Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

cascalenses

cascalenses

Monte Estoril - Salvar a Identidade Municipal

João Aníbal Henriques, 17.01.17

 

 
 
por João Aníbal Henriques
 
O deslumbramento onírico que transparece do Monte Estoril, resultante de mais de 130 anos de genialidade promovida por aqueles que ousaram sonhá-lo e construí-lo, assenta na sua monumentalidade e também numa comunidade socialmente coesa que partilha uma identidade arreigada e irrepetível.
 
O seu plano de desenvolvimento urbanístico, desenhado à priori num exercício perfeitamente inédito no Portugal de então, espelha de sobremaneira a genialidade dos seus vários promotores. Desde José Jorge de Andrade Torrezão, passando por Carlos Anjos e pelo Conde de Moser e mais tarde pela singularidade humanística de figuras como João de Deus Ramos e José Dias Valente, vários foram aqueles que definiram o Monte Estoril que hoje temos.
 
 
 
 
O traçado das suas ruas, os planos arquitectónicos das suas casas, as espécies vegetais escolhidas para cada jardim, e até a forma como foram construídos os seus muros e definida a sua linha de paisagem, foram algumas das peças que dotaram a localidade de um charme que perdurou de muitas gerações e cujo eco, apesar de tudo, ainda hoje se sente nos recantos encantados que sobreviveram à paulatina destruição.
 
Tendo sido, desde há muito tempo, alvo da cobiça desmesurada e do despudor dos decisores político-partidários, o Monte Estoril tem vindo a ser delapidado da sua riqueza com grave prejuízo para a Identidade Municipal. 
 
Com a aprovação e entrada em vigor do novo Plano Director Municipal, em meados de 2015, seria expectável que ficasse definitivamente traçada uma política de salvaguarda que protegesse o Monte Estoril de futuros ataques à sua identidade. Mas não aconteceu assim.
 
Contrariando a orientação política comum nos países que entendem a importância do património na definição da identidade de um espaço e na qualidade de vida dos seus moradores, o actual PDM limitou de forma extraordinária a listagem de imóveis com importância patrimonial no Monte Estoril, e definiu um parcelamento territorial em unidades designadas como ‘operativas’, cujo resultado principal é já a apreciação casuística de cada projecto que para ali venha a ser apresentado.
 
O Monte Estoril fica assim, novamente, a depender da vontade, da perspectiva, da sensibilidade e dos conhecimentos de quem decide, sujeito às vicissitudes que nas últimas décadas o têm vindo a destruir progressivamente.
 
E são muitos os casos que são prementes na definição do que se vai fazer no Monte Estoril nos próximos tempos. Depois de a demolição do saudoso Hotel Atlântico não ter sido aproveitada para construir naquele espaço um edifício cujas características estivessem em linha com a arquitectura de cenário que dá corpo à identidade local, antes se optando por um edifício pós-moderno igual a tantos outros que se constroem permanentemente nos subúrbios da capital, vale a pena ponderar sobre o que se vai fazer em vários espaços fundamentais para a localidade.
 
 
 
 
A construção do novo edifício onde se situava a Discoteca Bauhaus; as ruínas do antigo Hotel Miramar; o projecto de reconversão do Edifício Cruzeiro e a eventual demolição do picadeiro e da antiga sede do Grupo Desportivo Estoril-Praia; a mítica Villa Montrose; a Villa Baía; as cocheiras da Avenida das Acácias; a estação dos correios; a Villa Guarita; a Vivenda São Francisco; ou a Vivenda Boa-Vista; são apenas alguns exemplos de imóveis fundamentais para o futuro do Monte Estoril aos quais tudo pode acontecer ao abrigo do novo PDM.
 
 
 
 
Às entidades oficiais que são responsáveis pelo futuro desta terra essencial para a vocação turística dos Estoris exige-se agora uma atenção especial a cada um destes projectos. E aos Monte-Estorilenses, exige-se redobrado cuidado relativamente às intricadas operações que possam aparecer e o reforço da coragem e determinação que já tantas vezes mostraram possuir.
 
Porque ainda vale a pena tentar defender o futuro desta terra que herdámos dos nossos avós e que temos a obrigação de legar aos nossos netos.
 
 

Requalificar o Monte Estoril

João Aníbal Henriques, 28.10.16

 

 
O Monte Estoril é um dos mais fantásticos recantos do Concelho de Cascais. Resultando da conjugação de diversos factores extraordinários, para ali confluíram diversos contributos que transformaram o antigo Pinhal da Andreza num sítio pleno de charme e cheio de segredos e de histórias que o tornaram muito especial.
 
A visão dos seus fundadores, mesclada pelo carácter onírico que muito contribuiu para o encanto romântico que todos lhe reconhecem, foi a pedra basilar que sustentou um projecto arrojado e determinante que haveria de dar o mote para o subsequente nascimento dos Estoris e para a consolidação de Cascais como destino turístico de excepção em termos internacionais.


 
 
Mas o Monte Estoril beneficiou ainda do carácter visionário de muitos dos seus moradores que, desde o final do Século XIX, têm sido capazes de recriar o espaço em torno de uma vivência social e cultural única que foi sempre determinante para a consolidação da estrutura urbana em que a povoação assenta.
 
Tendo sido o primeiro projecto urbanístico criado de raiz em Portugal, o Monte Estoril foi cadinho de experiências diversas que a memória local ainda consegue preservar. Do “Jazigo” de Manuel Duarte aos torreões altivos da “Vivenda Miramonte”, passando pelo autêntico castelo do antigo “Hotel Miramar” ou pela selva romântica que ainda sobrevive da inesquecível “Villa Montrose”, são muitos os exemplos de peças arquitectónicas cenograficamente integradas na localidade e que constroem no Monte Estoril um ambiente irrepetível em qualquer outro lugar de Portugal.


 
 
Mas, como pérola que é, o Monte Estoril foi sempre também alvo privilegiado da cobiça, do desnorte eleitoral e da incapacidade política que pontualmente vai afectando a vida neste concelho. Foi-se salvando, sem se livrar de pontuais atentados contra a sua excelência perpetrados aqui e ali ao longo dos tempos, pela argúcia, capacidade de entrega e devoção imensa dos Monte Estorilenses que desde sempre foram imbatíveis na defesa dos interesses do local.
 
Em 2002, quando Cascais começava a respirar de alívio depois da autêntica onda de betonização que varreu o concelho desde meados da década de 80, a Associação de Moradores do Monte Estoril preparou um plano global de salvaguarda urbana e patrimonial que entregou à edilidade cascalense.
 
O projecto, intitulado “PIRME – Projecto Integrado de Requalificação do Monte Estoril”, foi uma das mais inéditas e inovadoras propostas de requalificação urbanística jamais realizadas em Portugal, apresentando uma visão independente e livre de um grupo muito vasto de moradores, comerciantes, hoteleiros e demais operadores que trabalhavam no local. Da comissão promotora faziam parte Alfredo Dias Valente de Carvalho, António Pinto Coelho de Aguiar, Diogo Velez Mouta Pacheco de Amorim, Jaime Roque de Pinho de Almeida (Lavradio), João Aníbal Queirós Felgar Veiga Henriques, Joaquim Manuel Cardoso Mendes, José Francisco Gomes Santos Fernandes, José Luís de Athaíde de Almeida e Silva, Luís Miguel Lupi Alves Caetano, Manuel Pinto Barbosa, Paulo Ribeiro Maia de Loureiro e Salvador Correia de Sá.


 
Tinha como objectivo principal, para além de recriar um perímetro de protecção em torno das fronteiras urbanas do Monte Estoril, o de garantir que os moradores cumprissem aquilo que consideravam o seu dever participar na gestão e na orientação dos destinos da sua terra. Diziam de forma sublinhada que o fazia “à margem dos partidos políticos, mas não contra eles”, com uma forma de participação responsável, cordata e consciente. Mas também exigente…
 
Como é fácil de perceber, a qualidade incontestável do documento, atestado até pelas mais proeminentes autoridades políticas do Cascais de então, em nada influi nos destinos do Monte Estoril. A Sua independência relativamente aos muitos interesses de toda a ordem que sempre sobreviveram naquele local, condenou-o ao fracasso e a uma frustrante viagem em direcção ao caixote do lixo.


 
 
Com a entrada em vigor do novo PDM – Plano Director Municipal, que não assume a vocação municipal do concelho e que, por isso, não define as linhas programáticas estratégicas que hão-de marcar a existência urbanística do Concelho durante o seu período de vigência, alterou-se de forma substancial a política de salvaguarda patrimonial no Monte Estoril. Ao contrário do que até aqui existia, o novo PDM renega a unidade urbanística da localidade, composta por um conjunto de edifícios que a própria AMME inventariou e integrou no PIRME, e aposta numa apreciação casuística das intervenções que venham a ocorrer nos limites da localidade. Faz depender, desta forma, todo e qualquer projecto que venha a surgir do gosto específico de quem o aprecia. E assim, destruindo a unidade urbanística que deu corpo à excelência deste local, coloca em risco o carácter único e especial que ainda caracteriza o Monte Estoril, abrindo portas para quase tudo seja possível ali fazer.
 
Nesta época de mudança profunda que agora começa, importa homenagear a AMME pela coragem e determinação que colocou na apresentação deste inédito projecto. E relembrar todos os Cascalenses de que o Monte Estoril tem sido capaz de defender o seu carácter extraordinário desde meados do Século XIX. 
 

Pelo Futuro de Cascais - Revista Fundação Cascais nº 4 de Janeiro de 2002

João Aníbal Henriques, 29.07.16

futurocascais.jpg

 

Em Janeiro de 2002, quando foi publicado o nº4 da Revista Fundação, Cascais atravessava uma das mais marcantes mudanças desde  o início do novo Século: depois de um longo e complexo mandato autárquico de José Luís Judas, toma posse como Presidente da Câmara Municipal de Cascais António d'Orey Capucho, abrindo uma janela de esperança no devir futuro da grande maioria dos Cascalenses.

 

O "Futuro de Cascais" que serviu de mote a esta revista, tinha como pressuposto o estabelecimento de pontes entre aquilo que ainda existia de bom na história recente do concelho e as novas ideias e rumos que poderiam ajudar a reverter a profunda crise que então existia e a trazer Cascais para a senda de um progresso sustentado que os Cascalenses desejavam.

 

Vale a pena reler as palavras de apelo de Filipe Soares Franco na abertura da revista, e também o texto da autoria de Pedro Cardoso que aponta o turismo como a grande vocação municipal. De salientar ainda, a título histórico, a recuperação da memória da loja Faraó, numa entrevista sentida com Jorge Marques, fundador da Fundação Cascais e conceituado empresário comercial Cascalense e a entrevista com o então Presidente da Associação Comercial de Cascais, Eurico Penas Paulo

 

Digno de grande destaque (até porque mantém totalmente a sua actualidade), a apresentação do PIRME - Programa Integrado de Requalificação do Monte Estoril, o primeiro grande projecto de revitalização urbanística e comercial jamais elaborado e apresentado em Cascais. Neste projecto, coordenado pela Associação de Moradores do Monte Estoril, conjugaram-se os contributos e as propostas de quase todas as instituições com interesses naquela importante localidade. A comissão promotora deste projecto era composta por Alfredo Dias Valente de Carvalho, António Pinto Coelho de Aguiar, Diogo Velez Mouta Pacheco de Amorim, Jaime Roque de Pinho de Almeida (Lavradio), João Aníbal Queirós Felgar Veiga Henriques, Joaquim Manuel Cardoso Mendes, José Francisco Gomes Santos Fernandes, José Luís de Athaíde de Almeida e Silva, Luís Miguel Lupi Alves Caetano, Manuel Pinto Barbosa, Paulo Ribeiro Maia de Loureiro e Salvador Correia de Sá. O PIRME pode ser consultado clicando AQUI

 

Vale a pena voltar a ler!