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104,74 Milhões de Euros é o total da dívida do Município de Cascais em 2013

João Aníbal Henriques, 22.07.14

 

104,74 Milhões de Euros é o total da dívida do Município de Cascais em 2013 de acordo com

os dados hoje publicados no Portal Governamental 'Transparência Municipal'

(Aceda em www.portalmunicipal.pt)

 

Etnografia Simbólica de Cascais

João Aníbal Henriques, 11.06.14



por João Aníbal Henriques

Ao longo da sua extensa História, foram inúmeros os factores directamente condicionantes do desenvolvimento político, económico, social e religioso de Cascais. As suas numerosas linhas de água, serpenteando entre inúmeros montes e elevações de ténue e acentuada inclinação, entrecortadas de maciços calcários repletos de grutas e reentrâncias, propiciaram e condicionaram o aparecimento de estruturas simbólicas que, por seu turno, contribuíram para o aparecimento de estruturas simbólicas que, por seu turno, contribuíram para o desenvolvimento de formas individualizáveis de comportamento.


Esta forma de estar na vida, que é tipicamente cascalense, é diferenciável daquela que se fez sentir em crise em Sintra, onde o clima, o ambiente, os recursos hidrícos e os acidentes geográficos, são substancialmente diferentes dos que existem em Cascais. É de todos conhecida, com toda a certeza, a diferença que existe, no seio da Serra de Sintra, entre a vertente soalheira cascalense, e a encosta sombria e húmida de sintra, factor que, quanto mais não seja, influencia a forma de construção das edificaçõesque naqueles sítios são levantadas. Por outro lado, no que ao concelho de Oeiras diz respeito, as principais diferenças que o afastam do de Cascais, dizem respeito à composição do solo.

No concelho vizinho, tal como também na zona mais oriental do município cascalense, a riqueza do solo propiciou o desenvolvimento de uma vivência rural significativa, traduzível, como poderão constatar pela listagem patrimonial que apresentamos em anexo, na faceta saloia que caracteriza quase todas as construções edificadas nesse espaço até meados deste século. No entanto, e para além das influências que se processam a nível prático, e de onde se salientam as já referidas referências às construções particulares, existem muitas outras formas  de condicionamento à vivência das populações.

A prova disto, como não poderia deixar de ser, está patente nos diversos vestígios etnográficos que ainda subsistem no seio das comunidades que habitam nestes três concelhos. Hábitos antigos, passados de geração em geração e que, de forma mais ou menos exacerbada, acabam por influir no modo de vida da população, seja em termos práticos nas actividades profissionais do quotidiano, quer mesmo em termos simbólicos, nas vivências religiosas e místicas da população. Não será por mero acaso, por exemplo, que a figura de Nossa Senhora dos Navegantes é muito venerada em Cascais, facto que só se compreende pela proximidade das excelentes águas da baía, bem como da arte da pesca que hoje ainda, infelizmente de uma forma muito efémera, continua a funcionar como atractivo turístico para o centro da vila. 

Da mesma forma, as diversas lendas que existem em torno de locais onde foram edificadas capelas e ermidas, muitas vezes praticamente inacessíveis ao comum cidadão, e bastante importantes em épocas de romarias e procissões, só podem ser explicadas se tivemos em conta a organização interna do simbólico das populações e que, como verificámos ao longo dos muitos meses em que durou este trabalho, se pode relacionar directamente com as próprias características físicas do território municipal.

De facto, se nos ativermos aos números concretos daquilo que é hoje a realidade patrimonial do concelho de Cascais ou, pelo menos, àquilo que normalmente é considerado como objecto de valor patrimonial, depressa perceberemos que cerca de noventa por cento desses artefactos se inserem em tabelas tipológicas relacionadas com o simbólico. 





As conhecidas sandálias de calcário encontradas nas grutas artificiais de Alapraia, os artefactos votivos desenterrados do Espigão das Ruivas, as muitas capelas e ermidas, até à maior parte das habitações burguesas de finais do século XIX construídas no Monte Estoril e em quase toda a faixa costeira, são apenas alguns exemplos de facetas patrimoniais relacionadas com esta questão, salientando-se aqui, como resultado da observação directa dos objectos ou edificações em questão, o facto de que o passar dos tempos, com a consequente mudança das mentalidades, não foi factor suficientemente condicionante para influenciar grandemente nem tão pouco transformado de forma significativa a forma de pensar dos cascalenses.

De facto, desde a época pré-histórica até à actualidade, muito embora se tenham modificado os cultos, é possível vislumbrar um factor que serviu de fim condutor e que sempre condicionou a vivência simbólica destas comunidades, não só em termos de ocupação de espaços sagrados, como consequência deste facto, encontrar vestígios nos rituais habituais de modos de agir que possuem as suas raízes envoltas nos mantos cerrados das brumas do tempo. A explicação para este facto, sempre dependente da perspectiva com que se encara o fenómeno e que, de alguma forma pode ser condicionada pela interpretação pessoal da realidade, encontrar-se-á provavelmente no próprio carácter físico da humanidade. 

Desde tempos remotos, quando mesmo os aspectos mais básicos da tecnologia se encontravam fora do alcance da mente humana, que o Homem tem necessidade de explicar as causas dos acontecimentos que ocorrem quotidianamente. No entanto, e como a maior parte deles o transcendem ou ultrapassam a sua capacidade de explicação, a consequência antropológica é a procura no Além do elemento-chave para o deslinde do mistério, factor observável em Cascais como em todos os pontos do globo onde a influência física do Homem se fez sentir. 

Neste espaço, incentivado pelas características do território, onde o estado do mar condicionava a actividade piscatória, e onde os bons e maus anos agrícolas acabavam por influenciar a produtividade da terra, essas características são naturalmente incentivadas, uma vez que a explicação da fertilidade, ou mesmo a natural procura do melhor, condicionam o aparecimento de formas de pensar que se vão interiorizando e transformando em mitos; esses mitos, por seu turno, vão ter de ser enquadrados dentro das actividades normais do grupo, e para tal, com a ajuda das estruturas e instituição próprias da organização social humana criam-se ritos e rituais, que propagavam e consolidavam a primitiva interpretação pessoal do facto em questão; como consequência do desenvolvimento destas formas de agir, e uma vez que a sedentarização de um grupo humano implica, logo à partida, a necessidade de incentivo da ligação entre o indivíduo e a terra, aparecem então as implicações directas no património, seja em termos de construções de carácter puramente sagrado, como são, por exemplo, as necrópoles e os templos, até aos mais básicos vestígios das habitações pessoais, onde se espelham muitos dos aspectos ligados a esta vivência religiosa.





António Capucho e a Democracia do PSD

João Aníbal Henriques, 12.02.14



por João Aníbal Henriques

Sabendo-se de antemão que iria acontecer, até porque antes de iniciado o julgamento, os juízes já haviam anunciado a sentença que dele viria a resultar, não deixa de chocar a expulsão do Social-Democrata António Capucho do PSD.

A primeira grande questão que se coloca tem a ver com o próprio perfil de António Capucho. Fundador do PSD, onde esteve desde a primeira hora com Sá Carneiro, o ex-autarca de Cascais desempenhou ao longo das últimas quatro décadas cargos de grande destaque na vida política Nacional, dando corpo e cara pelo seu partido e, principalmente, pela ideologia Social-Democrata na qual acredita e que sempre defendeu. Foi Secretário-Geral do partido, deputado, secretário de estado, ministro e líder do grupo parlamentar, antes de ter decidido dedicar-se à sua terra, ganhando a presidência da Câmara Municipal de Cascais por três vezes e de ter sido um destacado membro do Conselho de Estado.

Ou seja, Capucho representou, defendeu e lutou pelo seu partido e pela Social-Democracia uma vida inteira e parece que o PSD sempre valorizou o que ele fez. Agora, sem apelo nem agravo, de forma cega e pela mão de “escravos dos estatutos” resolveu que já não lhes interessava tê-lo com eles. E das duas uma: ou mudou António Capucho – o que efectivamente é notório que não aconteceu – ou mudou o PSD…

Enquanto edil de Cascais, concorde-se ou não com todas as decisões tomadas por ele, António Capucho assumiu uma postura de grande rectidão no cumprimento daquilo que propôs aos munícipes que o elegeram, por três vezes e sempre com maioria absoluta… Foi capaz de se manter irredutível no travão à especulação imobiliária que grassava em Cascais, lutando contra poderes enormes e muito consolidados no Concelho e, depois, com um grau de respeito pelos outros e por quem pensa de forma diferente (coisa a que Cascais já não estava habituado), tratou sempre com consideração os cascalenses que a ele se dirigiram, ouvindo as suas ideias e propostas, aceitando algumas e recusando outras, mas sempre com o cuidado de explicar as suas decisões e de as transmitir com respeito por aqueles que as enviaram.

Esta prática foi, aliás, a mesma que o levou a deixar a Câmara de Cascais, entregando a herança do seu trabalho ao PSD e de, em linha com a decisão tomada pela Concelhia local do partido, apoiar e integrar a candidatura do partido em Sintra…

Mas o partido, esse que ele ajudou a criar e que sempre defendeu, já não se guiava pelos princípios de sempre e pela doutrina deixada por Sá Carneiro. A rectidão e a linearidade da sua prática, conjugada com a honestidade e a verdade que serviram de guia ao seu trabalho autárquico, chocavam de sobremaneira com os interesses instalados, com a prática suja que se havia institucionalizado e com um conjunto de gente que defendia ideias diferentes. Os novos dirigentes nacionais do partido, contrariando a vontade dos seus militantes de Sintra, os interesses de Sintra e dos Sintrenses e (pasme-se) até os interesses eleitorais do próprio PSD, decidiram pura e simplesmente anular a candidatura já anunciada e expulsar do partido aqueles que ousaram manter a rectidão da sua prática social-democrata.

Se, numa primeira perspectiva parece ser um problema interno do PSD, que deveria incomodar unicamente os militantes daquele partido e não a generalidade dos Portugueses, uma análise mais atenta permite verificar que o não é. Pelo contrário. Com a decisão que agora tomou, o PSD assume um paradigma de funcionamento assente em pressupostos que, dadas as responsabilidade que o partido teve, tem e terá ainda nos destinos de Portugal, extravasa de forma preocupante as suas fronteiras internas e implica gravemente no devir quotidiano dos Portugueses em geral.

Utilizando um guião de práticas que parece decalcado do que de pior se fez em Portugal há cem anos atrás, quando as eleições eram uma farsa na qual todos fingiam acreditar, a liberdade era uma utopia para artistas desolados e a democracia uma palavra vã que não servia para nada, o PSD voltou ao caciquismo trauliteiro que se rebola perante as revogações reiteradas das decisões irrevogáveis, sem laivo de vergonha, de princípios ou de confiança.

Este partido novo que agora governa Portugal, como infelizmente os restantes do dito arco do poder, vive encerrado sobre si próprio, sobre os seus líderes que fazem assentar o poder nos exércitos de apaniguados que se vão digladiando pelos lugares e pelas migalhas que o exercício rotativo do poder lhes vai deixando…

António Capucho já não cabe neste PSD, porque morreram as ideologias, os princípios, os valores, a educação e o respeito. Assuma-se que com eles também já morreu a liberdade e a democracia.

E se os Portugueses não forem capazes de lhes retirar o poder, vai morrer também Portugal. 

O Triste Caso da Bandeira de Portugal

João Aníbal Henriques, 18.10.13

 

 

Depois de o presidente da república ter hasteado a Bandeira Nacional de pernas para o ar, eis que o primeiro-ministro de Portugal, num país estrangeiro onde estava a representar os interesses nacionais, o faz perante uma bandeira deturpada, obviamente diferente da oficial.

 

No primeiro caso, os altos dignatários que estavam na Câmara Municipal de Lisboa poderiam ter parado o que estavam a fazer e endireitado a bandeira demonstrando assim o respeito que lhes merece Portugal. No segundo, poderiam facilmente ter substituído a bandeira errada, evitando envolver a figura do chefe de estado nesta situação anormal. Mas não o fizeram.

 

Poderão parecer pormenores sem importância. Poderá parecer nada valer perante a situação de caos nacional em que embrulharam Portugal. Poderá parecer assunto desinteressante perante o número de desempregados e de pobreza que neste momento existem no nosso País.

 

Mas é profundamente significativo por demonstrar bem o desrespeito a que está sujeito Portugal.