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cascalenses

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Montemor-o-Velho e a Igreja de Santa Maria da Alcáçova

João Aníbal Henriques, 10.11.19

 

 
 
por João Aníbal Henriques
 
Montemor significa que é o monte maior… aquele que emerge da paisagem e se impõe perante quem passa. É simultaneamente um lugar visível, pela sua dimensão, e a partir do qual tudo se vê nas redondezas, sublinhando a sua importância estratégica na defesa daquele que ali vivem o quotidiano. Montemor-o-Velho, por ter sido um dos primeiros bastiões na defesa do recém-nascido Portugal, tem uma História extraordinária e um conjunto de histórias que não deixam ninguém indiferente. É porventura a pérola maior na consolidação da Portugalidade!
 
 
Fundado oficialmente algures em meados do Século IX, basicamente porque existem provas documentais da sua conquista em 848 pelo Rei Asturiano Ramiro I, o Castelo de Montemor-o-Velho foi sempre um dos mais importantes espaços na definição estratégica da ocupação humana do território onde se insere.
 
 
 
 
A elevação natural, conferindo potencialidades únicas ao nível da defesa contra-ataques inimigos, fez convergir para ali muitas comunidades humanas, possivelmente desde que os primeiros Seres Humanos ali se instalaram nos rocambolescos tempos do Paleolítico Superior. Os vestígios que ficaram dessas ocupações remotas, provavelmente sem construções de carácter permanente como acontece com o actual castelo, foram-se esbatendo paulatinamente à medida em que outras comunidades e outras civilizações foram ocupando o espaço e nele deixando a impressão perene da sua forma de ser e de viver.
 
Antes da Cristandade que dará forma a Portugal, também os Romanos, os Visigodos e os Muçulmanos fizeram desde monte maior a sua casa, ali construindo (e também sucessivamente destruindo os vestígios dos que os antecederam) os seus aglomerados habitacionais.
 
Com uma História que se confunde com o desenvolvimento da metalurgia em terra da Beira Alta, porque metais como o estanho eram extraídos da terra e transportados para a capital através das águas nem sempre serenas do Rio Mondego, o Castelo de Montemor-o-Velho foi sempre peça-chave na defesa de quem ali passava, cadinho de conforto e refúgio transitório para quem deambulava por aquelas terras em épocas de grande agitação e nenhuma segurança.
 
Um dos momentos mais impactantes da sua longa História prende-se com a sua conquista por parte de Almançor. Ainda antes do arranque do novo milénio, quando D. Urraca se entretinha a redefinir as estruturas de defesa Cristãs da Linha do Mondego, o chefe muçulmano conquista a fortaleza e altera de forma radical a sua estrutura de implantação no espaço, reformatando a sua lógica de defesa e preparando-a para uma ocupação longa e profícua por parte da direcção Islâmica. E, até 1006, quando Mendo Luz a reconquistou para a Cristandade, assim se manteve Montemor-o-Velho e o seu velho paço real, coadjuvados em termos espirituais por uma vetusta mesquita que terá ocupado o espaço que hoje é sensivelmente o mesmo da Igreja da Alcáçova.
 
 
 
 
O Templo, com invocação de Nossa Senhora da Assunção, refulge com a pujança que lhe foi atribuída por D. Jorge d’Almeida no Século XVI, conferindo-lhe a face renascentista que ainda agora apresenta. A estatuária, decalcando simbolicamente o antigo espaço da mesquita muçulmana, assenta numa curiosa figura da Senhora do Ó, marcada com o sinal perene do sangue, numa invocação extraordinária das histórias maiores que deram corpo às vicissitudes maiores da História da localidade…
 
 
 
Reza a lenda que algures no Século IX, o contingente militar Cristão que defendia o espaço foi atacado por um poderoso exército muçulmano que, com uma grande superioridade militar, não deu aos defensores qualquer possibilidade de sobrevivência. E estes, denotando um desespero imenso, tomaram a decisão de degolar todos os Cristãos que ali habitavam, inclusivamente os seus familiares, numa tentativa de evitar que os mesmos fossem literalmente chacinados e sodomizados pelos muçulmanos. Mas, com a força redobrada pelo misterioso martírio, e também possivelmente porque já nada tinham a perder, acabaram por ser eles próprios a atacar os muçulmanos e o seu ensejo foi tal que surpreendentemente ganharam a peleja e desbarataram os invasores. E quando regressaram da batalha, terão sido eles próprios surpreendidos com a recepção que lhes foi feita pelos compatriotas mortos que, mercê de um milagre divino, terão sido libertados dos esteios da morte e ressuscitado para agradecer ao contingente…
 
Independentemente da veracidade da lenda, em linha com muitas outras que corporizam de forma quase mágica o nascimento de Portugal, o certo é que o Castelo de Montemor-o-Velho e a sua velha capela, depressa se tornaram num eixo estruturante e fundamental para a afirmação da reconquista Cristã, tendo sido palco, ao longo das décadas seguintes, de grande parte dos mais importantes episódios da História Nacional.
 
Terá sido aqui, no dealbar de 1355, que Dom Afonso IV se reuniu com os seus conselheiros e decidiu a morte de Inês de Castro, num episódio que manchou com o sangue da pobre mulher a longa História deste local.
 
 
 
 
E terá sido também aqui que, já no Século XIX, as tropas francesas se aquartelaram aquando das invasões napoleónicas, que com a derrota sofrida infligiram importantes perdas à localidade e ao seu património histórico-cultural, acentuando de forma muito evidente a perda da sua importância estratégica e encetando um período de declínio que se arrastou durante muitos anos.
 
Independentemente de tudo isso, e até de algum desleixo que Montemor-o-Velho conheceu depois da extinção das Ordens Religiosas, cada cantos e recanto desta localidade denota o fulgor da sua História. E as pedras das suas paredes, muitas delas para ali transportadas há mais do que um milénio, carregam consigo as memórias fortes de episódios que são basilares para a compreensão do que é Portugal e da importância enorme que a Identidade Nacional tem para o futuro de todos os Portugueses.
 
 
 
A sua linha de afirmação religiosa (não é possível esquecer que este castelo foi propriedade essencial no domínio Templário do centro de Portugal) surge aqui de forma quase inusitada nos interstícios das suas lendas e histórias. E a Senhora da Assunção que ali se venera, num apelo inclemente às agruras da vida em antagonismo à plenitude do Céu, representa Ela própria um caminho de ascenção que este espaço soube fornecer.
 
Assumido Altar na triangulação que a reconquista impôs entre Coimbra, Lisboa e Santarém, é aqui que se centram as decisões estrategicamente essenciais para a afirmação de Portugal. E a partir deste espaço, bem implantado na companhia das águas cálidas do Mondego, se organizam quase todas as actividades que vão permitir à Cristandade a continuidade do esforço de reconquista e, em última instância, a actual configuração de Portugal.
 
 
 
 
Conhecer Montemor-o-Velho, o seu ancestral castelo e a Igreja de Santa Maria da Alcáçova é, por isso, essencial para quem pretender conhecer – e compreender – Portugal. Visita obrigatória.
 

 

O Castelo de Palmela

João Aníbal Henriques, 31.05.18

 

 
 
 
por João Aníbal Henriques
 
 
Altaneiro no cimo da Serra de São Luís, o Castelo de Palmela é, provavelmente, aquele que tem o melhor enquadramento cenográfico natural de Portugal. Com vista privilegiada para o Estuário do Sado, controlando as Serras da Arrábida e as terras de Tróia, o castelo apresenta características típicas das várias épocas construtivas a que foi sujeito.
 
A ocupação original do espaço, provavelmente da época Neolítica, ainda em período Pré-Histórico, enquadra-se na vivência mais comum deste tipo de construções, aproveitando a sua situação estrategicamente relevante para, num laivo de recrudescimento de eventuais posturas, se impor perante a envolvência e definir em seu turno uma vasta área de paz e de prosperidade.
 
 
 
 
A ocupação deste local é, assim, linear e contínua ao longo dos séculos, com focos permanentes de ocupação humana que lhe foram conferindo, através das suas intervenções na paisagem, a forma e as características que hoje apresenta.
 
Depois de Visigodos e de Muçulmanos terem feito de Palmela uma povoação de destaque no contexto da ocupação humana do território agora Português durante a Idade Média, foi na época conturbada da reconquista que se definiram em definitivo as suas dinâmicas de ocupação e de desenvolvimento.
 
 
 
Quando Dom Afonso Henriques, no esforço de reconquista das Terras de Portugal, derruba Lisboa, em 1147, abriu caminho para outras lutas e vitórias, que se estenderam, ainda na mesma data, a Sintra, Alenquer e Palmela.
 
Mas foi sol de pouca dura… a sua posição privilegiada na paisagem e a situação estratégica na defesa das entradas por mar via Rio Sado, tornavam Palmela demasiado importante para que a reconquista Cristã fosse facilmente concretizada e definitiva. Estratégias de contra-ataque, numa tentativa permanente de recuperar esta peça tão importante para a afirmação do poderio militar muçulmano, tornaram este castelo alvo de vários episódios sangrentos de conquistas e reconquistas, passando sucessivamente de mão para mão com evidentes prejuízos para a população e para a paz do local. Depois de recuperada pelos Árabes, Palmela foi reconquistada e novamente perdida pelas forças da Cristandade em 1158 e em 1165, data em que o Rei Dom Sancho I, numa tentativa fugaz de condicionar o destino do local, entrega o castelo à Ordem Militar de Santiago.
 
Mesmo assim, perante o poderio inaudito do líder muçulmano Abu Yusuf Ya’qub al-Mansur, voltou a cair nas mãos do inimigo e só em 1205 entrou em definitivo em mãos Cristãs.
 
 
 
 
Mas mesmo assim não foram de paz permanente os tempos do Castelo de Palmela. Mesmo depois de estar definitivamente integrada no Reino de Portugal, foi alvo de investidas e ataques que a desfiguraram, gerando um clima de insegurança e de incerteza que se prolongou pelos tempos. Em 1382, durante o reinado do Rei Dom Fernando, as tropas Castelhanas saquearam a cidade o o seu castelo, produzindo um índice de devastação que desfigurou de forma perene a estrutura defensiva daquele baluarte, obrigando à realização de obras profundas com vista à sua recuperação e ao reforço da sua capacidade de resistência às investidas dos inimigos, que lhe confeririam o aspecto que hoje lhe conhecemos.
 
Em 1384, novamente no âmbito de um cerco que punha em causa da sobrevivência do próprio Estado de Portugal, foi dos torreões do Castelo de Palmela que Santo Condestável Dom Nun’Álvares Pereira, o monge consagrado à devoção de Maria, avisou o Mestre de Aviz da chegada dos Castelhanos, acendendo ali enormes fogueiras que foram vistas a partir de Lisboa.
 
 
 
 
O Castelo de Palmela é, desta forma, uma das peças mais interessantes do património militar Português. Não só pelas características específicas que denotam a conturbação de quase dois mil anos de uma história pouco fácil, mas também pela sua intervenção específica nos destinos que a História reservou a Portugal.

 
 
 
 


O Castelo de Portel Mafomede no Alentejo

João Aníbal Henriques, 06.01.17

 

 
 
por João Aníbal Henriques
 
Assumindo a sua posição altaneira relativamente à bonita vila de Portel, no Alentejo, o Castelo de Portel é um dos mais extraordinários vestígios da origem cultural de Portugal e da ligação profunda e arreigada às tradições ancestrais que deram forma aos mais importantes arquétipos da humanidade.
 
Não se conhecendo de forma documental a sua verdadeira origem, é crível que antes do início da construção da actual edificação, ali existisse já uma fortificação anterior, provavelmente de origem muçulmana, que daria corpo ao sustento da população que vivia naquele espaço. Na documentação coeva da sua construção, a Casa Real Portuguesa denomina a vila como ‘Portel Mafomede’, numa prática toponímica que aponta para uma pré-existência islâmica cuja origem não será diferente daquela que noutras zonas do actual território nacional terá conduzido à aculturação que forma a Identidade Nacional.
 
A atribuição toponímica de Portel a Mafomede, curiosa se pensarmos que a diabolização da expressão resulta do processo de extinção da Ordem dos Cavaleiros Templários, assume foros de grande importância quando nos debruçamos sobe a origem do castelo. Em primeiro lugar porque, como se sabe actualmente, a figura da Mafomede ou Bafomet, representa basicamente as três formas de expressão primordiais da matéria. No Convento de Cristo, em Tomar, a figura de Hermes Trismegisto é representada numa das pedras angulares da edificação representada como Bafomet com as suas três faces reinantes. Depois, porque a divinização trina que Bafomet compõe, juntando num mesmo plano as diversas faces que apresenta Deus na sua expressão simbólica de eixo estrutural da humanidade, uma reposição dos antigos cultos pagãos de origem Grega que, compondo o seu corpo de saber sobre os rituais ancestrais que acompanharão a evolução humana na bacia do Mediterrâneo, nos levam até à figura do Deus Pã, complexão estática do sopro deífico que dá forma lendária à origem de muitas das mais importantes povoações de Portugal.
 
 
 
 
No Grego antigo, por exemplo, a expressão Baph Metis, significa literalmente o “baptismo da sabedoria”, sabendo-se ainda que a mesma expressão em hebraico, utilizando a codificação cabalística, significa Sophia, ou sabedoria…
 
Em qualquer dos casos, o Portel que hoje temos, foi outrora o Portel Mafomede, num fluxo generalizado de saber oculto, que determinou o processo de reconquista Cristã em que se insere a construção do castelo actual e, mais importante ainda, a definição dos equilíbrios político-administrativos no recém-criado Reino de Portugal.
 
 
 
 
De facto, quando em 1257 o Rei Dom Afonso III entregou a João de Aboim as terras de Portel Mafomede, determinando o início da construção do castelo e retirando-as ao Termo de Évora, o que está em causa é a preservação do controle político deste importante território. Para além de impor uma dinâmica concertada no que concerne ao processo de reconquista, a doação e posterior construção da estrutura amuralhada reforçam ainda o poder político pessoal do novo rei, depois da conturbação política que ditou o afastamento do seu irmão, o anterior Rei Dom Sancho II. Portel surge assim como axioma de referência, na definição daquela que virá a ser a intervenção política da Casa Reinante, e que durará até ao fim da Primeira Dinastia, em 1385.
 
João Peres de Aboim, de origens minhotas e filho do senescal do Rei Dom Sancho II, é apresentado na documentação ceva como “um fidalgo violento e insaciável que saqueava sem mercê os bens dos municípios e dos seus moradores”. A sua proximidade ao infante Dom Afonso, com o qual ruma a França onde preparam a revolução que ditará a subida ao trono deste, acabará por granjear-lhe um poder sem igual, que manterá mesmo depois da morte do rei e durante todo o período em que durou o reinado de Dom Dinis.
 
As obras do castelo de Portel, prolongaram-se também ao longo das décadas seguintes, acompanhando a mudança radical introduzida em Portugal pelo Rei Trovador, sempre acompanhado de perto por João de Aboim que preserva as honras inerentes a facto de ter sido Mordomo-Mor do Reino.
 
 
 
 
O rei Dom Dinis, o alquimista assumido que planta as naus que desde Leiria darão novos mundos ao Mundo, é assim o verdadeiro Hermes Trismegisto de Portel, consagrando nas suas três faces de político, poeta e mágico a apetência para transformar aquele espaço na referência primária da consolidação do cristianismo herético da Ordem de Cristo, na pedra angular da Identidade Nacional. Não é por acaso que, quando Mafomede é utilizado como argumento no julgamento que ditará a extinção dos Templários, dizendo-se que representa um culto satânico de cujo poder depende o sucesso militar e religioso da ordem liderada por Jacques de Molay, em Portugal é o Rei Dom Dinis que contorna as directivas papais criando a nova Ordem de Cristo para a qual transitam os bens templários existentes em Portugal e, possivelmente, os próprios directores espirituais da antiga ordem.
 
De qualquer maneira, depois da morte do Rei Dom Dinis e do construtor do castelo, a contenda jurídica que envolve os seus herdeiros acaba por decidir a recuperação da propriedade por parte do Estado e, em 1384, a sua entrega ao Condestável de Portugal, Dom Nuno Álvares Pereira, que junta as terras de Mafomede ao património do que há-de vir a ser a Casa de Bragança.
 
O Santo Condestável, nessa altura já transformado em Frei Nuno de Santa Maria, obreiro da magnitude enorme da Ínclita Geração e concretizador do projecto alquímico plantado pelo Rei Dom Dinis, trabalha sob o signo da flor-de-lis, sob a tutela de Dom João I, o Mestre de Avis, transformando Portel num verdadeiro caldeirão alquímico no qual tudo pode acontecer. A mítica transmutação da matéria, epíteto maior que resulta da posse do segredo da pedra filosofal, conduz no recato de Portel à transmutação das almas. Mafomede, com as suas três faces, nada mais é do que o simbólico arquétipo da Santíssima Trindade, consolidando pelo verbo do Pai e o pão que se transforma em carne, do seu Filho, a força maior transformadora que concebe o Espírito-Santo. E este, por seu turno, subvertendo a realidade e condecorando como Rei o mais humilde dos seus servos. Como se vida e morte fosse uma realidade só!
 
 
 
 
Depois de perdida a sua utilidade militar, o Castelo de Portel foi entrando num paulatino processo de ruína que culminou, já no início do Século XX, com as primeiras campanhas de reconstrução que o dotaram do aspecto actual.
 
Durante a vigência do Estado Novo, num processo conduzido pela então Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, foi recuperada a sua vocação romântica, introduzindo-lhe uma cortina de ameias que, em conjunto com a adaptação da sua Torre de Menagem, lhe alteraram a estrutura e o adaptaram à vocação turística que então se assumiu para Portugal.
O Castelo de Portel, pleno de potencial turístico e cultural, está hoje aquém daquilo que poderia ser na definição da memória colectiva do Alentejo e de Portugal. A sua importância efectiva e o simbolismo que agrega, fazem dele uma peça essencial para se perceber quais são os desígnios nacionais e a forma como nestas paragens se encontram os resquícios mais profundos da nossa Identidade Nacional. 
 
Pode ser que um dia alguém se dedique novamente a este recanto tão especial de Portugal.

 

O Castelo de Montemor-o-Novo e a Vergonha de Portugal...

João Aníbal Henriques, 15.01.14
 
 
 
por João Aníbal Henriques
 
Ligado, de forma perene, às memórias de Vasco da Gama e à preparação da viagem marítima para a Índia, o Castelo de Montemor-o-Novo é um dos mais emblemáticos e maiores castelos de Portugal.
 
Situado no alto e um morro sobranceiro à planície alentejana, o castelo tem uma História antiga que provavelmente se perde nas brumas antigas da pré-História. Ali terá existido um castro que foi mais tarde romanizado, transformando-se então no centro de uma das mais importantes malhas viárias do império. Nele convergiam as Estradas de Évora e Mérida e, por outro lado, as que levavam a Olissippo e ao estuário do Rio Tejo, chamando-se nessa época Castrum Malianum. É esse facto, aliás, que explica o reforço do amuralhamento primitivo da cidade, reforçando a importância estratégica da sua localização.

 
 
 
O carácter de Montemor-o-Novo reforçou-se ainda nos inícios da Idade Média quando o território foi conquistado pelos Muçulmanos. É neste período que  a cidade conhece a presença de Almansor que, mais tarde, acabaria por ficar definitivamente marcado na toponímia do local, dando nome ao ribeiro que ainda hoje corre no local.

 
 
 
Em termos de desenvolvimento urbano, a importância de Montemor-o-Novo é bem patente no rápido e fulgurante aumento da população que, extravasando as muralhas do seu castelo, rapidamente de estende pelas colinas que o envolvem. Desde meados do Século XIX, com a pacificação do território e a progressiva degradação das condições de salubridade dentro das muralhas, foi a povoação medieval quase completamente abandonada em prol da afirmação da nova cidade extra-muros.
 
No seu regresso à Portugalidade, Montemor-o-Novo  foi reconquistado definitivamente pelo Rei Dom Sancho , em 1201, depois de Dom Afonso Henriques a ter reconquistado uma primeira vez em 1160. Trinta anos depois, em 1190, a cidade foi novamente tomada pelos Árabes que aí se mantiveram até à sua expulsão definitiva.
 
Para assegurar o seu repovoamento e defesa, o rei conquistador concedeu-lhe o primeiro Foral em 1203, documento esse que foi reconfirmado pelo Rei Dom Manuel I já no Século XVI (1503).
 
 
 
 
Palco de cortes por diversas vezes, foi em Montemor-o-Novo que o Rei Dom Manuel I tomou a decisão de enviar Vasco da Gama na sua viagem marítima até à Índia, sendo, por isso, aí que reside aquela que será porventura uma das decisões mais importantes para o devir histórico da própria humanidade. Como se diria mais tarde “de Montemor-o-Novo se mudou o Mundo e as suas gentes”…
 
Foi também em Montemor-o-Novo que nasceu São João de Deus (1495-1550), fundador da Ordem dos Hospitalários que ainda hoje se encontra espalhada por todo o Mundo.
 
 
 
 
Em termos de património, foi a cidade alvo de diversas campanhas de recuperação e actualização que, para além de alterarem de forma profunda a sua paisagem, acabaram por determinar o galopante estado de degradação que o terramoto de 1755 acabaria por acentuar.
 
Apesar disso, a Praça de Montemor-o-Novo resistiu ao ataque de Junot, durante as Invasões Francesas, tendo sido quartel-general das hostes liberais durante a Guerra Civil que opôs Portugueses contra Portugueses em pleno Século XIX.
 
Classificado como Monumento Nacional desde 1951, e apesar da sua extraordinária importância na percepção de Portugal e da sua História, o Castelo de Montemor-o-Novo continua num estado de degradação que é, de todo, incompatível com as potencialidades que apresenta.
 
 
 
 
Continuamente apresentado como palco de grandes campanhas de estudo e de intervenções arqueológicas, quase sempre acompanhadas de projectos para recuperação e musealização do espaço, o certo é que as muralhas continuam a apresentar um estado de ruína e de abandono que representam uma autêntica vergonha Nacional.
 


Dentro do recinto, e para além da recuperada Igreja de Santiago, faz dó visitar as ruínas do Paço Real, da Igreja de São João Baptista ou da Igreja de Santa Maria do Bispo… Uma verdadeira tristeza…