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Apresentação do Livro "Viva Estoril" de João Aníbal Henriques

João Aníbal Henriques, 02.05.23

 

 

Numa iniciativa conjunta da ALA – Academia de Letras e Artes e da Associação de Turismo de Cascais, foi apresentado publicamente o livro “Viva Estoril” da autoria de João Aníbal Henriques e com prefácio de Miguel Pinto Luz. Abordando a história recente do turismo na Costa do Estoril, o livro recupera a história de um grupo de hoteleiros que tomou em mãos a recuperação do sector durante os anos conturbados que se seguiram à revolução de 25 de Abril de 1974 e do PREC. António Simões de Almeida, António Pinto Coelho de Aguiar, Maurício Morais Barra, Fernando Fernandes e António Teixeira Murta, a que mais tarde se juntaram Pedro Garcia, Luís Athayde, António Soares e muitos outros, foram os protagonistas de uma história que mudou radicalmente os destinos da região do Estoril e de Cascais até à actualidade.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fotografias da autoria do Departamento de Comunicação da Câmara Municipal de Cascais e de Josefina Gonçalves

 

 

O Hotel Miramar no Monte Estoril: uma questão de vocação

João Aníbal Henriques, 06.06.19

 

 
 
por João Aníbal Henriques
 
Existem construções que transcendem o imenso valor que se associa ao seu uso e que, pelas suas características intrínsecas, se impõem na paisagem definindo com precisão a vocação das localidades onde foram construída. É o que acontece com o Chalet Almeida Pinheiro, mais conhecido como Hotel Miramar, em pleno coração do Monte Estoril…
 
O Chalet Almeida Pinheiro, situado em pleno coração do Monte Estoril, é uma das peças mais emblemáticas da arquitectura de veraneio em Portugal. Concebido para cumprir a dupla função de ostentar a riqueza, o poder e a diferença da sua primeira encomendadora, uma “excêntrica africanista” de acordo com a descrição do Engenheiro Almeida Pinheiro que o construiu, e de servir como habitação de luxo para a mesma, a casa apresentava uma volumetria excepcional, impondo-se na paisagem e no registo de veraneio que caracterizava as casas existentes na sua envolvência.
 
De acordo com as descrições da época, a dimensão do Chalet Almeida Pinheiro era de tal forma inusitada que a casa fazia lembrar uma enorme praça de touros colocada estrategicamente dentro de um grande e frondoso jardim que, encobrindo tenuamente alguns dos seus detalhes, despertava a curiosidade e o interesse de quem por ele passava naqueles tempos. Deixava implícita uma certa descrição, apesar de o apelo maior seguir na linha da ostentação, apelando à imaginação e ao enleio.
E desde logo, quando ainda era uma construção muito recente no autêntico emaranhado de egos que deu forma ao desenho arquitectónico do Monte Estoril original, se transformou no cadinho maior da identidade monte estorilense assumindo papel fulcral na definição estética do que haveria de vir a ser aquela localidade enquanto berço primária da vocação turística municipal.
 
 
 
 
Os principais elementos definidores da importância arquitectónica do Chalet Almeida Pinheiro tiveram uma função estética e decorativa. 
 
Os torreões, altaneiros mas propositadamente desnivelados, recriavam em pleno romantismo a ideia de coisa velha e antiga, lançando em quem o observava a dúvida sobre a verdadeira origem daquela construção. No final do Século XIX, quando a casa foi construída, não havia no horizonte possibilidade alguma de uma enorme batalha em terras estorilenses, nem tão pouco se augurava a possibilidade de construir um castelo com pretensões funcionais. A ideia subjacente ao projecto, mais do que dependente da realidade vivida de forma efectiva, pretendia reforçar o vínculo identitário com o revivalismo decorativo do romantismo grassante, recriando cenários plenos de imaginação e ficcionando uma realidade que se assumia como cenário maior no qual os seus proprietários representavam o papel da sua vida. Como é evidente, os torreões do Chalet Almeida Pinheiro nunca defenderam nada nem ninguém, apesar de as mísulas de cantaria fazerem lembrar velhos merlões de castelos que outros sítios têm a sorte de ter. Mas, em termos da sua funcionalidade estética, cumpriram religiosamente o seu papel de sublinhadores da importância da já referida “excêntrica africanista” no contexto social romântico do Monte Estoril de então e, por outro lado, reforçaram os vínculos entre a nova construção que viu a luz do dia somente em 1899 e as restantes casas torreadas que davam forma à identidade estética e arquitectónica daquela que era considerada a “pérola de Portugal”.
 
A arcaria que suportava o alpendre situado na fachada principal, encimada mais tarde pela propaganda ao Hotel Royal e ao Hotel Miramar que o substituiu, recupera também ela a formulação estética daquilo que mais tarde vem a ser a “Casa Portuguesa”. A encomendadora, que teria enriquecido em África e que era de origens humildes de uma das aldeias provincianas do interior Português, precisava avidamente de se mostrar aos seus pares e, sobretudo, de o fazer de forma linear e inquestionável. E a casa, repositório maior dos seus anseios, surge no Monte Estoril do Século XIX como memória maior do velho solar de província que assenta os seus alicerces em laços de sangue antigos e perenes cujas origens se perdem nos princípios do próprio tempo…
 
Por fim, recriando-se enquanto cenário enquadrador do alpendre profundamente prenhe dos valores ancestrais da Portugalidade e do torreão altaneiro em guarda perante uma invasão que simplesmente se ousava imaginar, o muro delimitador da propriedade rematava a paisagem com um apelo quase rude às memórias da pedra solta de uma qualquer casa rural na várzea sintrense. Naquela altura, como é evidente, poder-se-ia ter colocado ali um muro de emparelhamento regular e com corte rectilíneo dando foco à casa e cumprindo a função de segurança que um qualquer muro deve ter. Mas não foi assim. Em linha com tudo o resto, o muro é também ele próprio elemento estruturante da paisagem e reforço emblemático da força da casa no contexto do Monte Estoril que estava a nascer. Pretendia transparecer a ideia de coisa antiga e forte, em linha com a ambição social de quem o concebeu.
 
 
 
 
Num dos seus artigos mais emblemáticos sobre o Monte Estoril, a Professora Raquel Henriques da Silva caracteriza o esquema quase “esquizofrénico” do local para sublinhar o seu carácter único e excepcional. De facto, o caso do Chalet Almeida Pinheiro, com a sua imensa excentricidade e pujança, só podia ter surgido naquele local e naquela época, num Monte Estoril onde tudo transbordava de romantismo e de sonho. O carácter onírico da localidade, onde os telhados de duas águas aguardam eternamente os nevões enormes que se sabe de antemão que nunca chegarão, e os castelos medievais construídos já em pleno Século XX sem nenhuma funcionalidade nem utilidade prática que não fosse a de servirem inocentemente de cadinho de esperança para o carácter mas sonhador dos seus habitantes, sobrepõem-se a todos os resquícios de lógica e de discernimento. Ali, num espaço de sonho em que se sonha, tudo é de facto passível de acontecer e, em linha com esse pressuposto, o custo de cada uma destas excentricidades é tido como um investimento.
 
No Monte Estoril de 1899 o Chalet Almeida Pinheiro é muito mais do que uma casa qualquer. É símbolo maior de uma movimento arquitectónico recriado de raiz a partir daquele que será porventura o primeiro masterplan Português. Aqui vale tudo e tudo faz sentido fazer, até porque sendo palco de excêntricos, era simultaneamente uma ponte maior entre as agruras da vida real e o sonho maior que todos afincadamente desejamos viver. Foi esse pressuposto, mais do que qualquer preciosismo canónico que a arquitectura de então pudesse ter, que fez desta uma localidade total e completamente diferente. E foi essa diferença, marcada pela igualmente diferente maneira de ali se viver, que recriou a identidade coesa, forma, determinante e determinada que perdurou (contra tudo e contra todos) até época muito recente.
 
Mas como todos os sonhos são frágeis e inconsistentes, também este clima de quase-loucura que o Monte Estoril teve o ensejo de desenvolver, se debateu com problemas estruturais que o pragmatismo da vida normal sempre tem a capacidade de oferecer. E, logo na abertura do novo Século, quando Portugal se envolveu nos períodos negros das revoltas políticas e a Corte de sangue azul desapareceu para sempre, os castelos de cartas que os sonhadores de outros tempos haviam ousado empreender, desmoronaram-se sucessivamente ao sabor do um vento que rapidamente os fez tremer.
 
E as casas, castelos e torreões, despidos de utilidade prática, tiveram de ser reconvertidos e reconfigurados perante a nova lógica funcionalista que acabava de nascer. Vendidos e restruturados, acabaram quase todos por assumir novas funções e por desempenhar papéis diferentes num Portugal novo que a Implantação da República acabou por trazer. Como peças únicas que eram, e com custos de produção incomportavelmente altos para a época de crise que o novo regime consolidou por muito tempo, tornaram-se cada vez mais motivo acrescido de interesse por parte de todos aqueles que desejavam deslumbrar-se com a pujança artística que estas construções acabavam por ter.
 
Ao Monte Estoril, primeiro de Lisboa e arredores e depois de todos os cantos e recantos do Mundo, vinham muitos para passear nas ruelas pseudo-medievais, para se deslumbrarem com os castelos fugazes e com os muros de pedra, e para apreciarem os jardins imensos onde cresciam pretensamente livres espécies vegetais que haviam sido plantadas ali depois de terem sido trazidas de origens inóspitas somente com o intuito de fazerem diferença e de acentuarem o cenário de exclusividade que o Monte Estoril conseguiu ter.
 
 
 
 
Nasce assim o turismo em Portugal. E nasce no Monte Estoril porque ser aquele um local único no Mundo inteiro. Nasce no Monte Estoril porque ali era possível usufruir dos bons ares da praia, da vida excelente que se afagava com o tom azulado dos sangues dos que ali viviam sempre, e também da paisagem marcante e marcada pela  força bruta e inesperada de imóveis como este.
 
Quando em 1906 o Engenheiro Almeida Pinheiro vendeu a sua casa a uma sociedade de empreendedores, nasce na velha mansão o mítico Royal Hotel e em 1914, depois de se afirmar no contexto da Primeira Grande Guerra, é novamente vendido a Ricardo Allen, Salvador Villanova e Ventura Garcia que o adaptam funcionalmente a um novo registo de hotel, e o rebatizam com o nome de Hotel Miramar.
 
Funciona assim, já perdido nas suas origens mais remotas e no sonho inalcançado a velha africanista de outras eras e de outros tempos, até 1975 quando é destruído por um incêndio.
 
Passaram-se muitas décadas desde que o Chalet Almeida Pinheiro desapareceu fisicamente da praxis urbana monte estorilense. Mas a pujança da sua força, o carácter enorme do seu torreão e o enquadramento cénico dos seus muros ancestrais, sobreviveu até hoje, mostrando que mais do que a sua funcionalidade, é a sua presença física que serve de fulcro identitário maior da comunidade onde se insere. Apesar do estado avançado de ruína, ele continua a fazer parte da estrutura cénica do Monte Estoril que ainda temos.
 
 

 

Ruínas no Natal em Cascais

João Aníbal Henriques, 23.12.17

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Caros Cascalenses,

 

A pedido de vários munícipes moradores na Alapraia, alertei há algum tempo a edilidade para o problema do abandono e avançado estado de ruína em que se encontram as Grutas Pré-Históricas existentes naquela localidade.  

 

Estando classificadas como Imóvel de Interesse Público desde 1945, as Grutas de Alapraia foram descobertas no início do Século XX por Francisco Paula e Oliveira e, mais tarde, estudadas de forma aprofundada por Afonso do Paço e Eugénio Jalhay que ali encontraram um dos mais importantes espólios arqueológicos de Portugal.

 

As sandálias de calcário de Alapraia, que só encontram paralelo em Almeria (Espanha), são a peça mais impactante de um espólio vastíssimo com vestígios de muitas culturas e civilizações que utilizaram aquele espaço ao longo dos séculos.

 

Tendo sido intervencionadas por diversas vezes nos últimos anos, sobretudo por iniciativa e empenho do saudoso director do Gabinete de Arqueologia da CMC, Dr. João Pedro Cabral, foram alvo de um arrojado projecto de musealização que integrava as várias grutas conhecidas e o Casal Saloio que, entretanto adquirido pela Autarquia, foi recuperado e transformado num pólo de interpretação museológica de apoio ao complexo.

 

Mais recentemente, por motivos para os quais nunca nos foi possível encontrar explicação plausível, as grutas foram entulhadas com gravilha e o casal saloio foi simplesmente deixado ao abandono. Os actos de vandalismo perpetrados desde então têm vindo a destruir o sítio por completo, tendo desaparecido portas e janelas e, nos últimos meses, as próprias telhas da cobertura, deixando no ar um tom de ruína que contrasta de forma evidente com a enorme importância desta peça do património cascalense.

 

Mas a maior preocupação dos moradores já nem é a destruição do património e da memória de Cascais. A utilização indevida do espaço, principalmente durante a noite, tem vindo a despoletar um sentimento de insegurança que se alastra entre a comunidade local, facto que se conjuga com a utilização de todo o complexo como sanitário público, com implicações ao nível da higiene e da saúde pública.

 

Mas, mais de um mês depois do alerta apresentado em reunião de câmara, nada aconteceu no espaço. O projecto de recuperação continua a aguardar a aprovação de um programa de apoio comunitário, de acordo com informação prestada pelo Presidente da CMC, e não foi feito rigorosamente nada para controlar o acesso ao monumento ou sequer para desde já impedir o uso indevido do mesmo durante a noite.

 

Perde obviamente a memória de Cascais que vê delapidar uma das mais significativas peças do seu património histórico; perde a comunidade Cascalense que diariamente vê desaparecer as extraordinárias potencialidades pedagógicas e turísticas associadas a um espaço como este; perdem os moradores do local que, para além da insatisfação de verem a degradação que paulatinamente vai envolvendo as suas casas, assistem ao crescimento da insegurança e pressentem a sua incapacidade de sensibilizar as entidades competentes para que lhes resolvam rapidamente um problema simples e premente.

 

Na última reunião de câmara reforcei publicamente o pedido para que, com carácter de muita urgência, sejam tomadas providências que impeçam a continuação da destruição das Grutas de Alapraia.

 

Esperemos que a quadra festiva que atravessamos e o dealbar de um novo ano, nos tragam finalmente a concretização deste projecto tão importante para o fomento da Identidade Municipal.

 

Para todos os Cascalenses os nossos votos de um Feliz Natal e de um próspero 2018.

 

A Bem de Cascais!

 

João Aníbal Henriques

Vereador na Câmara Municipal de Cascais

 

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O Forte de São Pedro da Poça no Estoril

João Aníbal Henriques, 15.12.16

 

 
 
por João Aníbal Henriques
 
Tal como acontece com os restantes fortes e fortificações construídos na linha defensiva da Costa do Estoril, o Forte de São Pedro da Poça, situado a Poente do Vale da Poça, junto ao edifício dos antigos banhos, apresenta uma localização privilegiada num ponto no qual a importância estratégica no cruzamento de fogo com os seus congéneres se alia a uma paisagem profundamente impactante e deslumbrante.
 
E, infelizmente, tal como acontece com os restantes, encontra-se num estado de ruína inaceitável, com a sua importância patrimonial posta em causa pela incúria das entidades ditas competentes.
 
 
 
 
Construído depois da Restauração da Independência Nacional em 1640, numa estratégia de refortificação da entrada marítima de Lisboa, o Forte de São Pedro foi projectado pelo Arquitecto Mateus do Couto, utilizando como planta o desenho geral utilizado noutras fortificações de características semelhantes. As obras, que decorreram entre o dia 5 de Abril de 1642 e o início de 1643, compuseram o espaço a partir do estabelecimento de uma cortina de artilharia que atravessava a praia e estabelecia a protecção cruzada necessária perante qualquer desembarque tentado pelas forças Espanholas em terras de Portugal.
 
O pátio central, que distribuía o espaço interno de forma muito simples, cumpria a dupla função de facilitar o acesso às diversas frentes do forte, ao mesmo tempo que assumia a sua componente residencial, oferecendo um espaço ao ar livre para usufruto de quem ali morava.
 
 
 
 
Depois de vários períodos de semi-abandono, que exigiam novas obras de remodelação, o forte atingiu uma situação de pré-ruína em meados do Século XIX. Mas, durante a Guerra Civil, readquiriu uma parte da sua importância estratégica e, nesse âmbito, foi novamente remodelado de forma a adaptar-se às modernas técnicas militares desse tempo. É desse período, numa obra que muitos consideram nunca ter sido acabada, o paiol que se localizava no piso subterrâneo e a linha de fuzilaria que ligava o forte ao seu congénere da Cadaveira, do outro lado da praia.
 
Depois de vicissitudes diversas, que passam pela sua entrega à Santa Casa da Misericórdia e o seu posterior arrendamento à sociedade que explorava os Banhos da Poça, foi o forte transformado em casa de chá, já em 1954, por iniciativa da Junta de Turismo de Cascais e, mais tarde, na primeira discoteca Portuguesa.
 
 
 
 
Congregando em torno da sua imagem, um dos recantos oníricos dos Estoris, que para ali convergiram de forma massiva durante os agitados anos 60 do Século XX, o Forte de São Pedro foi paulatinamente perdendo as suas características militares de que agora só restam as suas duas guaritas. Na fachada virada a nascente, completamente desvirtuada pela intervenção de adaptação às funções turísticas atrás mencionadas, a bateria que cobria a praia foi substituída por uma inestética parede de vidro que se encontra actualmente emparedada e totalmente destruída por actos de vandalismo. Aberto o interior, está também ele em avançado estado de degradação, sendo virtualmente impossível perceber se existe alguma possibilidade de ser recuperado na sua formulação espacial original.
 
O Forte de São Pedro da Poça, no Estoril, situa-se no coração da mais antiga e pujante região de turismo de Portugal. A evidência da sua localização, perto a praia, do paredão e da entrada nobre do Estoril, faz convergir na sua direcção o olhar de todos aqueles que por ali passeiam e, mais grave ainda, o dos milhares de turistas que procuram na Região do Estoril o charme de outros tempos.
 

 

Classificado como Imóvel de Interesse Público desde 1977, o seu abandono e estado de ruína eminente é, em termos da memória de Cascais e da Identidade Municipal dos Cascalenses, um autêntico crime que lesa os interesses deste concelho. Inadmissível nos tempos em que vivemos!
 
 
 

Cascais e o Estoril em 1989 na Revista "Cidades & Municípios"

João Aníbal Henriques, 10.08.16

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Há precisamente 27 anos, em Agosto de 1989, a revista “Cidades & Municípios” dedicava um dos seus números àquilo que designava como “as consequências do crescimento de Cascais e de Sintra”.

 

Abordando o turismo como vocação agregadora da região, basicamente por recuperar quase um século de uma história grandiosa sob a chancela da marca internacional “Estoril”, a revista apontava as grandes infra-estruturas que deveriam concretizar-se num futuro próximo. Da auto-estrada de ligação a Lisboa ao sistema de saneamento, muitos eram os desafios que em 1989 se colocavam a Cascais, nomeadamente na gestão da sua promoção internacional, nas acessibilidades, na consolidação ambiental e na habitação.

 

No ano em que foi publicada esta reportagem, Cascais vivia o início do período conturbado que mais tarde haveria de ser chamado “a betonização do concelho”. As mudanças que acabariam por chegar a partir da década de 90, como a já referida A5, o emissário submarino, a marina, o centro de congressos, a escola de turismo, etc., foram o mote para um complexo processo que desvirtuou definitivamente o devir quotidiano de Cascais e que gerou uma série de desequilíbrios dos quais o concelho ainda não conseguiu recuperar.

 

Os anos que se seguiram foram caóticos para a memória comunitária municipal. A destruição do património e a construção desenfreada, geraram novas realidades que os poderes locais demoraram demasiado tempo a entender e a começar a tratar.

 

27 anos depois, vale a pena reler esta reportagem, até porque muitos dos desafios ali elencados são ainda pertinentes na actualidade. Conhecer e perceber a história recente é um passo de gigante para evitar que voltem a cometer-se os erros do passado.

 

Leia AQUI a Reportagem “O Crescimento e o Turismo” da Revista Cidades & Municípios

A Singeleza Franciscana e a Ideia do Estoril

João Aníbal Henriques, 04.05.16

 

 
 
por João Aníbal Henriques
 
Seguindo os princípios que nortearam a vida de São Francisco de Assis, que em 1209 fundou a Ordem Mendicante, a Regra definitiva dos Franciscanos foi aprovada pelo Papa Honório III, em 1223.
 
No Estoril, foi no ano de 1527 que se procedeu à instalação de um Convento Franciscano de características sui-generis, pela sua proximidade ao mar e pelo Santo de Devoção – Santo António do Estoril.
 
 
 
 
O espaço em questão, mesclado de um intenso sabor a mar, pouco conhecido da generalidade dos espaços da Ordem, é também condicionado por uma forte presença da Serra de Sintra, marcando assim o desenvolvimento de um enorme potencial de aprofundamento religioso que os frades que ali se instalavam vão aproveitar de uma forma bastante profícua.
 
Pertença do Dr. Luís da Maia, clérigo do hábito de São Pedro, o terreno onde veio a instalar-se o convento, possuía já uma pequena capela dedicada a São Roque, mandada construir alguns anos antes, em data não determinada, por Leonor Fernandes, moradora no Casal do Estoril. O momento em que o ilustre prelado oferece o terreno à Ordem, que o recebe pela mãos de Rodrigo de Sant’Iago, é precisamente aquele que marca o início do processo de construção do idílio conventual, para o qual se utilizaram, trazidas do derruído Convento de Enxombregas, as pedras que vieram a consolidar as suas paredes. A direcção das obras assumidas por Rodrigo de Sant’Iago foi de tal modo perene, que depressa se concluiu a construção do novo templo que, composto por uma única nave, possuía no entanto três altares, onde se prestava culto à imagem de Nossa Senhora da Boa Nova, a São Domingos e a São Francisco. Segundo a ‘Crónica Seráfica da Santa Província dos Algarves’, na qual se descrevem os edifícios da Ordem de São Francisco, existiria ainda uma imagem de Santo António ao lado da epístola, no altar-mor, que possivelmente seria datável de um momento anterior à construção do edifício.
 
 
 
 
Ao que parece, o grande êxito que veio a enformar a existência do convento, e que lhe granjeou uma fama que trouxe a estas paragens uma série de importantes vultos da vida Nacional, ficou a dever-se à imagem da Santa Padroeira, a Senhora da Boa Nova, com os seus três palmos de altos, e com feições consideradas «gráceis e perfeitinhas». Joana Manuel, a quem havia sido instituído o Morgado do Estoril, Manuel Jorge, síndico do convento, Álvaro Martins, marinheiro de água doce e o Marquês de Castelo Rodrigo, apoiante incondicional da submissão filipina, são apenas alguns dos mais evidentes apoiantes da Causa Franciscana Estorilense, contribuindo com importâncias que, em conjunto com a exploração agrícola que os frades foram desenvolvendo nos terrenos que desciam até à praia, garantiam a possibilidade de se irem promovendo as obras de remodelação e de manutenção que permitiram ao convento subsistir e até desenvolver-se à medida em que se ia avançando para a segunda metade do século XVIII, quando o terramoto de 1755 veio pôr em causa a sua existência.
 
 
 
 
Os frades do Estoril, dedicados a uma vida de interiorização na qual o trabalho árduo das muito pouco férteis terras conventuais era, desenvolveram uma postura religiosa que em muito se afastou daquela outra que caracterizou a Ordem Carmelita instalada no Convento de Nossa Senhora da Piedade, em Cascais. Para estes últimos, a interacção com a comunidade, numa dinâmica de ensino e de aprendizagem, em que tecnicamente a sua mais-valia se ia transportando para as actividades profissionais dos cascalenses, principalmente na pesca mas também na horticultura, as portas do convento deviam estar abertas, recebendo no seu seio todos aqueles que dele necessitassem para resolver os problemas do quotidiano. Os frades estorilenses, possivelmente também como consequência da esterilidade do seu meio, onde as comunidades humanas não se haviam instalado de uma forma sistemática, mantendo um povoamento em pequenos casais e onde as únicas excepções são marcadas pelas aldeias de Alapraia e, mais a nascente, Caparide, tornaram o seu espaço no espaço eminentemente dedicado à interiorização, mantendo relações muito pouco próximas com a comunidade e alicerçando a sua dinâmica de trabalho no princípio da auto-subsistência que, aliás, era também consequência dos princípios fundamentais que norteavam a sua Regra.
 
 
 
Destacando-se dos demais, mais pelo seu esplendor espiritual do que propriamente pela sua maneira de funcionar em termos comunitários, Frei António de Palmela e Frei Cristóvão da Trindade, ali desenvolveram o seu percurso iniciático em direcção a Deus, mortificando a carne com a pobreza extrema e fortificando o espírito em orações e jejuns sistemáticos. A fama destes monges, de quem todos ouviam falar mais que poucos conheciam pessoalmente, acabou por garantir-lhes a recepção de muitos bens, que os habitantes das redondezas lhes ofertavam, com o objectivo de contribuírem para a vida de santidade que ali promoviam. As ofertas, no entanto, eram permanentemente redistribuídas pelos mais humildes, mantendo-se os monges de Santo António na mais pura e humilde das existências, gozando apenas da extraordinária vista que se alcançava das janelas do convento. Rocha Martins, o reputado jornalista que já mencionámos, descreve de uma forma paradigmática a envolvência do convento, a qual permite perceber quais foram as grandes transformações que o denominado progresso acabou por trazer a este lugar: «Um prado verdejava na vizinhança; a aragem suave coava-se pelo pinhal mas, por vezes, a ventania vergava o frondoso arvoredo; cresciam, na encosta virada ao mar, plantas selváticas e as águas brotavam, com a fama de milagrosas, sobretudo na parte mais baixa da serra de Santo António, a qual tinha ao sul o fortim de São Roque e a oeste o Casal do Estoril». Da mesma opinião, explicando ao mesmo tempo que a situação que caracterizava o convento em muito contribuiu para a forma como era procurado pelos mais fervorosos e dignos monges de todos os tempos em que durou a sua existência, era Frei Jerónimo de Belém que o visitou no início do século XVIII: «que o agradável da sua visita convidou em outros tempos a muitos religiosos para frequentarem nele a Escola do Céu, livres dos cuidados do Mundo que tanto embaraçavam os progressos da virtude e atrasam os espíritos mais fervorosos».
 

Fausto Figueiredo e o Sonho do Estoril

João Aníbal Henriques, 16.05.14

A ALA - Academia de Letras e Artes marcou presença na cerimónia comemorativa do centenário da fundação do Estoril com a conferência "Fausto Figueiredo e o Sonho do Estoril" proferida por João Aníbal Henriques.

Esta homenagem àquele que foi o mentor do primeiro e principal destino turístico de Portugal, concretizou-se no âmbito do aniversário da ESHTE e foi coordenada pela Professora Cristina Carvalho e pelo Doutor João Miguel Henriques (CMC), tendo contado ainda com a participação de Cândida Cadavez, Cristina Pacheco, Susana Gonçalves e Manuel Ai Quintas. 

Numa época marcada pela incerteza e pela absurda decisão tomada pelo poder partidário de extinguir a marca turística ‘Estoril’ assume especial importância este evento que, de uma forma transversal e com abordagens diferenciadas, apresenta a prova cabal da excelência que caracterizou o projecto de Fausto Cardoso e Figueiredo no Estoril.

 





SerCascais - Formalização da Primeira Candidatura Independente

João Aníbal Henriques, 30.07.13

Momento histórico em Cascais em que o Movimento SerCascais, liderado por Isabel Magalhães, formaliza a primeira candidatura independente de sempre às Eleições Autárquicas Cascalenses. Mais de 6000 assinaturas marcaram um dia que fica para a História e que prova que... vale a pena SERCASCAIS!