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Henrique Felgar e a Irmandade de Santa Cruz e Passos de Viseu

João Aníbal Henriques, 30.08.16

 

 
 
por João Aníbal Henriques
 
Em 1907, no final de um quente dia primaveril, foi solenemente recriada a Irmandade de Santa Cruz e Passos de Vizeu, cujo compromisso foi assinado no ano seguinte em cerimónia que decorreu na mesma cidade beirã.
 
O fundador da instituição foi o Bispo Gonçalo Pinheiro, natural de Setúbal, que foi nomeado para a capital da Beira Alta em 1553, onde ficou até ao ano da sua morte, que aconteceu aos 77 anos em 1567.
 
Durante este longo lapso de tempo, Sua Eminência notabilizou-se por várias obras de índole religioso e social em Viseu, tendo deixado marca indelével nos contornos da cidade que hoje conhecemos.
 
 
 
Preparando a sua morte, concebeu e mandou construir uma capela funerária, na Sé de Viseu, que destinou para seu túmulo pessoal. Para tal, alterou a configuração original do templo e mandou reedificar com o nome de Capela da Cruz a antiga capela de São Sebastião. Mas, tendo falecido antes da conclusão das obras, foi já o seu sobrinho, Miguel Cabedo de Vasconcellos, desembargador da Casa da Suplicação, quem se encarregou da finalização dos trabalhos, para ali tendo transportado o caixão onde descansava o corpo do tio. Pouco tempo depois, foi também ele o responsável pela criação original da Irmandade de Santa Cruz e Passos, cuja sede ficou instalada na dita capela funerária onde ficara o antigo Bispo da cidade.
 
Cerca de três séculos depois, já em 1855, foi restabelecida a irmandade e criado novo compromisso que determinava a transladação da veneranda imagem do Senhor dos Passos desde a antiga Capela da Cruz para a renovada Igreja de São Miguel, que havia sido cedida à irmandade pelo então Cabido da Sé de Viseu.
 
Na cerimónia de recriação do acto, efectuada a 11 de Abril de 1907, foi assinado o compromisso definitivo, pelos 246 Irmãos presentes, tendo sido eleitos os corpos directivos da instituição. Como Provedor foi eleito Luiz Ferreira de Figueiredo; como Secretário, José de Almeida Marques; como Tesoureiro, António Gião Guimarães; como Procurador, António Augusto da Costa e Liz; como Mordomo, António de Figueiredo Caessa; e como Deputados, José Ferreira Baptista e João Maria d’Almeida.
 
 
 
 
Henrique Simões Felgar, industrial têxtil sedeado na Ribeira de Viseu, tomou posse como Irmão da Irmandade de Santa Cruz e Passos de Vizeu, com o número 1541, tendo, de acordo com os estatutos em vigor nessa época, tomado igualmente posse a sua mulher, D. Maria Ermelinda Queiroz.  
 
Com este acto solene, a que não era estranha a imensa devoção de Henrique Felgar pelo significado profundo da Santa Cruz e pelo peso institucional do Senhor dos Passos, em cuja procissão anual participava activamente, reforçaram-se os laços entre o industrial Poiarense e a cidade onde se estabeleceu.