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A Via-Rápida de Cascais: Vícios Suburbanos numa vila (ainda) especial...

João Aníbal Henriques, 26.04.17

 

 
 
A inauguração do CascaisVilla, em Novembro de 2001, representou o culminar de uma verdadeira revolução urbanística em Cascais. A substituição da antiga Rua Padre Moysés da Silva, com os seus saudosos relvados sempre bem cuidados, pela nova Avenida Dom Pedro I, com o seu perfil de via rápida em pleno coração da vila, inverteu por completo a urbanidade de Cascais, transformando drasticamente a velha e charmosa urbe em mais um moderno e incaracterístico subúrbio de Lisboa.
 
A nova porta de Cascais, encabeçada pelo popularíssimo “Titanic”, foi projectada para facilitar a entrada de automóveis na vila, deixando para segundo plano as preocupações com os peões e com o carácter antigo desta vila tão especial. As quatro filas de trânsito paralelas, atravessadas somente por quatro míseras passadeiras de peões, promovem a velocidade automóvel e dividem literalmente a velha povoação em duas partes desiguais.
 
Os semáforos foram pensados para deixar os nervos em franja a qualquer incauto passeante. O intolerável tempo de espera para os peões, aliado à falta de sincronização entre as passagens, faz com que a travessia da avenida demore tanto tempo que a maior parte das pessoas acaba por corajosamente atravessar com sinal encarnado pelo meio dos carros. Quando colocados perante a morosidade dos semáforos, os estrangeiros que ali chegam pela primeira vez e todos aqueles que não conhecem este pesadelo suburbano de Cascais, concluem geralmente que estes estão avariados e também eles empreendem a perigosa passagem…
 
E como se tal não fosse suficiente, decidiu-se juntar à confusão uma espécie atabalhoada de central de camionagem que, localizada no piso inferior do centro comercial, usufrui de um acesso literalmente encaixado à força e de forma abastardada no projecto inicial, criando uma zona de trânsito semi-condicionado e muito inseguro que poucos percebem e que ajuda a fomentar a precariedade de todo o espaço.
 
 
 
 
Mas, não bastando o carácter inusitado de toda esta situação, o recém-aprovado PDM de Cascais, ainda promove o agravamento da situação (Ver AQUI). Os parâmetros urbanísticos previstos para este local, ao invés de reverterem a situação e de devolverem a Cascais a dignidade urbana própria que a vila merece, multiplicam este carácter suburbano, potenciando o aumento da construção.
 
Poder-se-ia dizer que toda esta situação poderia ser facilmente resolvida a bem de Cascais e da sua população. E é verdade. Mas, embora as críticas sejam muitas e o rebuliço partidário se acenda a cada 4 anos, o certo é que ninguém ousou fazer as coisas de maneira diferente.
 
A Vila de Cascais, que durante muitas décadas foi local de charme e de reconhecida qualidade urbana e comercial, vem-se transformando aos poucos em mais um subúrbio desinteressante e incaracterístico de Lisboa. Os danos colaterais, bem visíveis no paulatino desaparecimento do comércio tradicional e no aumento da insegurança urbana, afectam a qualidade de vida de todos os Cascalenses, comprometendo a vocação turística municipal.
 
Mas, ao que parece, é mesmo esta a infeliz opção…  
 
 
 
 
Passadeiras? Para peões?...
 
As quatro passagens de peões existentes nesta via-rápida são insuficientes e foram desenhadas para potenciar o tráfego automóvel. O tempo de espera para peões, agravado com a falta de sincronização das mesmas, faz com que para muitos a única opção seja o atravessamento com luz encarnada, pondo em risco a sua vida e a daqueles que circulam nos carros. É intolerável!

 

As Armas de Cascais

João Aníbal Henriques, 04.10.16

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Representando a História e os principais valores associados à actividade piscatória no Concelho, o Brasão de Cascais foi aprovado pela Comissão Administrativa de Cascais em Abril de 1934.

 

A constituição heráldica das armas do Concelho, assente na Portaria nº 7839 desse mesmo ano, define com muita clareza os contornos do símbolo oficial de Cascais: "De prata com um castelo de vermelho, aberto e iluminado de prata, sobre uns rochedos de negro, saindo de um ondado de prata e de verde. O ondado coberto de uma rede de ouro. Coroa mural de prata de quatro torres. Listel branco com os dizeres Câmara Municipal de Cascais a negro. Bandeira vermelha. Cordões e borlas de prata e de vermelho. Lança e haste de ouro. Selo circular tendo ao centro as figuras das armas sem indicação dos esmaltes, tudo dentro de círculos concêntricos, com os dizeres Câmara Municipal de Cascais”.

 

A descrição oficial da simbologia municipal, explicada no próprio website oficial da Autarquia (www.cm-cascais.pt), diz que “o castelo representa a praça-forte, que impusera Cascais enquanto sentinela avançada de defesa da entrada do Tejo e, consequentemente, de Lisboa. Já o esmalte vermelho do castelo é a cor que, heraldicamente, significa vitória, ardis e guerras, e representa ainda a vida, a alegria, o sangue e a força. Por sua vez, a prata do campo das armas demonstra humildade e riqueza, qualidades dos naturais da região. O negro dos rochedos representa a terra e significa firmeza e honestidade, qualidades que também sempre distinguiram os naturais de Cascais. Note-se que o ondado de prata e o verde são as cores indicadas para simbolizar o mar, tanto mais que heraldicamente o verde corresponde à água e significa esperança e fé. Finalmente, a rede representa a vida activa dos cascalenses e o seu sustento, tendo a cor escolhida sido o ouro, que significa fortuna, poder e liberalidade. Refira-se, ainda, que o vermelho da bandeira teve por base a cor do castelo, o elemento principal das armas. A prata da coroa mural obedece à norma estabelecida para simbolizar as vilas”.

 

Apesar da importância destes símbolos na definição da Identidade Municipal de Cascais, com implicações práticas no devir quotidiano dos Cascalenses, têm sido vários os executivos municipais que optaram por recriar símbolos não oficiais que, utilizando estratégias de marketing que respondem a interesses propagandísticos distintos, acabam por desvirtuar e desformatar a imagem municipal.

 

O primeiro a proceder desta forma foi o Presidente José Luís Judas. Com o objectivo de demarcar a sua gestão do período precedente, optou por alterar o logotipo de Cascais. Embora mantendo o brasão oficial de forma integrada no novo desenho, acrescentou um facho de fogo cujo significado ainda hoje Cascais tem dificuldade em interpretar. Depois, com a chegada do Presidente António Capucho, tudo mudou novamente. Provavelmente com o mesmo objectivo de diferenciação relativamente ao período precedente, lá caiu definitivamente a heráldica oficial do município que foi substituída por um quadrado encarnado no qual surgia a letra C. E quando ele saiu, mantendo-se no entanto à frente dos destinos do Concelho a mesma coligação de partidos por ele criada, o logotipo foi alterado novamente, possivelmente respondendo à mesma necessidade de afirmação propagandística que enformara as alterações anteriores. Desta vez desaparece o quadrado e o nome Cascais surge em negativo sobre um rectângulo cinzento, com as letras esburacadas por pequenos círculos aleatoriamente colocados.

 

Dir-se-á que é somente uma questão de gosto e que as alterações sucessivas representam unicamente a passagem do tempo. Mas não é. Cada uma destas operações tem significativos custos associados que, sendo pagos pelos Cascalenses, não trazem nenhum benefício ao Concelho. Por outro lado, ao alterarem os símbolos que nos representam, deturpam a Identidade de Cascais, conduzindo a uma anomia generalizada que impede a representação efectiva dos Cascalenses.

 

O Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, aludindo à importância dos símbolos para a Identidade de Portugal, refere que “A diluição espiritual e cultural de um povo significará inevitavelmente a perca da sua identidade e a sua fusão num hoje sem futuro”.

 

Ninguém quer que isto aconteça na Nossa Terra!...

 

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As Festas do Judas em Cascais (*)

João Aníbal Henriques, 28.08.14

 

por João Aníbal Henriques

Há precisamente vinte anos iniciava-se um novo ciclo político em Cascais. Depois das Eleições Autárquicas de finais de 1993 (ver aqui), o novo Presidente da Câmara Municipal de Cascais, José Luís Judas, impunha um novo estilo na governação municipal, depois de ter vencido as eleições com uma maioria absoluta que levou o Partido Socialista a conquistar Cascais de forma completa.

No Verão desse ano de 1994, Cascais conheceu a primeira grande mudança na governação. As Festas do Mar, ancestral festejo organizado pelos pescadores locais e que tinha como ponto alto a Procissão de Nossa Senhora dos Navegantes, foram substituídas por um grande evento social que, enchendo Cascais com milhares de visitantes, alterou por completo a orientação original dos festejos.

A partir dessa altura, com engarrafamentos brutais que entupiam literalmente os acessos à Vila, com carros estacionados em cima dos passeios, gente e mais gente que em enormes multidões enchia por completo cada recanto de Cascais, tornou-se hábito vir à nossa terra assistir aos concertos gratuitos e, sobretudo, ao fogo-de-artifício que deslumbrava os visitantes. No meio da multidão que afluía à Baía ouviam-se as interjeições de gente completamente siderada pelo espectáculo que a Câmara Municipal lhes proporcionava, acompanhado, como se de uma grande produção de Hollywood se tratasse, pela banda sonora dos Vangelis.

E Cascais estava completamente rendido ao charme sindicalista do novo Presidente. Dos empresários locais, às grandes famílias tradicionais, passando pelos restaurantes, pelos construtores, pelos ambientalistas e por muitos anónimos que dão forma ao povo de Cascais, era quase unânime a aprovação de todos perante aquele que, sem a gravata de sempre e com a barba de cinco dias por fazer, voltava a colocar Cascais no mapa da animação de Portugal. E ai daqueles que ousassem criticar o novo Presidente! Com festas, feiras e barracas a encher permanentemente a Vila, eram poucos os que ousavam falar de assuntos como urbanismo, património, segurança, trânsito, saúde, turismo ou qualquer outra matéria importante para o equilíbrio estrutural do município Cascalenses!

Se havia escaramuças, então era o delírio! Lá vinham os jornais e as televisões entrevistar o senhor presidente que, cada vez mais popular, explicava que eram situações normais e que Cascais estava a recuperar a animação de outros tempos… Em fundo, sempre os Vangelis, numa apoteose de sucesso que enchia de fulgor a governação municipal.

Os efeitos desta onda de apoio não demoraram a fazer-se sentir. O novo presidente não respondia a cartas nem a faxes (ainda não existiam emails) de munícipes que ousassem questionar as suas prioridades e, num instante, as instituições nas quais existiam Cascalenses descontentes com a festança permanentemente instalada em Cascais, começaram a receber as notícias acerca das “faltas de verbas”, da “impossibilidade de dar continuidade aos apoios de sempre”, das “dificuldades com se debatia o orçamento municipal”, etc. etc.

Nos Paços do Concelho, multiplicavam-se os assessores, chefes-de-gabinete, directores municipais e outras figuras do género que, numa lógica de clientelismo partidário que tanta mossa  fez e faz ainda, respondiam aos Cascalenses. O Presidente só existia para aqueles que o elogiavam de forma incondicional e completamente dependente.

E o resto foi o que hoje, infelizmente, já se conhece muito bem: o descalabro geral de um Concelho onde o betão se multiplicou numa onda de destruição que pôs em causa a essência de Cascais; o património histórico e arqueológico num estado de incúria e de abandono que envergonhava quem gostava de Cascais; a saúde abandonada à sorte de um hospital esgotado há 30 anos e sem soluções à vista; a segurança a descambar para uma situação terrível onde a criminalidade grassava sem capacidade de resposta por parte das entidades competentes; o parque natural transformado num enorme depósito de entulho ao sabor dos projectos e das construções que por lá se iam fazendo; os bairros clandestinos legalizados à força e à custa do erário municipal como estratégia populista de manter o apoio eleitoral do PS; e muitas outras desgraças que os jornais da época traduzem de forma premente.

À sombra das festanças, dos cocktails, das inaugurações e das reportagens nas revistas da moda, a “mudança tranquila” ia encobrindo sob o manto da distracção e do engano a destruição paulatina da Identidade Cascalense.

Essa onda de destruição foi quase tão grande como o eram os bandos de visitantes que enchiam as ruas da Vila aos Sábados à noite, ao ponto de Cascais – o Cascais de sempre que conhecemos e do qual todos gostamos – quase ter desaparecido completamente, tendo sido quase impossível, mesmo depois de nove anos de uma presidência séria do Cascalense António Capucho, recuperar integralmente da destruição que a nossa terra conheceu.

Mas como epifenómeno que era, a popularidade de Judas acabou por se desvanecer. Durante o segundo mandato do então Presidente, depressa os Cascalenses perceberam que por detrás do cenário criado através de um clima de festa permanente havia um município que estava a destruir-se rapidamente.

Choveram as críticas e os ataques e muitos daqueles que tinham sido arrastados pelo apelo simpático do Presidente, acabaram por perceber que o fogo-de-artifício não era suficiente para encobrir os muitos desenganos que estavam a acontecer.

E virou-se o feitiço contra o feiticeiro, como sempre acontece. A verdade acaba sempre por impor-se e por chegar aos Cascalenses. 

Já temos 650 anos de História repleta deste tipo de acidentes…

 


(*) Qualquer semelhança entre o que se passou há vinte anos e o que acontece actualmente em Cascais não é mera coincidência…