por João Aníbal Henriques
Inserida num ambiente cosmopolita, onde a lógica turística impera, a Igreja de Santo António do Estoril, apresenta uma história repleta de vicissitudes que a tornam num local de excepcional interesse para o eventual visitante.
As primeiras menções a este lugar, reportam a 1527, quando se noticia a existência de uma pequena ermida de madeira dedicada a São Roque com um altar a Santo António colocado junto à entrada, construído por Leonor Fernandes, moradora no Casal do Estoril.
Segundo Ferreira de Andrade, o terreno onde se erguia esta ermida, pertencia no século XVI a Luís da Maia, que o terá doado à Ordem de São Francisco. Com pedras retiradas do antigo Convento de Enxobregas, os frades recém-instalados iniciaram de imediato a construção de um novo templo, ao qual foi anexado um pequeno eremitério e uma oficina artística.
Em termos físicos, a igreja era composta por uma única nave, com três altares: no altar-mor estava uma imagem de Nossa Senhora da Boa Nova; nos dois restantes encontravam-se imagens de São Domingos e de São Francisco. Segundo a 'Crónica Seráfica da Santa Província dos Algarves', na qual se descrevem os edifícios da ordem de São Francisco, existiria ainda uma imagem de Santo António ao lado da epístola, no altar-mor. Uma imagem do santo taumaturgo existiria ainda, com cerca de três pés de altura, onde hoje se ergue o cruzeiro, junto ao adro da actual igreja. Os azulejos primitivos, datados de 1719 e 1751, denotam uma elevada qualidade de produção artística.
Quase completamente destruída pelo terramoto de 1755, a Igreja conheceu no século XVIII grandes transformações. Iniciadas em 1756, por iniciativa do guardião do templo, Frei Basílio de São Boaventura, as obras de recuperação foram feitas a um ritmo extraordinariamente rápido, havendo notícia de em 1758, pouco mais de dois anos após o seu início, se terem já concluído os trabalhos de reconstrução do altar, com a sua actual talha dourada. O mesmo frade, zeloso cumpridor dos seus deveres, alargou ainda o coro para o adro, em cerca de doze palmos dotando-o de três janelas rasgadas na fachada integralmente efectuada em pedraria, tal como hoje ainda encontramos, e encimada por uma imagem de Santo António colocada num pequeno nicho.
Em 1834, quando foram extintas as ordens religiosas, o convento foi vendido em hasta pública a Manuel Joaquim Jorge, que nos terrenos anexos edificou um prédio de rendimento que alugava durante a época estival aos utilizadores das águas termais do Estoril. Em 10 de Maio de 1916 a igreja foi entregue à Irmandade.
A história desta igreja, no entanto, não termina aqui, uma vez que no ano de 1927 um incêndio destruiu o remodelado templo seiscentista. A luta travada pelos bombeiros das várias corporações presentes contra o fogo, permitiu a recuperação de grande parte do mobiliário, o crucifixo do altar, castiçais de prata e vários objectos de culto.
O projecto de Tertuliano Marques permitiu salvar alguns dos antigos azulejos e manter a traça original do edifício, tendo-lhe sido acrescentados os frescos do tecto actual, da autoria de Carlos Bonvalot, bem como o conjunto azulejar, concretizado pelo Mestre Victória Pereira.
Em 1929, na cerimónia de início do funcionamento da nova Paróquia do Estoril, já sob a orientação de Monsenhor Moita, encontramos o templo com o seu aspecto actual, espécie de bastião da memória de um Estoril de outros tempos.