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Cascais a Duas Velocidades

João Aníbal Henriques, 05.01.17

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A inauguração da A5, em 1991, modificou radicalmente os equilíbrios urbanos no Concelho de Cascais. O novo eixo viário, cortando longitudinalmente o território municipal, transformou-se numa barreira artificial que literalmente afastou o litoral do interior e produziu duas realidades distintas que desde há mais de 25 anos afectam a qualidade de vida de muitos Cascalenses.

 

A diferença entre o Cascais do interior e o do litoral é abissal. Depois da inauguração da auto-estrada, a gestão urbanística do território situado a Norte sofreu as consequências do afastamento físico provocado pela mesma e desenvolveu-se a partir de um modelo vivencial marcado pela proliferação das construções clandestinas e pela paulatina destruição dos antigos núcleos urbanos consolidados.

 

Aldeias como a Abóboda, Quenene, Polima, Trajouce, Tires ou Talaíde, foram completamente desvirtuadas, perdendo a Identidade arreigada que possuíam e desenvolvendo novos reequilíbrios profundamente marcados pela anomia social e por um cenário de caos que se espraiou na degradação da segurança, da mobilidade, da habitação, da saúde, da educação, do património e das demais áreas que se sabe que são indicadores essenciais para a qualidade de vida das populações.

 

A vocação turística municipal, que era o pilar sustentador do antigo PUCS (Plano de Urbanização da Costa do Sol), foi substituída em 1997 pelo primeiro PDM (Plano Director Municipal), que assumiu a legalização a todo o custo como principal prioridade municipal. E desta maneira, com fundamento legal e suporte político dos partidos que desde então governaram Cascais, praticamente 1/3 do território concelhio foi absorvido pelo desregramento urbano e fez colapsar os últimos resquícios da cidadania Cascalense.

 

Esquecido por todos ao longo deste tempo, e vivendo numa espécie de clima brando de auto-gestão, o interior de Cascais passou a viver em ciclos de quatro anos. Esquecido pelo poder político durante a maior parte do tempo, era literalmente invadido pelos diversos partidos em época eleitoral, numa lógica de propaganda que ciclicamente o enchia de novas passadeiras, bancos de jardim, semáforos e novos arruamentos, bem como de festas e foguetes para comemorar o sempre propagado “interesse extraordinário pelo interior de Cascais”.

 

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Com a aprovação do novo PDM em 2015 (Ver AQUI), perdeu-se a grande oportunidade da década para inverter esta situação. Ao invés do que seria de esperar, o novo plano não assume a bipolaridade territorial e, por isso, não projecta uma nova dinâmica que permitiria ir progressivamente invertendo esta dramática situação.

 

E que fácil seria fazê-lo! Até porque, tal como acontece no litoral, o interior é um espaço  riquíssimo de potencialidades que a generalidade dos Cascalenses desconhece. Do património à paisagem, passando pelo que resta da identidade rural desses espaços antigos e pela pujança empreendedora das suas novas populações, a zona Norte do território Cascalenses possui todas as condições que lhe permitiriam requalificar-se e garantir a todos os cidadãos os mesmos parâmetros de qualidade que algumas zonas mais privilegiadas já têm.

 

A nível das acessibilidades, seria essencial que existisse um verdadeiro plano municipal de mobilidade. Sem a propaganda política que distorce a realidade, exigir-se-ia que fossem criados verdadeiros corredores cicláveis entre as duas partes, complementando uma rede real de transportes que assumisse a componente de serviço público da sua função, e reaproximasse os munícipes.

 

Os eixos verdes das ribeiras que transversalmente cruzam o concelho, desde a Ribeira dos Mochos até à Ribeira da Laje, são canais naturais que estão adaptados à situação imposta pela A5 e que, até por isso, poderiam ser rentabilizados de forma integrada num plano municipal que abrangesse as duas realidades de Cascais. No caso da Ribeira das Vinhas, por exemplo, o eixo verde que acompanha o leito é transitável desde o coração da vila até à Barragem do Rio da Mula (Ver AQUI e AQUI), configurando uma verdadeira preciosidade na reformatação social das localidades por onde vai passando.

 

Ao nível da gestão urbana, seria essencial um recentrar das prioridades de investimento no interior, assumindo uma intervenção de fundo que efectivamente transformasse as legalizações forçadas dos antigos bairros clandestinos em acções verdadeiras de requalificação, aproximando paulatinamente os índices de qualidade urbana de ambas as partes do concelho. Os núcleos patrimoniais mais importantes como FreiriaAlapraiaAlto do Cidreira, ou os Casais Velhos, deveriam ser transformados em fulcro desse investimento, consubstanciando uma política que recuperasse efectivamente a qualidade urbana e que, ao mesmo tempo, promovesse a memória colectiva e a Identidade Municipal.

 

Como é evidente, uma intervenção nesta linha, que esbatesse a diferenciação negativa que afecta a territorialidade de Cascais, seria um projecto de longa duração. E, por isso, é incompatível com os ciclos eleitorais autárquicos que de quatro em quatro anos subvertem a realidade e impõem interesses terceiros aos interesses legítimos e Cascais e dos Cascalenses.

 

Mas, num ano em que o céu de Cascais será riscado em permanência pela magia dos foguetes e o ar se vai encher do ribombar dos tambores que acompanharão as muitas festas que se vão fazer, vale a pena apresentar uma vez mais a sugestão, porque dela depende o futuro desta Nossa Terra.

Património de Cascais - Memórias Antigas da Nossa Terra

João Aníbal Henriques, 20.09.16

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Na semana em que Cascais se prepara para comemorar o património, oferecendo à sua população a possibilidade rara de visitar peças que fazem parte da identidade Cascalense e que estão normalmente fechadas ao público, importa recuperar este que é um dos temas mais importantes para a Nossa Terra.

 

Entre 1993 e 2000, a Fundação Cascais preparou o “Levantamento Exaustivo do Património Cascalense”  O trabalho agregou um conjunto de seis bases de dados (uma por cada freguesia) com um total de 2900 fichas patrimoniais e cerca de 500 páginas de sugestões e propostas que tinham como principal objectivo recriar um instrumento de trabalho profícuo para a administração municipal.

 

O L.E.P.C. foi publicado em versão electrónica através de um suporte em CD-Rom, tecnologia de ponta naquela época, facto que se tornou possível depois do apoio que a instituição recebeu da Câmara Municipal de Cascais para esse efeito, tendo sido distribuído gratuitamente em todas as bibliotecas e escolas do município.

 

Infelizmente, 16 anos depois dessa publicação, uma parte substancial das peças patrimoniais inventariadas pela Fundação Cascais já desapareceu. Algumas foram destruídas pela fúria do betão e deram lugar a espaços incaracterísticos que todos conhecemos; outras desapareceram como consequência da ruína que resultou do seu abandono; e outras tantas, embora devidamente classificadas, foram “esquecidas” pelo poder político, vendo desaparecer todo o potencial turístico, cultural e social que ainda possuíam.

 

Em 2003, quando a Fundação Cascais publicou a sua revista dedicada ao património, fez-se o ponto-de-situação em que nos encontrávamos… Isabel Magalhães, então presidente do Conselho de Fundadores, dizia que “a inventariação e a posterior classificação dos imóveis com valor, é o primeiro passo que se deve seguir para combater a degradação”. Filipe Soares Franco, o então presidente do Conselho de Administração, sublinhava que “apesar de ter sido notório o apoio da sociedade civil a esta causa, os partidos políticos ignoraram o apelo, criando assim as condições que permitiram a delapidação patrimonial de Cascais”. Pedro Luís Cardoso, tesoureiro da instituição, dizia que “sem património e sem memória fica comprometida a vocação turística de qualidade de Cascais” e João Aníbal Henriques, coordenador do projecto, explicava que “no ano 2000, quando a Fundação Cascais entregou à Autarquia o ‘Levantamento Exaustivo do Património Cascalense’, com seis bases de dados e cerca de 2900 imóveis inventariados, deixou de existir desculpa para o desconhecimento que se alegava noutros tempos”.

 

Tantos anos depois, quando muitos dos imóveis que constam no Levantamento Patrimonial realizado pela Fundação Cascais já são história e não passam de memórias difusas de alguns Cascalenses, vale a pena voltar a percorrer cada uma destas fichas e destas fotografias que ainda se encontram por aí em bibliotecas espalhadas por esse País fora.  Por ali se encontram os laivos oníricos de um Cascais que soçobrou perante os muitos interesses que permanentemente se digladiam à sua volta, mas também os pilares indestrutíveis de um edifício de cidadania que dignifica a Nossa Terra.

 

 

Clique AQUI para reler a Revista Fundação Cascais dedicada ao Património Cascalense

 

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Apresentação do Livro "Cascais" de Isabel Magalhães e João Aníbal Henriques

João Aníbal Henriques, 10.04.15

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Decorreu ontem, no Hotel Baía, em Cascais, a sessão de apresentação do livro "Cascais - Estratégia de Futuro para a Nossa Terra" da autoria de Isabel Magalhães e João Aníbal Henriques. Com mais de 200 convidados presentes os autores sublinharam a importância do planeamento estratégico como forma de garantir a sustentabilidade de Cascais, assumindo o turismo como a vocação municipal prioritária. O historiador Paulo Morais-Alexandre, que apresentou a obra, salientou diversos aspectos relacionados com a paulatina degradação dos espaços concelhios, explicando que o Plano Director Municipal é o instrumento mais importante para a definição das regras-gerais que darão corpo à projecção do crescimento muncipal ao longo dos próximos (pelo menos) 10 anos.

 

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Ruínas de Cascais

João Aníbal Henriques, 07.04.14

 

 

 

Quando a antiga Quinta dos Ingleses, em Carcavelos, está prestes a transformar-se numa enorme Reboleira, depois de aprovado o projecto urbanístico megalómano que tanto desagrado provocou na população, importante prestar atenção ao que está a acontecer à entrada na Vila de Cascais.

 

Depois de alguns anos de acalmia na especulação imobiliária, eis que os vários imóveis de grande interesse histórico e arquitectónico que se situam no início da Avenida de Sintra, mostram sinais claros de um acelerado processo de ruína.

 

As portas e janelas entaipadas, que impediam o uso dos edifícios para actividades marginais e os protegiam de investidas que promovessem a sua ruína, desapareceram ao longo dos últimos meses. Na maior parte deles são visíveis os sinais de vandalismo e, nos casos mais graves, de preocupante e acelerada degradação dos vãos e das coberturas, dando a ideia de que o colapso está eminente.

 

Para além da péssima imagem que esta situação configura, num Concelho que assume o turismo como a sua vocação e no qual as festas e o foguetório se multiplicam a um ritmo inexplicável, a insegurança latente em volta destes espaços é verdadeiramente in tolerável. Isto, como é evidente, para já não falar no atentado que configuram ao património histórico, às memórias de Cascais e à identidade Municipal…

 

Serão estes os sinais dos novos tempos?