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Ruínas no Natal em Cascais

João Aníbal Henriques, 23.12.17

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Caros Cascalenses,

 

A pedido de vários munícipes moradores na Alapraia, alertei há algum tempo a edilidade para o problema do abandono e avançado estado de ruína em que se encontram as Grutas Pré-Históricas existentes naquela localidade.  

 

Estando classificadas como Imóvel de Interesse Público desde 1945, as Grutas de Alapraia foram descobertas no início do Século XX por Francisco Paula e Oliveira e, mais tarde, estudadas de forma aprofundada por Afonso do Paço e Eugénio Jalhay que ali encontraram um dos mais importantes espólios arqueológicos de Portugal.

 

As sandálias de calcário de Alapraia, que só encontram paralelo em Almeria (Espanha), são a peça mais impactante de um espólio vastíssimo com vestígios de muitas culturas e civilizações que utilizaram aquele espaço ao longo dos séculos.

 

Tendo sido intervencionadas por diversas vezes nos últimos anos, sobretudo por iniciativa e empenho do saudoso director do Gabinete de Arqueologia da CMC, Dr. João Pedro Cabral, foram alvo de um arrojado projecto de musealização que integrava as várias grutas conhecidas e o Casal Saloio que, entretanto adquirido pela Autarquia, foi recuperado e transformado num pólo de interpretação museológica de apoio ao complexo.

 

Mais recentemente, por motivos para os quais nunca nos foi possível encontrar explicação plausível, as grutas foram entulhadas com gravilha e o casal saloio foi simplesmente deixado ao abandono. Os actos de vandalismo perpetrados desde então têm vindo a destruir o sítio por completo, tendo desaparecido portas e janelas e, nos últimos meses, as próprias telhas da cobertura, deixando no ar um tom de ruína que contrasta de forma evidente com a enorme importância desta peça do património cascalense.

 

Mas a maior preocupação dos moradores já nem é a destruição do património e da memória de Cascais. A utilização indevida do espaço, principalmente durante a noite, tem vindo a despoletar um sentimento de insegurança que se alastra entre a comunidade local, facto que se conjuga com a utilização de todo o complexo como sanitário público, com implicações ao nível da higiene e da saúde pública.

 

Mas, mais de um mês depois do alerta apresentado em reunião de câmara, nada aconteceu no espaço. O projecto de recuperação continua a aguardar a aprovação de um programa de apoio comunitário, de acordo com informação prestada pelo Presidente da CMC, e não foi feito rigorosamente nada para controlar o acesso ao monumento ou sequer para desde já impedir o uso indevido do mesmo durante a noite.

 

Perde obviamente a memória de Cascais que vê delapidar uma das mais significativas peças do seu património histórico; perde a comunidade Cascalense que diariamente vê desaparecer as extraordinárias potencialidades pedagógicas e turísticas associadas a um espaço como este; perdem os moradores do local que, para além da insatisfação de verem a degradação que paulatinamente vai envolvendo as suas casas, assistem ao crescimento da insegurança e pressentem a sua incapacidade de sensibilizar as entidades competentes para que lhes resolvam rapidamente um problema simples e premente.

 

Na última reunião de câmara reforcei publicamente o pedido para que, com carácter de muita urgência, sejam tomadas providências que impeçam a continuação da destruição das Grutas de Alapraia.

 

Esperemos que a quadra festiva que atravessamos e o dealbar de um novo ano, nos tragam finalmente a concretização deste projecto tão importante para o fomento da Identidade Municipal.

 

Para todos os Cascalenses os nossos votos de um Feliz Natal e de um próspero 2018.

 

A Bem de Cascais!

 

João Aníbal Henriques

Vereador na Câmara Municipal de Cascais

 

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