer tinham capacidade de perceber. Rumou para o Brasil, para onde seguiu praticamente sem nada, deixando para trás a casa, os bens pessoais, as memórias da sua vida e o legado dos seus pais. Levava consigo a Alma Grande de Português e a força avassaladora de quem tem a convicção de que esteja onde estiver a força da sua determinação impõe-se a qualquer vicissitude conjuntural que possa surgir.
 

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No Brasil repetiu tudo aquilo que fez durante a infância em Ourique e durante o tempo em que trabalhou em Cascais. Construiu projectos inovadores, arrasou com uma visão estratégica fulminante e mudou a face e o rumo do Estado do Espírito-Santo que o recebeu de forma esfusiante por nele ver uma perspectiva de futuro total e radicalmente diferente. Em Vitória moveu montanhas, criou um resort turístico de fama mundial e dirigiu uma operação sem precedentes de plantio de videiras e de produção do que ele chamava “o melhor do vinho Português”. Criou empregos, gerou riqueza, mudou uma vez mais a vida de muita gente.
 
No meio desse processo, quando o espectro melindroso dos efeitos da revolução começava a dissipar-se em terras de vera gente, foi contactado pelo novo Estado e, sondado acerca de um qualquer natural rancor que pudesse ter depois de tudo aquilo que de terrível lhe haviam feito em Portugal, de imediato se dispôs a abraçar a causa de sempre e, com Portugal no peito, logo se transformou no mais pujante e dinâmico pilar das pontes diplomáticas a estabelecer entre a democracia nascente e o potencialmente brilhante Brasil que estava então a renascer.
 
Contra tudo e contra todas as expectativas criadas por aqueles que miseravelmente e de forma cobarde o tinham atacado, geminou cidades e gerou irmãos, recriou vínculos e laços fraternos entre academias e associações sedeadas em ambos os lados do Atlântico, e fomentou negócios e dinâmicas empresariais que muito contribuíram para a afirmação de Portugal no Mundo com o denodo que só ele sabia ter. 
 
Foi generoso acima do que seria expectável. Foi generoso com aqueles que o apoiaram e com aqueles que o atacaram. Olhou sempre de cima para o lodo da sociedade e impôs-se pela ligeireza com que regia os ódios, as implicâncias, as maledicências e as invejas mesquinhas que a sociedade humana tem grande dificuldade de ultrapassar e esquecer. Soube, porque era figura maior do que os pequenos personagens com quem se cruzou na vida toda, virar a página e abraçar Portugal como causa sua, continuando, praticamente até ao último dia, a trabalhar a favor de toda a gente.
 
Quem teve a sorte de o conhecer bem recorda a sua boa-disposição, a educação primorosa, o saber estar e o saber fazer e, acima de tudo, o carácter implacável perante a ignomínia e a falsidade. Era irredutível em tudo o que dizia respeito ao desleixo, ao desinteresse à incúria e à falta de rigor. E isso gerou-lhe amores e ódios que foram marcantes ao longo de toda a vida.
 
Em Cascais, tudo transborda à obra de Joaquim Baraona. Ele está em cada canto e recanto, em cada esquina e nos pequenos e grandes pormenores das ruas, das casas e das instituições de Cascais. 
 

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Quando inaugurou aquele que seria o mais moderno e inovador hospital Português, numa Vila de Cascais que ansiava pelo mesmo há muitas décadas e que sempre se mostrou incapaz do o desenvolver, logo se deparou com outros projectos e ideias que marcaram a vida da comunidade e que mostram bem a fibra que sempre teve. 
 
Numa entrevista concedida em 1970 ao jornal “A Nossa Terra” o (demasiado) jovem Provedor Joaquim Baraona promete iniciar de imediato as obras de remodelação do velho hospital e dotá-lo da mais moderna tecnologia existente nessa época, num ímpeto de ousadia que não deixou indiferentes os poderes instituídos de então. Considerando que o que existia não era compatível com a vocação turística que Cascais vivia, Baraona menciona os avanços técnicos e científicos que a medicina havia alcançado e refere como exemplo uma máquina denominada “auto-analizer”, existente em vários hospitais Norte-Americanos que era considerada um dos mais revolucionários equipamentos do seu tempo. E, perante a estupefacção do repórter que o entrevistava, desde logo promete que o Hospital de Cascais seria o primeiro a tê-lo em Portugal!
 

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E assim o fez! Procedendo a angariações de fundos e à captação de investimentos, o jovem provedor consegue rapidamente obter os meios para proceder à reconstrução do hospital, para o equipar com as mais modernas tecnologias e com o dito “auto-analizer” que de imediato adquiriu nos Estados Unidos.
 
Mas levantava-se um problema prático que o previdente provedor não tinha conseguido prever: o hospital era demasiadamente pequeno e não existia espaço físico onde se pudesse colocar este equipamento!
 
Mas Joaquim Baraona não desistiu. Procurando em redor do hospital espaços vazios onde fosse possível construir as instalações para montar o tão desejado “auto-analizer” encontra ali mesmo ao lado, num terreno que pertencia ao Estado e que se encontrava ocupado por um edifício onde tinha funcionado há algum tempo um posto de apoio à tuberculose, a tão desejada solução para o seu problema. Mas surpreendentemente foi muito mais fácil encontrar os meios para adquirir o equipamento do que obter as autorizações governamentais para o instalar no edifício devoluto já existente…
 
E uma vez mais Joaquim Baraona não esmoreceu. Com o apoio unânime da Mesa Administrativa da Misericórdia, o jovem provedor dirigiu-se ao prédio devoluto, arrombou a porta oficialmente selada e iniciou de imediato a instalação do equipamento. Como seria de esperar, as vozes críticas de sempre logo se levantaram e as ameaças surgiram imediatamente. Mas Baraona sabia que o espaço continuava legitimamente no domínio público e assim concretizou sem mais atrasos o seu projecto que contribuiu de forma imediata para uma melhoria significativa dos serviços médicos do hospital e que foi responsável pela vida de milhares de Cascalenses. O novo hospital foi inaugurado em Abril de 1974, dias antes da revolução, com a presença do Presidente da República e das mais altas individualidades do Estado e da sociedade desta terra. 
 
Teria sido impossível com outra pessoa qualquer! Com outro provedor é mais do que certo que ainda hoje teríamos o “auto-analizer” por estrear e guardado numa arrecadação qualquer. Mas a coragem e a determinação de Joaquim Baraona foi essencial na defesa dos interesses legítimos de Cascais e dos Cascalenses, resultando numa benfeitoria que funcionou até 2010…
 

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Quando partiu em 2018, o Comendador Joaquim Baraona deixou atrás de si um vazio difícil (senão impossível) de preencher. Diz-se que não existe ninguém insubstituível e que o ritmo da vida impõe que alguns partam e deixem o espaço para outros fazerem e brilharem também. Mas isso não se aplica com Joaquim Baraona. O espaço que ficou, num registo que era só dele, vai ficar vazio para sempre. Infelizmente.
 
Na grandeza do seu desapego e na coragem única que usava para enfrentar os problemas, foi figura de tal forma grande que cobria com o manto do desinteresse os pequenos personagens que nem sequer o conseguiam perceber. 
 
Era o Senhor Comendador. Era pai, amigo e companheiro. Era mestre e professor. Era uma figura de tal maneira grande que qualquer homenagem que se lhe queira fazer ficará sempre aquém da realidade efectiva com que viveu.
 
Que descanse em paz. Porque por cá, ninguém o vai esquecer. 
 
Obrigado Comendador. 

Carlos Antero Ferreira (1932-2017) - A Genialidade dos Afectos na Portugalidade

João Aníbal Henriques, 17.01.17

 

 
Com 84 anos e idade, faleceu esta semana uma figura ímpar da Portugalidade. Carlos Antero Ferreira, Arquitecto, Professor e Poeta, era Académico Honorário da Academia de Letras e Artes e desempenhava ilustremente funções como Presidente da Assembleia Geral desta instituição.
 
Na sua dimensão material, o Ser Humano vive constrangido pelo binómio espácio-temporal que determina a sua existência. O nascimento, a vida e a morte, num desígnio inexorável que traga todos da mesma maneira, caracterizam a existência do comum cidadão, cuja vida se esgota num determinado lugar e num determinado tempo.
 
Mas existem alguns que, pela genialidade da sua existência, conseguem transcender o espaço e o tempo, alcançado uma imortalidade que os perpetua na sociedade de forma transversal e que estende a sua influência ao longo das eras.
 
Foi o caso do Professor Arquitecto Carlos Antero Ferreira.
 
Num exercício permanente de genialidade, carregava consigo uma erudição sem limites. Mas, ao contrário do que acontece com outros, cuja soberba naturalmente se impõe pela grandiosidade do seu pensamento, impunha a sua existência num plano humanista que o colocava naturalmente ao nível da comunidade onde sempre foi tão importante. Sendo o primeiro pela dimensão e excelência do seu trabalho, partilhava naturalmente com os seus amigos e colegas a sublimidade de um artista que só a imensa maturidade do seu génio pode explicar, augurando uma sensibilidade única que transpirava no contacto pessoal, nos livros que escreveu, nas conferências que proferiu e nos imensos desafios profissionais que dele fizeram uma das grandes personalidades da cultura nacional.
 
Carlos Antero Ferreira, que foi Presidente do Centro Cultural de Belém, Presidente do Instituto Português do Património Cultural, Presidente da Academia Nacional das Belas Artes, Professor Catedrático e fundador da Faculdade de Arquitectura de Lisboa, Director da Sociedade de Geografia de Lisboa, Fundador da National Geographic Society e Senador da Universidade Técnica de Lisboa, de entre muitos outros cargos e funções de um currículo riquíssimo que demonstra o seu pragmatismo e capacidade de fazer, foi sobretudo um dos principais obreiros da Portugalidade, deixando um imenso vazio que dificilmente poderá voltar a encher-se.
 
Ávido de saber e de novos conhecimentos até ao final da sua vida, num exercício pleno do seu carácter de sábio maior que tão bem desempenhou, Antero Ferreira alcançou a sublimidade do seu génio através da poesia e das artes, nas quais se elevou a patamares de excelência inigualáveis, só possíveis pela humildade natural da sua sabedoria e pela permanente vontade de aprender com tudo e com todos.
 
Eterno na grandeza da sua obra e do seu génio, o Professor Antero Ferreira deixa atrás de si uma saudade que ilustra bem o pesar que a sua morte física representa para Portugal e para os Portugueses. 
 
 
 

D. Simão Aranha e o Menino Cascais

João Aníbal Henriques, 23.02.16

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por João Aníbal Henriques

 

D. Simão do Santíssimo Sacramento Pedro Cotta Falcão Aranha de Sousa e Menezes (Cascais 1908-2000) foi a personagem mais importante da sua obra-prima “Cascais Menino”. Não tanto por ter dela feito parte, ao longo das deambulações tantas vezes anacrónicas que vão enchendo estas páginas extraordinárias sobre a sua vila natal, mas mais por terem sido os seus olhos de menino o principal instrumento que utilizou para captar os resquícios mais profundos da Alma de Cascais.

 

Década e meia depois da sua morte, quando em Cascais já são muitos aqueles que nunca se cruzaram com Pedro Falcão nas suas sempre polémicas intervenções em defesa desta terra, é notória a falta que faz o discernimento e a capacidade crítica que o escritor-artista tinha para interpretar a realidade local.

 

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O Cascais onde ele nasceu, cresceu, viveu e morreu é intemporal e, tal ele repetia sistematicamente, mantém-se sempre menino na sua incapacidade de se olhar de frente… é um Cascais que se sente, que se intui e se adivinha, mas que é impossível de descrever. É um Cascais substancialmente maior do que as casas e as ruas, os becos e as vielas, os palacetes e as grandes famílias que neles viveram, ou mesmo que as muitas estórias que dão corpo à sua longa História. É um Cascais que cruza utopia e realidade, esponjando as suas redes mais rudes sobre a mais subliminar e requintada essência. Neste Cascais, que Dom Simão Aranha personifica durante toda a sua vida e que enche a sua obra, reis e pescadores partilham um palco comum onde os dramas e as desventuras da vida caminham lado-a-lado com as alegrias dos vários quotidianos que as eras e os tempos nos vai deixando.

 

Defendia o escritor que o tempo não fazia sentido em Cascais e que as personagens desta terra, as suas casas e as suas vidas se eternizam numa espécie de memória-comum a todos os Cascalenses. Para ele, gente como o pescador João Ruço, o Rei Dom Carlos, o Visconde de Athouguia ou a Menina Mariquinhas, não podem morrer. Porque se assim acontecesse seria sinal de que estava a morrer também aquela aura mística que desde há tanto tempo caracteriza lá fora aquilo que os Cascalenses sentem cá dentro no seu peito. Este é um Cascais riquíssimo de todas as questiúnculas e divergências que compõem o devir diária de uma qualquer povoação Portuguesa, mas também um espaço onde os laços de união fraterna e universal dão corpo a uma comunidade profundamente arreigada e coesa.

 

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O Cascais Menino é o cimento que vai juntando as pedras para formar o edifício onde vivemos. Para eles contribuem todos os que são Cascalenses, independentemente de cá terem nascido ou não, ou de cá terem chegado somente em época recente. Porque para Pedro Falcão o ser Cascalense é uma condição superior ao que está escrito na certidão de nascimento, dependendo muito mais dessa capacidade quase infantil de amar esta terra do que de qualquer outro pressuposto ditado pelos acasos que vamos vivendo. Por isso, existem Cascalenses que somente por cá passam as suas férias, da mesma forma que existem outros cá nascidos, que cá moram e que cá hão-de morrer que nunca alcançaram o epíteto de verdadeiros Cascalenses…

 

No passeio deste Domingo, organizado pela Academia de Letras e Artes e pela Fundação Pedro Falcão e Yanrub, mergulhámos literalmente nos entrefolhos profundos desta Cascalidade que Pedro Falcão nos deixou nas palavras que teve a arte de escrever. E é quase dilacerante a certeza com que ficamos de que ele teve razão naquilo que teve a coragem de defender.

 

Cascais precisa da pureza do olhar de uma criança para ser entendido verdadeiramente. Necessita com avidez de se perder nos conceitos redutores do tempo e do espaço para que, bem alicerçado nos valores únicos que corporizam o seu passado, possa enfrentar estruturadamente o futuro, oferecendo aos Cascalenses a alegria de saberem que fazem parte de um lugar tão especial quanto este.

 

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(Fotografias gentilmente cedidas por João Barata, Manuela Barreto, Tó Cortez, 
João Pedro Amorim e Luís Athouguia)

Vítor Escudero Distinguido com o Orbe Hispânico

João Aníbal Henriques, 11.02.15

 

 

O Chanceler da ALA, Dr. Vítor Escudero, foi distinguido com o galardão “Orbe Hispânico” que reconhece uma vida dedicada ao conhecimento e à cultura e e que é instituído pela Asociación Ibero-Americana de Heráldica y Genealogía Madrid) e pela Consulta Heráldica Ibero-Americana (Sevilha).

Esta honrosa e rara distinção, que vem reforçar o reconhecimento da qualidade científica e do rigor académico do investigador Português, é atribuída pela primeira vez nos últimos 20 anos, facto que reforça o prestígio associado a um prémio tão difícil de alcançar.

Vítor Manuel Escudero de Campos, nascido em Lisboa em 1958, é Membro da Academia Nacional de Belas Artes, da Academia de Letras e Artes (Portugal), da Academia Internacional de Heráldica, da Academia Melitense, da Academia Belgo – Espanhola da História (Espanha), Membro do Núcleo Lusófono da História, da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, e Conselheiro da Administração e Director de Marketing do Grupo Sousa Pedro.

No ano de 2005 o investigador Português já havia sido agraciado por Sua Majestade o Rei de Espanha que lhe concedeu a "Cruz de Oficial de la Orden de Mérito Civil", tendo ainda os seus méritos e trabalhos reconhecidos em 2007, principalmente na defesa, divulgação e engrandecimento das relações culturais ibéricas, através da atribuição do Prémio Nacional de Estudos Hispânicos