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cascalenses

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A Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição do Cercal do Alentejo

João Aníbal Henriques, 01.08.16

 

 
 
por João Aníbal Henriques
 
Sendo provável que o actual edifício tenha substituído um anterior espaço de culto, nada se saber sobre o que existia no local onde agora se ergue a Igreja Matriz do Cercal do Alentejo, com dedicação a Nossa Senhora da Conceição, antes do Século XVIII.
 
De facto, o templo apresenta características vincadas ao período em questão e cumpre integralmente o normativo imposto pela Ordem de Santiago da Espada para a construção deste tipo de estruturas.
Com uma tipologia assente nos princípios basilares da arquitectura vernácula Portuguesa, onde a simplicidade das linhas contrasta com a efusiva decoração rococó, a igreja prima pela sua funcionalidade bem integrada na existência eminentemente rural do Cercal do Alentejo.
 
 
 
 
Na sua fachada, marca presença a espada da Ordem de Santiago, como sempre envolvida pela sugestiva inclusão da flor-de-lis, simbolizando a pureza original e também a singeleza da existência, num ímpeto de criatividade que vem ajudar a distorcer o quotidiano agrícola da população que a frequenta.
 
Localizada no centro da povoação, reformatando a planta geral da localidade a partir do seu eixo devocional, a Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Cercal do Alentejo, recupera um dos mais ancestrais arquétipos da Portugalidade, assumindo a Conceição de Nossa Senhora como ponto de partir para a viagem simbólica em direcção às origens primordiais da própria humanidade. A senhora que concebe, imaculada por intervenção divina, sendo um dogma recente do Catolicismo, foi desde sempre o principal elemento propulsor da religiosidade Portuguesa, recriando mitos antigos, bem visíveis, por exemplo, na generalidade dos sítios arqueológicos megalíticos, e dando forma a uma noção do sagrado que transcende o próprio real.
 
 
 
 
Na sua origem profunda, o culto à Senhora da Conceição, rainha e senhora de Portugal, transporta-nos para as origens desconhecidas dos antigos cultos pagãos (e mesmo pré-históricos), nos quais a senhora prenha, responsável pela fertilidade das terras e das gentes, se associa sempre á dependência profunda dos ciclos agrícolas e dos desmandos da própria natureza.
 
Singela e simples, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição do Cercal é monumento angular que nos oferece as pistas necessárias para conhecer e compreender Portugal.

A Igreja de Nossa Senhora da Conceição em Viseu

João Aníbal Henriques, 27.07.16

 

 
 
por João Aníbal Henriques
 
A Igreja de Nossa Senhora da Conceição, situada na zona da Ribeira de Viseu, é um dos mais interessantes monumentos da Capital da Beira Alta.
 
O carácter singelo da sua fachada, ostentando a traça típica do Século XVIII e o carácter chão que enquadra a generalidade dos imóveis que se situam junto às margens do Rio Pavia, em Viseu, foi profundamente alterado com a construção, já em pleno Século XX, do seu adro de grandes dimensões e das escadarias monumentais que lhe dão acesso.
 
 
 
 
O carácter sagrado do local onde se situa está bem patente na sistemática reutilização sempre cultual que o mesmo tem. No Século XVI, ali se situava uma antiga capela dedica a São Luís, Rei de França, cuja imagem continua num dos altares laterais da nova igreja. Nos materiais utilizados para a sua construção, encontram-se ainda muitos vestígios reutilizados de outros templos existentes neste local e de antigas capelas entretanto demolidas nas vizinhanças. É o caso das cantarias da antiga Capela de São Jorge da Cava, simbólicas pela conotação eminentemente simbólica da sua evocação, bem como de diversas peças escultóricas ali colocadas e que denotam a importância deste edifício na definição das dinâmicas de culto da Cidade de Viseu.
 
São ainda de salientar, pelo enquadramento cénico que proporcionam, a imensa escadaria colocada junto à fachada e que dá acesso ao adro, numa obra monumental que data do início do Século XX, e o interessante gradeamento que a envolve e que foi oferecido por um devoto Portuense de Nossa Senhora da Conceição. Em 1907 foi colocado no nicho desta escadaria uma imagem antiga do Senhor da Boa Fortuna, cuja proveniência se perdeu.
 
 
 
 
A sua situação geográfica, entre a margem do Rio Paiva e o início de um dos oito troços da Cava do Viriato, faz desta igreja um dos pontos fulcrais numa visita a Viseu, ajudando a perceber a sua permanente ligação à vivência rural das beiras e à singeleza mística de um povo que, apesar de materialmente pobre, foi sempre riquíssimo em termos culturais.