Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

cascalenses

cascalenses

Dom Simão do Santíssimo Sacramento Pedro Cota Falcão Aranha de Sousa e Menezes – “Cascais Menino”

João Aníbal Henriques, 29.06.22
 
 
 
Foi sentida a homenagem prestada a Dom Simão Aranha, o ilustre escritor Cascalense que assinava com o pseudónimo Pedro Falcão, por ocasião da apresentação da terceira edição da sua obra-prima “Cascais Menino”. A iniciativa, promovida pela Fundação Pedro Facão & Yanrub, na pessoa da sua Presidente Mariana de Sande e Castro Campbell e pela União de Freguesias de Cascais e Estoril, na pessoa do seu Presidente Pedro Morais Soares, contou com a apresentação da vida e da obra do autor por João Aníbal Henriques. A galeria da Junta de Freguesia de Cascais, onde se partilharam as histórias e as memórias que o inesquecível Dom Simão Aranha deixou como legado aos vindouros da sua terra, não obedeceu a planos nem seguiu nenhum guião previamente definido. Cumprindo a sua vontade, vagueou sorrateiramente, como se fosse um menino, pelas aventuras que dão forma à magia de Cascais e das suas gentes. A aura de Cascais, como dizia a sua mulher Dona Ana Maria Burnay Aranha no prefácio0 da primeira edição, em 1980, assentava na capacidade única que Pedro Facão tinha para anular o curso do tempo. Acreditava ele que no palco da sua cabeça havia espaço para fazer reviver as figuras e as desventuras de todos aqueles que fizeram parte da sua infância. “Cascais Menino”, sem uma cronologia que permita considerá-lo como História, é a obra que melhor enquadra a diferença de Ser Cascalense. É leitura obrigatória para todos quantos desejem mergulhar na Alma desta terra.
 
O Livro pode ser adquirido na Livraria Galileu ou através do website da Fundação Pedro Falcão & Yanrub AQUI
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fotografias da União de Freguesias de Cascais e Estoril
 
 

 

José Sebastião de Leite Perry (1948-2018)

João Aníbal Henriques, 06.03.18

perry.jpg

 

A Câmara Municipal de Cascais homenageou hoje com um minuto de silêncio, por proposta do Vereador João Aníbal Henriques, o ilustre e saudoso Cascalense José Sebastião de Leite Perry (1948-2018) falecido inesperadamente há cerca de um mês.

 

Nascido em São Sebastião da Pedreira no dia 18 de Outubro de 1948, José Perry dedicou a sua vida a Cascais, onde viveu durante muitas décadas. Casado com Maria da Graça Souza Azevedo de Leite Perry, com quem teve cinco filhos, era figura sobejamente conhecida em todo o concelho de Cascais, onde desenvolveu de forma activa e empenhada um vastíssimo conjunto de actividades políticas de grande relevo. Dedicado à Freguesia de Cascais, em cuja Junta de Freguesia desempenhou diversos cargos em sucessivos mandatos autárquicos, José Perry foi sempre conhecido pela sua determinação férrea e pela força das suas convicções.

 

Controverso e sem medo de polémicas, abraçou muitas causas e lutou sempre até aos últimos limites pela verdade dos factos e pela concretização das ideias e dos projectos que considerava melhores para o futuro de Cascais. Não obstante, todos lhe reconheciam a generosa capacidade de aceitar divergências opinativas, tratando todos com o respeito democrático que considerava essencial na vida pública.

 

José Sebastião de Leite Perry foi, no decorrer dos últimos 35 anos, figura incontornável na vida política Cascalense, representando o seu falecimento o fim de uma era e de uma geração na defesa causa pública deste concelho. Faz parte das memórias de Cascais, da identidade municipal e é insubstituível.

 

Que descanse em paz.

A Via-Rápida de Cascais: Vícios Suburbanos numa vila (ainda) especial...

João Aníbal Henriques, 26.04.17

 

 
 
A inauguração do CascaisVilla, em Novembro de 2001, representou o culminar de uma verdadeira revolução urbanística em Cascais. A substituição da antiga Rua Padre Moysés da Silva, com os seus saudosos relvados sempre bem cuidados, pela nova Avenida Dom Pedro I, com o seu perfil de via rápida em pleno coração da vila, inverteu por completo a urbanidade de Cascais, transformando drasticamente a velha e charmosa urbe em mais um moderno e incaracterístico subúrbio de Lisboa.
 
A nova porta de Cascais, encabeçada pelo popularíssimo “Titanic”, foi projectada para facilitar a entrada de automóveis na vila, deixando para segundo plano as preocupações com os peões e com o carácter antigo desta vila tão especial. As quatro filas de trânsito paralelas, atravessadas somente por quatro míseras passadeiras de peões, promovem a velocidade automóvel e dividem literalmente a velha povoação em duas partes desiguais.
 
Os semáforos foram pensados para deixar os nervos em franja a qualquer incauto passeante. O intolerável tempo de espera para os peões, aliado à falta de sincronização entre as passagens, faz com que a travessia da avenida demore tanto tempo que a maior parte das pessoas acaba por corajosamente atravessar com sinal encarnado pelo meio dos carros. Quando colocados perante a morosidade dos semáforos, os estrangeiros que ali chegam pela primeira vez e todos aqueles que não conhecem este pesadelo suburbano de Cascais, concluem geralmente que estes estão avariados e também eles empreendem a perigosa passagem…
 
E como se tal não fosse suficiente, decidiu-se juntar à confusão uma espécie atabalhoada de central de camionagem que, localizada no piso inferior do centro comercial, usufrui de um acesso literalmente encaixado à força e de forma abastardada no projecto inicial, criando uma zona de trânsito semi-condicionado e muito inseguro que poucos percebem e que ajuda a fomentar a precariedade de todo o espaço.
 
 
 
 
Mas, não bastando o carácter inusitado de toda esta situação, o recém-aprovado PDM de Cascais, ainda promove o agravamento da situação (Ver AQUI). Os parâmetros urbanísticos previstos para este local, ao invés de reverterem a situação e de devolverem a Cascais a dignidade urbana própria que a vila merece, multiplicam este carácter suburbano, potenciando o aumento da construção.
 
Poder-se-ia dizer que toda esta situação poderia ser facilmente resolvida a bem de Cascais e da sua população. E é verdade. Mas, embora as críticas sejam muitas e o rebuliço partidário se acenda a cada 4 anos, o certo é que ninguém ousou fazer as coisas de maneira diferente.
 
A Vila de Cascais, que durante muitas décadas foi local de charme e de reconhecida qualidade urbana e comercial, vem-se transformando aos poucos em mais um subúrbio desinteressante e incaracterístico de Lisboa. Os danos colaterais, bem visíveis no paulatino desaparecimento do comércio tradicional e no aumento da insegurança urbana, afectam a qualidade de vida de todos os Cascalenses, comprometendo a vocação turística municipal.
 
Mas, ao que parece, é mesmo esta a infeliz opção…  
 
 
 
 
Passadeiras? Para peões?...
 
As quatro passagens de peões existentes nesta via-rápida são insuficientes e foram desenhadas para potenciar o tráfego automóvel. O tempo de espera para peões, agravado com a falta de sincronização das mesmas, faz com que para muitos a única opção seja o atravessamento com luz encarnada, pondo em risco a sua vida e a daqueles que circulam nos carros. É intolerável!

 

Dom Diogo de Menezes – Heróis & Traidores em Cascais

João Aníbal Henriques, 20.03.17

 

 
 
Entre 1580 e 1640, Portugal atravessou um dos mais negros períodos da sua História e Cascais desempenhou um papel essencial neste triste episódio. A traição do então Senhor de Cascais, que num acto hediondo vendeu a Nossa Terra à Coroa Espanhola, contrastou com a coragem heróica com a qual D. Diogo de Menezes defendeu Portugal. Pagou muito caro pela sua lealdade e foi indignamente executado na Cidadela de Cascais em 1580, deixando atrás de si uma lenda de glória que o tempo não vai conseguir destruir…
 
por João Aníbal Henriques
 
A perda da independência nacional, em 1580, foi um dos episódios mais negros da História de Portugal. Fruto da imberbe actuação do Rei Dom Sebastião no Norte de África, e dos muitos interesses que desde sempre corporizaram o poder político Português, o país mergulhou na sua maior crise de sempre, entregando o trono de Portugal ao usurpador Espanhol.
 
Apesar do então Senhor de Cascais ser traiçoeiramente partidário das pretensões de Filipe II de Espanha, o povo de Cascais não hesitou em apoiar a causa de Dom António, Prior do Crato, participando activamente na sua aclamação como Rei de Portugal. Até à implantação da república, em 1910, manteve-se na toponímia Cascalense uma homenagem sublime ao monarca Português, consubstanciada numa “Rua D. António I”, representando simbolicamente o leal apoio de Cascais à Causa Nacional.
 
 
 
 
Nessa altura crítica, quando o Rei Dom António escolhia os seus mais fiéis e bravos apoiantes para defender Portugal do avanço das tropas Espanholas, D. Diogo de Menezes, que tinha sido Governador de Ormuz e Vice-Rei da Índia, foi nomeado General e colocado como Comandante da Fortaleza de Cascais.
 
Soldado experiente e bem preparado, D. Diogo de Menezes organizou as suas parcas forças de forma a assegura a inexpugnabilidade da fortificação Cascalense perante o ataque Espanhol. E, quando no dia 27 de Julho, o Duque d’Alba desembarca em Sesimbra, Cascais estava a postos para defender Portugal.
 
Mas o Senhor de Cascais, acompanhado da sua cáfila de meia-dúzia de traidores, empenha-se em entregar aos invasores informações detalhadas sobre a defesa da terra, permitindo ao Duque d’Alba desembarcar inesperadamente na Lage do Ramil, junto ao Farol da Guia. E, não satisfeito com a sua traição, organiza a corja que o acompanha de forma a conseguir abrir as portas da fortaleza, onde D. Diogo de Menezes defendia activamente a Causa Portuguesa.
 
Derrotado pela diferença abissal de forças entre o seu pequeno contingente Cascalense e a enormidade do exército Espanhol, Diogo de Menezes é capturado depois de uma batalha renhida e terrível e invoca as leis da honra e da cavalaria para, em conformidade com a sua alta posição hierárquica dentro das tropas do Rei Dom António, o deixarem regressar a Lisboa para ajudar o monarca. Mas o invasor Espanhol, num acto que subverte a própria honra militar, manda executar o herói Português na própria parada da fortaleza…
 
 
 
 
Conta o historiador espanhol António de Herrera  y Tordesillas que “eram quatro da tarde e estava a praça apinhada de piques e arcabuzes alemães, e no meio dela via-se o cadafalso, onde o sangue nobre ia sujar os brasões de um dos maiores de Espanha, fazendo-o expiar as nódoas estampadas pela venialidade de haver esquecido quem era e o que devia aos seus antepassados e ao reino de Espanha”…
 
E na mesma linha, sublinhando a dignidade heróica de D. Diogo de Menezes na defesa corajosa da liberdade de Portugal, Ferreira de Andrade não hesita em indicar a traição do Senhor de Cascais como um dos actos mais ignóbeis da nossa História, em linha com a falta de dignidade e de honra que caracterizou a decisão brutal do Duque d’Alba: “Assim morreu nesta vila de Cascais um dos mais nobres e honrados fidalgos de então, pelo crime horrendo de ser Português. Uma mancha de sangue marcaria para sempre, como um estigma de ignomínia, os gloriosos feitos do grande general de Filipe II”.
 
D. Diogo de Menezes, heróico defensor da Portugalidade, morreu em Cascais a lutar ao lado dos Cascalenses pela defesa da independência de Portugal.  A sua memória, parte maior da Memória de Cidadania desta Nossa Terra, é pilar estrutural da Identidade Municipal.
 
Promover a memória dos seus feitos e a coragem que demonstrou ter na defesa de Portugal, é assim obrigação de Cascais, onde o seu sangue jorrou perante o desespero dos Cascalenses de então. Porque dos ecos da sua grandeza se retiram lições fundamentais para preparar o futuro das próximas gerações…

Maravilhas de Cascais - O Trilho Saloio da Ribeira das Vinhas

João Aníbal Henriques, 07.03.17

 

 
 
por João Aníbal Henriques
 
Está de parabéns a Câmara Municipal de Cascais pela excelente intervenção realizada no primeiro troço da Ribeira das Vinhas, entre as traseiras do Mercado Municipal e a Quinta do Casal Ventoso. A recuperação minimalista da antiga serventia saloia, praticamente sem interferências ao nível dos equilíbrios ecológicos do espaço, recupera a ancestral ligação entre Cascais e a suas origens rurais, promovendo a memória colectiva e a identidade municipal.
 
Respondendo a um desejo demasiado antigo expresso pelos Cascalenses no sentido de se proceder à recuperação da antiga serventia saloia da Ribeira das Vinhas, em Cascais, a edilidade requalificou recentemente o primeiro troço do velho trilho, entre a vila e o acesso à Pampilheira.
 
A intervenção, minimalista tal como advogavam os que defendiam o projecto (Ver AQUI), permite o usufruto de uma das mais impactantes paisagens de Cascais, descobrindo um recanto essencial para se conhecer e perceber a História Rural Cascalense (Ver AQUI).
 
Antigo trilho que ligava a vila às aldeias saloias do Cobre, Pampilheira, Murches, Birre e Zambujeiro, a Ribeira das Vinhas foi utilizada desde tempos imemoriais como espaço de troca entre as comunidades que subsistiam da agricultura e que se situavam na zona mais interior do Concelho, e as comunidades piscatórias e cosmopolitas do litoral.  Era através deste caminho de pé-posto, normalmente atravessado pelos grandes rebanhos de ovelhas que noutros tempos marcavam o panorama económico de Cascais, que a vila se abastecia dos bens mais essenciais, como o leite, o pão, a farinha, o queijo e as hortaliças. E era também através dele que, em burricadas que ainda perduram na memória dos mais velhos, as lavadeiras transportavam a roupa que lavavam nas suas aldeias.
 
 
 
 
Para além da imensa riqueza ecológica, bem visível através das muitas espécies de animais que sobrevivem naquele espaço, a Ribeira das Vinhas apresenta ainda um conjunto importantíssimo de património histórico, ao qual se juntam os complexos de grutas e uma paisagem de extraordinária beleza.
 
A intervenção agora concretizada pela Autarquia é, assim, um importante contributo para o fomento da cidadania em Cascais, com possibilidade de rapidamente se transformar num instrumento pedagógico e educativo para as escolas onde estudam as novas gerações de Cascalenses.
 
Sugestões para complementar e melhorar a intervenção agora concretizada:
 
 
 
 
PROLONGAMENTO DA INTERVENÇÃO
 
Sendo excelente, a recuperação agora concluída cinge-se aos primeiros metros da antiga serventia saloia. É essencial que a mesma se prolongue acompanhando o leito da ribeira, numa segunda fase até Alvide e à Quinta das Patinhas e, depois de se ligar ao Parque das Penhas da Marmeleira, atravessando o Vale do Zambujeiro e a Quinta do Pisão em direcção à Barragem do Rio da Mula.
 
 
 
 
RECUPERAÇÃO URGENTE DA ENTRADA
 
O troço existente entre as traseiras do mercado (que agora foi designado como Rua Padre Moysés da Silva) e o início do caminho, está num estado deplorável de abandono. Sem controlo de tráfego e coberto de viaturas por ali estacionam sem regras nem cuidado, é um imenso lamaçal quando chove e um mar de pó durante o tempo seco, impedindo o acesso e o usufruto do espaço recuperado.
 
 
 
 
MOBILIDADE COMUNITÁRIA
 

 

Permitindo uma ligação muito simples e rápida do centro de Cascais aos principais bairros da periferia, é urgente que a intervenção seja complementada com as ligações aos trilhos de Alvide, do Bairro de São José e do Outeiro da Vela. Para além de muitos simples de concretizar, porque os trilhos já existem há muitos séculos, devolverão às comunidades locais um meio acrescido de mobilidade e de acesso ao centro.  

Devolver a Ribeira das Vinhas a Cascais

João Aníbal Henriques, 25.01.17

 

 
 
O Vale da Ribeira das Vinhas, acessível a partir das traseiras do edifício do mercado, foi durante milénios um canal privilegiado de mobilidade para os Cascalenses. Era através dele, quando a vila dependia de forma directa do trabalho árduo e suado dos saloios que exploravam as pequenas unidades agrícolas situada no termo municipal, que chegavam a Cascais os legumes, as frutas e o leite que se produziam nas antigas aldeias rurais do Cobre, Murches, Zambujeiro, Malveira-da-Serra ou Janes. Era também através do caminho de pé-posto que acompanhava o serpentear das águas da ribeira, que as lavadeiras transportavam as roupas dos Cascalenses, num ciclo de interdependência que deu corpo à Identidade Municipal.
 
Ao nível dos costumes e das tradições, assim como nas crenças, nas práticas religiosas e na Fé, os Cascalenses construíram uma memória colectiva que reproduz um sentimento vivo e arreigado de Cascalidade. E grande parte desses usos e costumes, repetidos de forma reiterada ao longo de centenas de anos, concretizaram-se neste espaço extraordinário.
 
Paulatinamente abandonadas as pequenas explorações agrícolas que aí existiram até meados da década de 80 do Século passado, o Vale da Ribeira das Vinhas foi perdendo a sua importância no seio da comunidade Cascalense. As memórias antigas que integrava, foram-se apagando na medida em que iam morrendo os Cascalenses antigos que davam vida ao lugar, ao ponto de serem hoje muito poucos aqueles que conhecem este recanto encantado de Cascais.
 
 
 
   
Apesar disso, o Vale da Ribeira das Vinhas é ainda um dos locais de maior potencial para a Nossa Terra. Para além de ser uma via de comunicação acessível e confortável entre o centro da vila e os bairros periféricos, como o Bairro dos Pescadores, o Bairro da Caixa de Previdência, o Bairro da Assunção, a Pampilheira, o Cobre, o Zambujeiro, Murches, Alvide, Bairro Irene ou as Fontaínhas, permitindo transformar uma ida ao mercado, à praia ou à estação numa curta e inesquecível caminhada, o património histórico e natural ali existente, bem como a envolvente antropológica do local, poderiam ser facilmente aproveitados em favor do fomento da nossa identidade.
 
 
 
 
Assente no pressuposto de que a intervenção a realizar na Ribeira das Vinhas deve assumir um carácter minimalista, reduzindo ao mínimo o investimento público e rentabilizando os muitos equipamentos potenciais que ali subsistem, a nossa proposta passa pela recuperação do antigo caminho pedonal, integrando-o no património edificado ali existente, nomeadamente as azenhas, os moinhos e as várias estruturas agrícolas, complementado com a criação de uma bolsa de hortas urbanas que deveriam ser entregues à população. Nas componentes lúdica, pedagógica e turística, é essencial a recuperação das Grutas de Alvide e a recriação de vários trajectos pedonais e cicláveis associados à participação das escolas, associações juvenis cascalenses e aos agrupamentos de escuteiros.
 
Em ano de eleições, quando os poderes autárquicos se mostram naturalmente menos crispados perante as sugestões dos Cascalenses, vale a pena reforçar esta nossa proposta, convidando todas e todos os munícipes de Cascais para que literalmente invadam este espaço extraordinário.
 
A bem de Cascais!

A Areia e a Capela de São Brás em Cascais

João Aníbal Henriques, 09.12.16

 

 
 
por João Aníbal Henriques
 
Quando em 1997, em pleno processo de preparação do Levantamento Exaustivo do Património Cascalense, publiquei um trabalho sobre a história da ruralidade da Freguesia de Cascais (*), a povoação da Areia era ainda palco privilegiado das ancestrais tradições rurais que deram forma ao município de Cascais.
 
No Largo de São Brás, expressão máxima do sentido comunitário da localidade, congregavam-se os elementos principais de uma existência na qual a ligação aos trabalhos da terra e uma dependência extrema relativamente às agruras da natureza, se revezavam amiúde, representando o principal sustentáculo de um ideário comunitário comum que conduziu à arreigada identidade que a localidade ainda possui.
 
 
 
A Capela de São Brás, o chafariz e o lavadouro comunitário, partilham por ali o coração simbólico da Areia, dando forma a uma existência na qual a singeleza do quotidiano funciona como elemento motivador de uma forma de ser e de estar que fomenta o tecido social do local.
 
 
 
 
A Areia, de cujas origens pouco se conhece, apresenta um topónimo que deriva da proximidade à Praia do Guincho e a estrutura pobre dos seus solos. Mas, é também essa aparente fragilidade natural que, conjugando-se em processos dinâmicos de sobrevivência, vem determinar uma série de práticas que são vincadamente locais e extraordinariamente únicas no contexto da existência rural de Cascais e de Portugal.
 
Do período romano, o povoado dos Casais Velhos, com a milenar fábrica de púrpura e a ligação directa à cabeça do Império, representa a expressão máxima da sua monumentalidade, traduzida em algo que, apesar do abandono a que tem sido devotado ao longo dos últimos anos, é irrepetível e assume laivos de primeira linha no inventário do património Cascalense.
 
Mas a Capela de São Brás, situada em plano coração da Areia, é também ela eixo essencial na estruturação moderna da localidade, representando um papel catalisador no desenvolvimento da estrutura social que há-de definir o devir quotidiano naquele espaço.
 
Sem origem cronológica conhecida, a Capela de São Brás que hoje conhecemos será certamente o resultado de um processo de paulatino desenvolvimento. A sacralidade do local, provavelmente marcado por um antigo templo e/ou ermida que por lá tenha existido, foi necessariamente o ponto de partida de uma expressão cultual que gera em seu torno os elementos necessários à fixação humana. Em 1527, quando se realizou o primeiro recenseamento à população, a Areia tinha somente nove vizinhos, o que corresponde a pouco mais de duas dezenas de pessoas, que entre si partilhavam os parcos recursos que resultavam do trabalho da terra.
 
 
 
 
A pobreza material da população, cessada que estava a exploração riquíssima da produtiva fábrica de púrpura, está bem expressa na formulação urbanística da localidade e, sobretudo, no carácter chão da arquitectura desta sua capela. De traços simples e simbolicamente próxima dos valores muito regulares que sempre caracterizaram a existência local, a Capela de São Brás conjuga em si os principais elementos que nos ajudam a perceber e a conhecer a povoação.
 
A devoção a São Brás, o santo arménio que começa a sua vida adulta como médico e que abandona tudo o que tem e o seu dia-a-dia na cidade depois de ouvir o chamamento de Deus, é também ela ilustrativa do carácter longínquo que a Areia representou durante muitos anos, em linha com a opção do Santo por uma vida de eremita, devotado à interioridade e à oração, em comunhão profunda com a solidão da natureza. A singeleza da história, a mesma que caracteriza a Capela de São Brás e mesmo o devir quotidiano na localidade da Areia, dão nota desse desligar sentido das correntes que nos prendem permanentemente à clausura da materialidade, representando um ímpeto de libertação que é resultado da proximidade a Deus.
 
A Areia, na sua ligação a São Brás, representa assim a profundidade da entrega devocional de Cascais à causa do despojamento material, numa sentida e assumida opção pela simplicidade extrema.
 
As duas devoções que estão nos altares secundários deste templo, entregues a Nossa Senhora de Fátima e ao Sagrado Coração de Jesus, são também elas expressivas deste caminho, denotando uma continuidade na prática devocional que terá obrigatoriamente de assentar numa vivência comunitária solidamente assente num conjunto e valores simbólicos desenvolvidos ao longo de muitos anos.
 
Visitar a Areia e a Capela de São Brás, num exercício de libertação perante a opressão sensível do charme de Cascais e dos Estoris, é assim uma oportunidade para entender a perenidade desta escapatória axial na formulação mais profunda da comunidade e do património Cascalenses.
 
 

 

(*) HENRIQUES, João Aníbal, História Rural Cascalense, Cascais, Junta de Freguesia de Cascais, 1997.

A Lenda da Boca do Inferno

João Aníbal Henriques, 07.12.16

 

 
 
por João Aníbal Henriques
 
A dicotomia entre o mal e o bem, num jogo em que as memórias efectivas se misturam amiúde com as entoações próprias dos sonhos, assume especial importância na Boca do Inferno, em Cascais, um recanto encantado no qual se conjuga uma paisagem extraordinária com uma inesquecível história.
 
Diz a lenda que naquelas paragens, num castelo cujas memórias pétreas nunca chegaram a olhos humanos, vivia um gigante maligno que padecia do maior dos males que afectam a humanidade: o amor. Profundamente apaixonado por uma donzela maravilhosa que não o correspondia, resolveu tomar medidas drásticas e consumar o seu amor de forma subliminar. Montado no seu cavalo, atacou o palácio onde a donzela vivia com o seu pai e raptou-a levando-a para o seu castelo de Cascais.
 
 
 
 
A donzela, apaixonada por seu turno por um ilustre cavaleiro que há muito a cortejava, não cedeu às intenções do gigante. E este, para apaziguar o seu ímpeto, fechou-a no alto da maior torre do seu castelo, prendendo-a até que ela se convencesse da necessidade de claudicar ao amor que ele lhe queria dar.
 
Mas o noivo apaixonado, tomado da força que só o amor consegue despoletar, insinuou-se no castelo e conseguiu libertou a sua amada, fugindo dali numa cavalgada desenfreada no seu magnífico cavalo branco que quase parecia voar.
 
 
 
O gigante, quando deu conta da fuga da donzela ficou furioso. Com artes mágicas que só ele conhecia e os ímpetos malignos que a fúria imensa havia despertado, lançou uma praga sobre os fugitivos e sobre eles fez crescer uma enorme tempestade.
 
Apanhados pela intempérie nuns rochedos junto ao mar, o casal de apaixonados tudo fez para conseguir fugir da influência do seu maléfico perseguidor. Mas, provocando um sismo que partiu as arribas e fendeu o chão, o gigante fez abrir sob os seus pés um enorme buraco onde ambos caíram com o seu cavalo e onde desapareceram para sempre sem eixar rasto.
 
Estava aberta a porta para o inferno e esta jamais se voltaria a fechar…

 

 
 

O Lago da Praia do Guincho em Cascais

João Aníbal Henriques, 05.12.16

 

 
 
A acumulação anormal de pluviosidade, em conjunto com o crescimento das dunas, criou um cenário onírico na Praia do Guincho. O lago que ali nasceu, em Dezembro de 2016, deslumbrante no contraste entre o céu, a serra e o mar, compõe um postal extraordinário que ficará na memória de Cascais e dos Cascalenses.
 
 

 

 

 

 

 

O Círio de Nossa Senhora do Cabo na Paróquia de Cascais

João Aníbal Henriques, 02.12.16

 

 
 
por João Aníbal Henriques
 
Depois de um interregno de mais de 50 anos desde a sua última visita a Cascais, a Veneranda Imagem Peregrina de Nossa Senhora do Cabo regressou à Nossa Terra, no ano de 2002-2003 retomando assim o milenar Círio Saloio do Cabo Espichel.
 
A iniciativa do então Prior de Cascais, Padre Raul Cassis Cardoso, foi essencial para a recriação daquela que é uma das mais antigas tradições Cascalenses. Numa parceria com a Sociedade Propaganda de Cascais, que nessa altura assumiu a responsabilidade de recuperar a memória ancestral daquele importante acto devocional, foi possível reconstituir os rituais que a passagem do tempo havia feito esquecer e recriar toda uma existência religiosa que há muito tempo não existia nesta Freguesia.
 
 
 
 
Para o êxito desta iniciativa, que consolidou de forma efectiva a Identidade Cascalense, foi essencial o trabalho conjunto e o apoio da então Câmara Municipal de Cascais, presidida pelo Dr. António Capucho, da Junta de Freguesia de Cascais, Presidida por Pedro Silva, e da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Cascais. Mas, acima de tudo, foi de primordial importância a forma extraordinariamente empenhada e motivada que caracterizou a participação dos cascalenses e das diversas instituições da sociedade civil de então nas muitas cerimónias que fizeram parte deste Círio.
 
 
 
 
O Círio de Nossa Senhora do Cabo Espichel, expressão ancestral de uma devoção profundamente ligada à terra e à sobrevivência das comunidades dela dependentes, recupera a antiga lenda do aparecimento de Nossa Senhora a um saloio de Alcabideche precisamente no ponto de ligação entre Cascais e Sintra. O investigador Vítor Adrião, no seu livro “Sintra Serra Sagrada”, aponta expressamente a sobreposição simbólica do Cabo Espichel, promontório sagrado da Portugalidade, à imagem ideal do Monte Carmelo, eixo de Fé da comunidade religiosa carmelita que em Cascais veio ocupar e dinamizar o antigo Convento de Nossa Senhora da Piedade e que, dessa forma, congregou as mais sublimes expressões da sabedoria sagrada na comunidade Cascalense. Diz Adrião que “os dogmas teologais terão servido, tão só, de capa protectora, ante o vulgo profano, ao entendimento iluminado da Sabedoria Divina oculta dentro das paredes pias deste Colégio de Filosofia, esta que é, sabe-se, o umbral dialéctico da Teosofia”.
 
O Círio Sagrado de Nossa Senhora do Cabo, profundamente sentido pela comunidade cascalense, insere-se assim numa dinâmica de Fé da qual depende a existência efectiva dos mais ancestrais arquétipos de pensamento de Cascais. É essa ligação, quantas vezes menosprezada ao longo da História mais recente desta terra, que determina e possibilita a criação e desenvolvimento dos laços essenciais de cidadania comunitária na Nossa Terra.
 
 
 
 
A memória colectiva de Cascais, em 2002-2003 como em todas as outras vezes em que a Imagem de Nossa Senhora do Cabo por aqui passou, ficou profundamente marcada por este acontecimento que só se repetirá, no âmbito da concretização da praxis determinada pelo ancestral círio saloio, em 2032. Nessa altura, recuperando as memórias calorosas que marcaram o início do Século XXI e o despontar do novo milénio, Cascais renovará os votos de Fé e devoção que marcaram sempre a sua História, reforçando os vínculos de cidadania que esta última visita de Nossa Senhora do Cabo foi capaz de fazer renascer.
 

A bem de Cascais!

 
Fotografias da autoria de Sara Liberdade