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Sai uma Privatização para a Linha da CP de Cascais

João Aníbal Henriques, 29.10.15

 

 
 
E vez em quando, porque lhe apetece, a administração da CP decide mudar as regras de utilização dos seus comboios.
 
Desta vez, acompanhada por uma campanha de comunicação feita num tom irritantemente opressivo, decidiu que os títulos de transporte mensais (vulgo passes) deverão também eles passar a ser activados antes de cada viagem.
 
Nada disto seria problemático se todas as estações tivessem cancelas que obrigassem os utentes a utilizar o seu passe para as abrir e para aceder ao cais. Mas, em muitas das estações da linha, não só não existem as ditas cancelas como os terminais de activação são poucos e normalmente estão avariados. Ou seja, numa utilização frequente e activa do passe, é praticamente impossível a um utente com passe proceder sempre à activação do seu título, até porque mesmo passando o passe pelo activador muitas vezes a dita activação não fica feita. E não há como saber.
 
Ora dentro dos comboios, os revisores têm ordens para multar quem não tiver o passe activado. E se há alguns simpáticos, que até cumprimentam os passageiros com um normal bom dia ou boa tarde e percebem que o passe está pago, é válido e o utente não conseguiu passa-lo com êxito pelo activador, a grande maioria, sem um cumprimento, um sorriso ou qualquer atenção para o facto de ser o dinheiro pago pelo passe que lhe paga o ordenado mensalmente, pura e simplesmente expulsa o passageiro na primeira estação onde o comboio para e exige que ele vá ao activador e regresse a casa no comboio seguinte!
 
E a CP faz isto, no meio de um clima de crispação crescente entre os seus funcionários e os utentes (leia-se “clientes”) numa altura em que acumula problemas e dificuldades que não consegue resolver. Os comboios andam sujos, mal-cheirosos e não cumprem horários. Muitos dos revisores parece que engoliram um sapo logo pela manhã e são incapazes de concretizar a sua tarefa humanamente… Isto para não falar nos atrasos, nos comboios suprimidos sem apelo e sem agravo e sem respeito nenhum pelos passageiros que adquiriam os seus títulos de transporte em boa fé e nas greves.
 
Sim. As greves, compulsivas, sistemáticas e inadmissíveis que colocam o ónus das dificuldades de funcionamento da empresa e dos sindicatos sobre as costas dos utentes. As greves que carregam exigências que ninguém percebe e que geram prejuízos graves não à CP nem aos seus funcionários (à CP porque recebe sempre o valor mensal dos passes e poupa em ordenados e em material durante a vigência da greve e os funcionários porque têm o seu ordenado sempre assegurado no final do mês), mas sim aos muitos milhares de utentes que pagam o seu passe e às empresas nas quais eles trabalham e onde têm dificuldades enormes em chegar a tempo.
 
O que falta na linha de Cascais da CP? Tudo.
 
Tudo que incluí novas carruagens, nova maquinaria, novos horários, novos administradores e novos funcionários.
 

 

Como já se viu que aos partidos políticos que controlam o país não estão interessados em nada disto, resta apelar a que se privatize a linha de Cascais. Muito depressa!

A Saga da Linha da CP em Cascais

João Aníbal Henriques, 19.01.15

 

 

Em 1999, no âmbito da preparação das propostas da Fundação Cascais no processo de revisão do Plano Director Municipal, estivemos com Filipe Soares Franco e Pedro Cardoso, numa reunião com responsáveis pela CP para conhecermos a real situação em que se encontrava a linha de comboios de Cascais.
 
Nessa altura (já lá vão 16 anos) conhecemos a realidade dramática com a qual nos debatíamos: Uma linha tecnicamente em fim de vida, com problemas variados e muito graves e, sobretudo, com a necessidade de uma intervenção estrutural urgente que permitisse a alteração da bitola da linha para que nela pudessem circular comboios mais modernos.
 
A substituição do material circulante era já nessa altura impossível por não existirem comboios novos à venda no mercado e por estar a acabar o stock de peças. E a manutenção do que existia, depois de muitas décadas de trabalho, começava a ser tarefa cada vez mais complicada, por serem muitos e graves os problemas que iam surgindo quotidianamente.
 
 
Alertadas as entidades oficiais, desde o governo de então até à autarquia, passando pelos partidos políticos da oposição e pelos muitos autarcas que nos diversos órgãos municipais representavam e diziam defender os interesses dos Cascalenses, ninguém se importou realmente com o que estávamos a dizer.
 
A esperança de vida da linha era, nessa altura, superior a um mandato eleitoral e, por isso, seria problema que teria de se resolvido por quem viesse governar Cascais mais para a frente…
 
Esta semana, quase duas décadas depois desse nosso alerta, a CP veio anunciar uma redução dramática de 51 comboios diários na linha de Cascais. Com reduções de horários, que ficam a dever-se à falta de material e não à falta de utentes, esta redução configura um importante revés para a vida dos milhares de passageiros que diariamente utilizam a Linha de Cascais, e também para as acessibilidades turísticas à Costa do Estoril.
 
Há 16 anos atrás, quando tornámos público este problema e o incluímos no conjunto de propostas que entendíamos que deveriam constar na revisão do PDM, ninguém quis saber e os actuais autarcas de Cascais, que nessa altura já eram autarcas, assobiaram para o lado e fingiram que não era nada com eles.
 

 

Agora, perante as evidências, todos gritam de forma unânime! Agora, tentando rentabilizar a seu favor o desencanto e o descontentamento dos utentes, já todos se preocupam com o que está a acontecer. Porque é este o Cascais que temos. 

Os Tristes 125 Anos da Linha de Cascais

João Aníbal Henriques, 30.09.14

 

 

 

No dia 30 de Setembro de 1889 aconteceu a viagem inaugural do comboio na Linha de Cascais. Cumprem-se hoje 125 desde essa data, marcando uma era de crescimento, riqueza e prosperidade que deu forma à ‘Linha do Estoril’ e ao Cascais que hoje conhecemos.

 

Sem a inauguração da linha férrea e a sua posterior electrificação, já sob a genial capacidade de visão de Fausto de Figueiredo, Cascais não seria certamente o que é hoje. O comboio e a linha deram forma a uma nova maneira de se viver, de se ser e de se estar que transformou por completo a paisagem e as gentes que à sua volta se instalaram.

 

Num dia simbolicamente tão importante quanto é este 125º aniversário, a CP poderia ter festejado oferecendo rebuçados aos passageiros, optado por viagens livres entre Lisboa e Cascais, publicado livros para distribuir pelas escolas e pelas crianças da linha, ou mil e uma outras coisas que reaproximariam os Cascalenses do comboio e aprofundariam a identidade local.

 

Mas não. Em parceria com a Câmara Municipal de Cascais, a CP decidiu comemorar estes 125 anos suprimindo uma série de comboios sem aviso prévio, por alterar horários sem qualquer espécie de critério, amontoando milhares de pessoas pelas estações, sem dar qualquer espécie de informação acerca do previsível retomar dos horários de sempre, e assistindo impavidamente ao desespero de que precisa de chegar ao trabalho, tendo para isso pago os seus passes e bilhetes, sem saber quando isso vai acontecer.

 

E fê-lo, sem que se tenha ouvido sequer um pedido de desculpa aos utentes, porque a opção para comemorar este aniversário foi trazer para Cascais um comboio histórico no qual decorre uma reservada festa com os convidados ilustres de sempre. Parado na estação de Cascais, rodeado de seguranças que impedem que os curiosos de aproximem do comboio antigo antes da chegada de suas excelências, condicionou todo o fluxo de trânsito na linha.

 

Vai ser certamente uma festança memorável com políticos e revistas cor-de-rosa que todos poderemos ver mais tarde no Facebook e nas selfies da moda que eles usarão para se promover.

 

Mas por Cascais e pelos Cascalenses alguém se interessa?