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cascalenses

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A Magnífica Igreja da Ressurreição de Cristo em Cascais

João Aníbal Henriques, 29.11.23

 

por João Aníbal Henriques

Situada no preciso local onde actualmente se encontra a estação de comboios, existiu até ao grande terramoto de 1755, uma das mais magníficas igrejas de Cascais. Cabeça da freguesia da Ressurreição de Cristo, que se estendia até à margem Nascente da vetusta Ribeira das Vinhas, a freguesia congregava os mais abastados cascalenses da sua época.

Dedicada à Ressurreição de Jesus Cristo, a igreja matriz possuía nove altares que davam forma à sua nave central: Santa Bárbara, Nossa Senhora da Purificação, São Francisco, Santo André, Nossa Senhora da Vitória, Nossa Senhora de Guadalupe, Santiago Apóstolo, Nossa Senhora dos Remédios e Senhor Jesus.

Na manhã de 1 de Novembro de 1755 o terrível Terramoto de Lisboa destruiu-a por completo, gerando um cenário de ruína que o prior de então entendia ser irrecuperável, tal como se pode ler nas “Memórias Paroquiais” que dão conta da amplitude da catástrofe.  

Mesmo assim, na pobreza extrema em que viviam nessa altura terrível, os pescadores de Cascais ainda se quotizaram para recuperar a sua igreja. Mas infelizmente não foi possível concretizar esse seu sonho e a velha igreja transformou-se numa mera recordação que perdurou ao longo de muitas gerações na memória colectiva dos cascalenses.

Convite para a Apresentação do Livro "O Outro Cascais" de João Aníbal Henriques

João Aníbal Henriques, 23.10.23
 

CONVITE

A Fundação Cascais, no âmbito do seu 30º Aniversário, com o alto patrocínio da Câmara Municipal de Cascais, vem convidar V. Exa. para a sessão de apresentação do livro "O OUTRO CASCAIS 30 Anos da Sociedade Civil e a Fundação Cascais" da autoria de João Aníbal Henriques que terá lugar no próximo dia 4 de Novembro, pelas 18:00h, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Cascais, na Praça 5 de Outubro 1, 2750-320 Cascais

Papa Francisco em Cascais

João Aníbal Henriques, 04.08.23
 

por João Aníbal Henriques

As palavras não chegam para traduzir a profunda emoção sentida por centenas de milhares de Cascalenses que encheram as ruas da vila para receber o Papa Francisco na sua visita a Cascais. Dois mil anos depois e pela primeira vez na nossa terra, um Papa pisou o território de Cascais trazendo consigo uma mensagem de profundo significado para este Mundo em profunda convulsão. Foi uma visita que recriou a verbalidade dos tempos, pois tendo decorrido no presente, já era, ainda antes de acontecer, um pedaço da nossa história, reformatando a memória e a própria identidade de Cascais. Ficam as imagens possíveis, porque a história faz-se por si própria, entranhada que ficou no pensamento mais profundo do povo de Cascais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
(fotografias da CMC)

 

A Invasão Espanhola a Cascais

João Aníbal Henriques, 30.07.23
 

por João Aníbal Henriques

Há precisamente 443 anos, Cascais participou num dos mais negros episódios da História de Portugal. No dia 27 de Julho de 1580, o comandante das tropas espanholas encarregue por Filipe II de Espanha de invadir Portugal, decidiu concretizar o seu plano de ataque a Lisboa por terra, desembarcando as suas tropas na Laje do Ramil, junto ao Farol da Guia, com o apoio expresso de D. António de Castro, Conde de Monsanto e Senhor de Cascais, que havia traído a Causa Nacional e apoiado o invasor. Dada a disparidade de forças, o pequeno reduto de portugueses que defendia Portugal logo percebeu qual seria o desfecho previsível da contenda. Mas, liderado pelo herói Dom Diogo de Meneses, preferiu entregar corajosamente a sua vida a entregar ignobilmente a bandeira nacional. A invasão aconteceu no dia 29 de Julho e D. Diogo de Meneses foi barbaramente executado pelos espanhóis na Fortaleza de Cascais no dia 2 de Agosto, sacrificando-se para salvar a honra de Cascais e de Portugal. Inspiremo-nos na sua memória!

 


 

 

O Leão Rampante do Sporting Clube de Portugal Nasceu em Cascais

João Aníbal Henriques, 05.06.23

por João Aníbal Henriques

Esta é a história do “Leão Rampante” que é o símbolo do Sporting Clube de Portugal e que, num passeio pela Parada de Cascais, o Visconde de Alvalade repescou da heráldica de Dom Fernando de Castello-Branco (Pombeiro) – Presidente da Câmara Municipal de Cascais e principal promotor do football no Sporting Clube da Parada. Ou seja, o nome, o símbolo e até a cor do Sporting actual nasceram desta história que quase ninguém conhece e que se passou em Cascais… Nessa conversa havida em Cascais, o Dom Fernando terá autorizado o Visconde de Alvalade a utilizar o seu leão como símbolo do novo clube mas pediu-lhe que, para o diferenciar do sporting Clube da Parada de Cascais, cuja cor era o azul, utilizasse o verde como cor oficial.

Vale a pena conhecer a fundo esta história que nos transporta à génese do actual Museu do Mar para perceber a real importância deste espaço para a definição do que é hoje o desporto em Portugal:

 

VEJA AQUI 

 

O Segredo da Casa Real Inglesa em Cascais

João Aníbal Henriques, 26.05.23

 

por João Aníbal Henriques

Existem sempre ‘ses’ quando analisamos a História. Se tudo se tivesse passado de outra forma; se as decisões tivessem sido diferentes; se os acontecimentos se tivessem concretizado de outra maneira… tudo teria sido diferente.

Mas em Cascais, desde sempre palco privilegiado para a criação dos cenários que dão forma à História e ao Mundo, concentram-se grandes episódios que marcaram de forma decisiva os destinos da Europa e da própria humanidade.

Um dos mais desconhecidos, até pela susceptibilidade que lhe estava associada na época estranha em que aconteceu, aconteceu na Casa da família Espírito Santo, onde o cenário idílico em plena Enseada de Santa Marta enquadrou vários episódios rocambolescos que se tivessem ocorrido de outra forma teriam condicionado de sobremaneira a História do Mundo.

 

 

Durante a II Guerra Mundial, contrastando de forma aparente com a neutralidade assumida pelo Estado Português, Cascais e os Estoris foram palco de grandes movimentações nas áreas da espionagem e da contra-espionagem que alteraram de forma radical o rumo da guerra e, por consequência, o Mundo em que actualmente vivemos.

Em 1939, logo no início da guerra, chega ao Estoril o chefe SS Walter Schellenberg a quem a Gestapo havia incumbido com a muito difícil missão de dirigir os serviços secretos alemães no estrangeiro. No Estoril, para evitar percalços de maior com a presença do antigo Rei Inglês Eduardo VIII, que esteve alojado com a sua mulher na casa do banqueiro Ricardo Espírito Santo (que o MI16 registou como sendo agente alemão) junto à Boca do Inferno, em Cascais, o plano era de raptar os Duques de Windsor e de os remeter para um outro país onde a presença dos serviços ingleses fosse menos relevante e no qual as forças germanófilas pudessem ter um controle efectivo sobre as suas actividades, na perspectiva de uma eventual invasão alemã ao Reino Unido e a colocação no trono do antigo monarca cuja simpatia pela causa nazi era pública e reconhecida.

 

 

Para cumprir esta missão que os serviços secretos alemãoes designaram como “Operação Willi”, Schellenberg recebeu ordens directas e precisas do próprio Joachim von Ribbentrop, Ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, para acompanhar o monarca deposto num dia de caçada em território português e para garantir que durante a actividade os Duques seriam raptados pelos espiões alemães e levados em segredo para outro lugar.

No entanto, devido ao conhecimento que havia acumulado nas muitas missões de espionagem perpectradas no Estoril, Walter Schellenberg opta por alterar os planos, permitindo que Eduardo VIII e Wallis Simpson tivessem partido sob orientação de Winston Churchill para as Bahamas alterando assim em definitivo o papel desempenhado pelos ingleses no decurso da guerra e determinando muito provavelmente o desfecho da mesma a favor dos aliados.

O palco onde tudo isto se passou, montado sobre cenários inesperados, contraditórios e tantas vezes inebriantes, foi o triângulo estorilense que compreendia o Hotel Miramar, o Hotel Palácio e o Casino Estoril, provavelmente o único lugar no Mundo onde em pleno fulgor da guerra seria possível manter-se tão profícua e apaixonante actividade por parte de ambos os partidos envolvidos na guerra.

 

 

Se tudo tivesse acontecido de outra maneira, Eduardo VIII teria regressado ao trono britânico sob a tutela do III Reich e, muito provavelmente, o desfecho da II Guerra Mundial teria sido muito diferente.

O segredo que este recanto encantado teima em guardar, é assim motivo maior para percebermos a importância que Cascais teve e tem na definição dos rumos que o Mundo vai tomando. Ali, onde as velhas lendas locais se cruzam com os factos mais inusitados da História de Portugal, se definiu o rumo que determinou a existência do Mundo em que hoje vivemos.

Veja AQUI este segredo de Cascais:

O Caminho do Silêncio na Ermida de São Saturnino da Peninha

João Aníbal Henriques, 22.05.23
 
por João Aníbal Henriques
 
Na busca incessante dos trilhos mais significantes de Alcabideche, urge desvendar aquela que é uma das mais impactantes lendas da freguesia. Saída directamente da encruzilhada que junto à Biscaia liga o Caminho das Almas à encosta de São Saturnino, a Poente da Ermida de Nossa Senhora da Peninha, a lenda que corporiza este espaço traduz na sua essência a amplitude milenar das convicções e das crenças de sempre dos Cascalenses. 
 
A subida desta encosta, atravessando o caminho de pé posto que começa nas Almoínhas Velhas e se estende até ao que resta do velho palacete ali construído por António Carvalho Monteiro, o conhecido “Monteiro dos Milhões” que viveu na Quinta da Regaleira e que, do alto da sua iniciação, traduzia na matéria os valores espirituais mais relevantes da Portugalidade, faz-se por entre o exotismo de uma flora artificialmente disposta como se de um cenário se tratasse, propiciadora, por seu turno, de uma fauna pujante que não deixa indiferente quem tem a sorte de por ali poder passear. 
 
 

 

 
Reza a lenda que, algures durante o reinado de Dom João III, uma pastorinha muda e esfomeada nascida na localidade das Almoínhas Velhas (Malveira-da-Serra, Cascais), terá subido à Serra de Sintra com o seu rebanho onde encontrou Nossa Senhora. A figura com a qual falou, respondendo ao seu anseio de alimentos para si e para a sua família, disse-lhe para regressar a casa e abrir uma determinada arca onde encontraria o pão de que necessitava. Correndo de regresso para casa, a pastorinha recuperou a voz e indicou à sua mãe onde encontrar o tão almejado alimento. A velha imagem tosca de Nossa Senhora da Penha, colocada na arca, terá sido então exposta para veneração na velha Capela de São Saturnino, situada a poucos metros do local da aparição. Mas, teimosa, saia subrepticiamente do altar onde a colocavam e reaparecia no cimo dos rochedos situados atrás do templo. Tantas vezes se repetiu a travessura que se construiu em sua honra a capela actual no topo do monte da peninha. 
 
Não se sabendo exactamente quando tudo isto aconteceu, e havendo várias notícias da existência de edifícios que precederam aquele que actualmente ali se encontra, sabe-se, no entanto, que a Capela de Nossa Senhora da Peninha terá sido construída por um tal Pedro da Conceição, que tinha na altura somente 28 anos, e que se encontra sepultado junto ao monumento. Nas inscrições lapidares de Sintra, vem descrita a indicação que se encontra na sepultura do fundador, dizendo que ali jaz o Ermitão Pedro da Conceição, falecido em 18 de Setembro de 1726, e que pede a todos os que por ali passem um Padre Nosso e uma Avé Maria pela Alma dos seus benfeitores. Numa das paredes do templo, existe uma segunda lápide confirmando a identidade do construtor original e afirmando que a obra foi efectuada em 1690. Sendo muitos e rocambolescos os episódios pelos quais passou o singelo templo Sintriano, o certo é que foi alvo de muitas obras de construção e reconstrução que lhe conferiram o aspecto que hoje conhecemos. Sabe-se ainda que no final do Século XIX, em 1892, a Peninha é comprada pelo Conde da Almedina que em 1918 a revende a António Augusto Carvalho Monteiro. 
 
 

 

 
O empreendedor e filósofo espiritualista, como ficou conhecido o construtor da Quinta da Regaleira, situada junto à Vila de Sintra, era na altura um dos mais conhecidos e ricos empresários lisboetas, com investimentos variados na banca de então que, do alto da sua prosperidade, adquire uma visão ecléctica do Mundo e das suas gentes. Profundamente místico e grande conhecedor de tudo aquilo que dizia respeito ao destino de Portugal, Carvalho Monteiro pauta a sua vida por um conjunto de valores e de princípios que, apesar da distância que o separa do antigo Ermitão Pedro da Conceição, lhe são muito próximos e semelhantes. Adossado às penhas que sustentam a capela, o proprietário prepara a construção de um palácio onde pretendia passar temporadas em meditação e em recolhimento. 
 
Projectado por Júlio da Fonseca em 1920, o palácio fica por acabar mercê da morte de Carvalho Monteiro, tendo posteriormente sido adquirido pelo advogado José Rangel de Sampaio que concluiu as obras e legou o palácio em testamento à Universidade de Coimbra Em 1991, pela importância de 90.000 contos, o imóvel é adquirido pelo Estado Português, através dos Serviços de Parques e Conservação da Natureza, que efectuou algumas obras de restauro e conservação. 
 
A Poente da Capela de Nossa Senhora da Peninha, subsiste em forma de ruína avançada, o que resta da velhinha Ermida de São Saturnino, originária do Século XII, e cuja importância em termos patrimoniais contrasta de forma evidente com a incúria em que tem sido deixada. O conjunto patrimonial da Peninha, composto pela Capela, pelo palácio de Carvalho Monteiro e pela velha Ermida de São Saturnino, está inserido numa das mais impactantes paisagens da Região de Lisboa, abraçando em termos visuais desde a Ponte Sobre o Tejo, em Lisboa, até ao Cabo da Roca. A singeleza da lenda, apelando aos sentidos de pureza primordial e fazendo a apologia da pobreza extrema e abnegada, enquadra-se no conjunto ritualístico próprio da Serra de Sintra, numa lógica cruzada de paganismo cristianizado e de apelo constante ao Quinto Império Português. 
 
 
 
 
A devoção pela Senhora que concebe, a Senhora da Conceição que tão linearmente devolve à pastorinha das Almoínhas Velhas (ou Almas velhas), a sua voz e lhe mata a fome, é concretizada pelo Ermitão, ou seja, pelo que assume a pobreza como fio condutor da sua vida, Pedro da Conceição, em ligação permanente ao culto ritual antigo. Na Ermida Medieval, onde o culto é de São Saturnino, a linha orientadora é a mesma, apelando ao eterno retorno e ao culto obscurecido dos Mundos Internos, numa lógica que corre em linha com o útero materno, a Deusa-Mãe primordial, por aqui venerada desde tempos imemoriais. Enfim… Nossa Senhora da Conceição. Os trilhos da Conceição, muito comuns através de todo o território municipal de Cascais, ganham uma importância acrescida e redobrada na área actualmente incluída na Freguesia de Alcabideche. 
 
Os mananciais de água que descem da serra em direcção ao mar, franqueando de forma livre as vastas charnecas que envolvem aquele lugar, deixam atrás de si um rasto de fertilidade que promove a vida, a saúde e o bem-estar daqueles que deles usufruem. A dependência directa destes mananciais, aqui como em qualquer outra parte do Mundo, ajuda a definir a estreita ligação que consistentemente se estabelece entre o quotidiano de cada comunidade e o seu profundo saber. A sabedoria popular, tão importante para a generalidade das tarefas do dia-a-dia, assume-se em Alcabideche como sustentáculo essencial para a formação da identidade local. E espraia-se, desde sempre, através de campos diversos que influem directamente nas escolhas que todos os dias, nos seus momentos de trabalho e de lazer, que os habitantes vão fazendo na sua vida. 
 

Apresentação do Livro "Viva Estoril" de João Aníbal Henriques

João Aníbal Henriques, 02.05.23

 

 

Numa iniciativa conjunta da ALA – Academia de Letras e Artes e da Associação de Turismo de Cascais, foi apresentado publicamente o livro “Viva Estoril” da autoria de João Aníbal Henriques e com prefácio de Miguel Pinto Luz. Abordando a história recente do turismo na Costa do Estoril, o livro recupera a história de um grupo de hoteleiros que tomou em mãos a recuperação do sector durante os anos conturbados que se seguiram à revolução de 25 de Abril de 1974 e do PREC. António Simões de Almeida, António Pinto Coelho de Aguiar, Maurício Morais Barra, Fernando Fernandes e António Teixeira Murta, a que mais tarde se juntaram Pedro Garcia, Luís Athayde, António Soares e muitos outros, foram os protagonistas de uma história que mudou radicalmente os destinos da região do Estoril e de Cascais até à actualidade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fotografias da autoria do Departamento de Comunicação da Câmara Municipal de Cascais e de Josefina Gonçalves

 

 

Apresentação do livro AL-QABDAQ Memorial Histórico de Alcabideche

João Aníbal Henriques, 30.01.23

 

Numa iniciativa da Junta de Freguesia de Alcabideche, foi apresentado publicamente o livro “AL-QABDAQ – Memorial Histórico de Alcabideche” da autoria de João Aníbal Henriques e com prefácio de Carlos Carreiras. No espaço sagrado da Igreja Paroquial de São Vicente, a apresentação da obra foi feita por Pedro Mota Soares, Presidente da Assembleia Municipal de Cascais. Recuperando os principais quadros da memória histórica da Freguesia de Alcabideche, o livro funciona como um guia turístico que pretende desvendar mitos e segredos daquela importante localidade do Concelho de Cascais. Como disse Miguel Esteves Cardoso, Alcabideche é a freguesia secreta de Cascais e com este livro ficam criadas as condições para desmontar o mito de suburbanidade que a atinge e para que todos os interessados possam literalmente mergulhar naquele que é, porventura, o espaço com mais potencial activo no município Cascalense. Uma palavra especial de gratidão ao Presidente da Junta de Freguesia de Alcabideche, José Filipe Ribeiro, e a todo o executivo daquela autarquia pelo apoio e pelo entusiasmo que colocaram nesta apresentação. Fotografias da autoria de Guilherme Cardoso e Luís Bento.

 

 

 

 

 

 

 

O Convento de Nossa Senhora da Piedade em Cascais (Casas do Visconde da Gandarinha e/ou Centro Cultural de Cascais)

João Aníbal Henriques, 19.09.22

 

 

 

 

por João Aníbal Henriques

A porta de entrada do auditório principal do Centro Cultural de Cascais abre caminho através de uma história longa e profícua de mais de 426 anos de segredos imensos que urge revelar.

As abóbodas incompletas daquela sala, oferecendo ao espaço uma aura mística que mesmo a utilização actual não consegue toldar, são o que resta da Capela onde rezavam quotidianamente os frades do Convento de Nossa Senhora da Piedade.

 

 

E nas paredes envelhecidas pelos séculos, está ainda a Pietá envolvida pelo silhar de azulejos que confirma a sua origem cultual, bem as placas evocativas dos beneméritos que ao longo dos anos foram contribuindo com a sua esmola e trocando a materialidade dos seus bens pelas Missas eternas que lhes garantiam a saúde da Alma…

 

 

Na denominada Capela do Fundador, ali mesmo à entrada do novo restaurante, parecem ainda ouvir-se as vozes tristes dos que acompanharam os seus entes queridos à sua última morada em cerimónias de uma magnificência terrena que contrastava com a singeleza excruciante de quem nem calçado usava. E nas sepulturas abertas no chão, está marcado o brilho da espada, das esporas e os restos da farda de gala de um dos mais importantes cavaleiros desse velho Cascais, mesmo ao lado dos confessionários onde se partilhavam sob sigilo sagrado as tentações de uma vida onde o pecado sempre teima em vingar.

 

 

Na passagem para o antigo claustro, sob o olhar atento do Camões que nasceu dolorosamente das mãos de Mestre Cutileiro, surge marcado a negro o percurso alquímico do deambulatório onde muitas gerações de religiosos descalços cruzavam as suas ladainhas elevando ao Altíssimo as preces mais pungentes das gentes de Cascais.

 

 

Nos vãos das janelas antigas, que abrem agora para sítio nenhum, pressentem-se os raios de luz que emanavam das representações majestosas de Nossa Senhora da Conceição e de Santa Teresa de Ávila, ali mesmo onde o caldeirão alquímico dos frades-filósofos transformava o cobre em ouro e dava ensejo para a retransformação espiritual da comunidade. E na Sala do Capítulo, onde se tomavam as decisões mais impactantes relativas ao futuro da comunidade, estão ainda as janelas que ofereciam aos irmãos uma visão privilegiada sobre a cidadela relembrando-os da ligação ao poder temporal que ela representava.

O céu e a terra ligados numa ponte mística neste convento de Cascais…

O Convento de Nossa Senhora da Piedade, onde em 1594 nasceram e cresceram os primeiros laivos da ciência em Portugal, é hoje o cadinho da cultura em Cascais. E onde há quatro séculos atrás se salvavam as Almas através do deleite proporcionado pela oração permanente e pela proximidade a Deus, crescem agora os espíritos deslumbrados pelo carácter onírico e pela pujança cromática dos muitos artistas que permanentemente ali encontram um palco privilegiado.