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O Castelo de Montemor-o-Novo e a Vergonha de Portugal...

João Aníbal Henriques, 15.01.14
 
 
 
por João Aníbal Henriques
 
Ligado, de forma perene, às memórias de Vasco da Gama e à preparação da viagem marítima para a Índia, o Castelo de Montemor-o-Novo é um dos mais emblemáticos e maiores castelos de Portugal.
 
Situado no alto e um morro sobranceiro à planície alentejana, o castelo tem uma História antiga que provavelmente se perde nas brumas antigas da pré-História. Ali terá existido um castro que foi mais tarde romanizado, transformando-se então no centro de uma das mais importantes malhas viárias do império. Nele convergiam as Estradas de Évora e Mérida e, por outro lado, as que levavam a Olissippo e ao estuário do Rio Tejo, chamando-se nessa época Castrum Malianum. É esse facto, aliás, que explica o reforço do amuralhamento primitivo da cidade, reforçando a importância estratégica da sua localização.

 
 
 
O carácter de Montemor-o-Novo reforçou-se ainda nos inícios da Idade Média quando o território foi conquistado pelos Muçulmanos. É neste período que  a cidade conhece a presença de Almansor que, mais tarde, acabaria por ficar definitivamente marcado na toponímia do local, dando nome ao ribeiro que ainda hoje corre no local.

 
 
 
Em termos de desenvolvimento urbano, a importância de Montemor-o-Novo é bem patente no rápido e fulgurante aumento da população que, extravasando as muralhas do seu castelo, rapidamente de estende pelas colinas que o envolvem. Desde meados do Século XIX, com a pacificação do território e a progressiva degradação das condições de salubridade dentro das muralhas, foi a povoação medieval quase completamente abandonada em prol da afirmação da nova cidade extra-muros.
 
No seu regresso à Portugalidade, Montemor-o-Novo  foi reconquistado definitivamente pelo Rei Dom Sancho , em 1201, depois de Dom Afonso Henriques a ter reconquistado uma primeira vez em 1160. Trinta anos depois, em 1190, a cidade foi novamente tomada pelos Árabes que aí se mantiveram até à sua expulsão definitiva.
 
Para assegurar o seu repovoamento e defesa, o rei conquistador concedeu-lhe o primeiro Foral em 1203, documento esse que foi reconfirmado pelo Rei Dom Manuel I já no Século XVI (1503).
 
 
 
 
Palco de cortes por diversas vezes, foi em Montemor-o-Novo que o Rei Dom Manuel I tomou a decisão de enviar Vasco da Gama na sua viagem marítima até à Índia, sendo, por isso, aí que reside aquela que será porventura uma das decisões mais importantes para o devir histórico da própria humanidade. Como se diria mais tarde “de Montemor-o-Novo se mudou o Mundo e as suas gentes”…
 
Foi também em Montemor-o-Novo que nasceu São João de Deus (1495-1550), fundador da Ordem dos Hospitalários que ainda hoje se encontra espalhada por todo o Mundo.
 
 
 
 
Em termos de património, foi a cidade alvo de diversas campanhas de recuperação e actualização que, para além de alterarem de forma profunda a sua paisagem, acabaram por determinar o galopante estado de degradação que o terramoto de 1755 acabaria por acentuar.
 
Apesar disso, a Praça de Montemor-o-Novo resistiu ao ataque de Junot, durante as Invasões Francesas, tendo sido quartel-general das hostes liberais durante a Guerra Civil que opôs Portugueses contra Portugueses em pleno Século XIX.
 
Classificado como Monumento Nacional desde 1951, e apesar da sua extraordinária importância na percepção de Portugal e da sua História, o Castelo de Montemor-o-Novo continua num estado de degradação que é, de todo, incompatível com as potencialidades que apresenta.
 
 
 
 
Continuamente apresentado como palco de grandes campanhas de estudo e de intervenções arqueológicas, quase sempre acompanhadas de projectos para recuperação e musealização do espaço, o certo é que as muralhas continuam a apresentar um estado de ruína e de abandono que representam uma autêntica vergonha Nacional.
 


Dentro do recinto, e para além da recuperada Igreja de Santiago, faz dó visitar as ruínas do Paço Real, da Igreja de São João Baptista ou da Igreja de Santa Maria do Bispo… Uma verdadeira tristeza…