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cascalenses

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108º Aniversário do Regicídio

João Aníbal Henriques, 01.02.16

 

 
 
Cumprem-se hoje 108 anos desde o dia em que o Rei Dom Carlos e o Príncipe Herdeiro Dom Luís Filipe foram assassinados em Lisboa. No dia 1 de Fevereiro de 1908, pondo fim a mais de 750 de Monarquia e de História, a carbonária, braço armado da maçonaria e grupo de terrorista a soldo de interesses estrangeiros, disparou sobre a carruagem real quando o rei e a sua família atravessavam o Terreiro do Paço depois de uma viagem a Vila Viçosa. Com esse acto de terror, a organização terrorista impulsionou os laivos republicanos que tinham chegado a Portugal fruto dos tempos que então se viviam e das vicissitudes recentes que tinham afectado Portugal. Neste dia, para gáudio daqueles que colocavam os seus interesses à frente dos interesses do nosso país, iniciou-se um período negro na nossa história. Depois da coroação do Príncipe Dom Manuel e do turbilhão de golpes e de contra-golpes que visavam somente a destabilização do país, Portugal caminhou rapidamente para a república, encetando um período de intensa convulsão e de instabilidade permanente que se arrastou ao longo de mais de 20 anos.
 
 
 
 

 

Não tendo sido um rei perfeito, até porque o seu espírito humanista e a sua profundíssima cultura o transportavam rapidamente para um mundo onírico que era muito diferente daquele que se vivia em Portugal nessa época, Dom Carlos foi um dos mais marcantes monarcas de finais do Século XIX, tendo ajudado o país a modernizar-se e a ganhar as dinâmicas do novo século. Foi uma pena ter visto a sua vida ceifada de forma prematura, inconsequente e, sobretudo, injusta para Portugal e para os Portugueses. 
 
 

 

 

 

Lisboa e o Tejo: Perspectivas de uma Intervenção Patrimonial

João Aníbal Henriques, 17.07.14
por João Aníbal Henriques
 
Aproveitando o ensejo da cerimónia de entrega das medalhas de mérito municipal, a Câmara Municipal de Lisboa inaugurou a renovada frente ribeirinha entre o Cais do Sodré e o Terreiro do Paço.
 
As obras, com orientação de um projecto assinado pelos arquitectos João Nunes e João Gomes da Silva, deram forma a um projecto ambicioso e de extraordinário alcance que muda de forma muito eficaz a relação sempre difícil de Lisboa com o Rio Tejo. Depois de concluído, o projecto recria uma zona de grande conforto urbano, suportado por uma linha de paisagem verdadeiramente extraordinária, que vem reforçar a face turística da cidade, recebendo desde logo largos milhares de turistas que ali sentem e percebem a excelência que configura este recanto único da capital.
 
 
Integrado no mesmo projecto, ficam também as obras de recuperação das Antigas Doca Seca e Doca da Caldeirinha que, retomando a sua ligação com o edifício do Arsenal, permitem perceber melhor como era a cidade durante o período áureo dos Descobrimentos Marítimos.
 
Por decisão da câmara procedeu-se também à  “semi-pedonalização” de todo o trajecto, com condicionantes acrescidas à circulação automóvel que, pecando pelo “semi”, deveria ter assumido de forma corajosa e definitiva o carácter exclusivo daquele espaço. Actualmente, e com imensas excepções para os veículos oficiais, que por ali circulam livremente condicionando o usufruto turístico a zona e comprometendo a qualidade cénica o espaço, a Ribeira das Naus está interdita ao trânsito automóvel durante o período das férias escolares e durante os fins-de-semana, sendo atravessado livremente nos restantes períodos.
 
Não se percebe (nem pode aceitar-se), aliás, que no próprio Terreiro do Paço – espaço de excepção e cara efectiva da Cidade de Lisboa – se mantenha um parque automóvel oficial que ali permanece estacionado! Havendo alternativas de estacionamento, motoristas que podem deixar as figuras importantes que por ali “trabalham”, porque motivo se compromete a face mas importante do turismo de Lisboa com uma fila de caros parados em frente ao Tejo?
 
 
 
 
Inexplicável é também, provavelmente por ter sido adiada para depois da inauguração, a inexistência de placas informativas ao longo do espaço que, explicando o que são as duas docas agora desenterradas e contextualizado a expressão de tempos antigos que mudaram a cidade e o Mundo, permitissem aos visitantes (Lisboetas e turistas) a compreensão efectiva da importância e o alcance da obra que ali foi concretizada. Actualmente, perguntando a quem passe uma explicação sobre o que estão a ver, os milhares de turistas que circulam pela Ribeira das Naus dificilmente encontram quem lhes explique o que estão a ver. E não é isso que queremos com o investimento brutal que ali foi feito!
 
 
 
 
Não ficando diminuída a importância desta obra e as consequências extraordinárias que tem no reforço da atractividade turística da capital, o certo é que parece ter havido pressa na pompa e no foguetório da inauguração.
 
E como o espectáculo já acabou, importa agora não perder tempo e tratar rapidamente de todos os pequenos pormenores que ficaram por fazer. Porque foram os Lisboetas – e os Portugueses em geral – quem pagou as obras em questão. 
 

 

 

 

O Arco Monumental da Rua Augusta - Lisboa

João Aníbal Henriques, 15.11.13
por João Aníbal Henriques

Monumento maior da Cidade de Lisboa, marcando de forma muito evidente o eixo principal da Baixa Pombalina, o Arco Monumental da Rua Augusta é um dos elementos mais impactantes da estrutura simbólica que dá forma à Praça do Comércio – antigo Terreiro do Paço – e que define a orientação da nova cidade.

Tendo feito parte do projecto original de recuperação da Cidade de Lisboa depois do grande terramoto de 1755, o Arco da Rua Augusta era uma das peças principais traçadas pela dupla Manuel da Maia e Eugénio dos Santos, que o Marquês de Pombal aprovou de imediato, tendo sido iniciada a sua construção logo em 1759.

Vicissitudes diversas, no entanto, ditaram várias mudanças ao projecto, sendo que em 1777, logo depois da inauguração da Estátua Equestre do Rei Dom José, a construção original foi demolida, tendo-se iniciado um processo moroso que introduziu várias alterações profundas na ideia inicial. Depois da morte do Rei, da subida ao trono da Rainha Dona Maria I e da demissão do Marquês de Pombal, só em pleno Século XIX, já em 1815, é que se colocaram os enormes pilares em pedra de Pêro Pinheiro que dão forma ao monumento actual.

Durante muitos anos, como se vê nas inúmeras fotografias dos finais do século, o arco manteve-se aberto, sem a cúpula escultórica que hoje ali vemos, até que em 1844 Costa Cabral aprovou o renovado projecto de cunho romântico da autoria do Arquitecto Veríssimo José da Costa.

 


O conjunto escultórico superior, da autoria do arquitecto Anatole Calmels – que também foi responsável pelo varandim do edifício dos Paços do Concelho – representa a glória, o génio e o valor, compondo um quadro que encaixa de forma perfeita na simbologia latente na significação de índole sagrada que surge associada à própria estátua real. O conjunto inferior, da autoria de Vítor Bastos, inclui as figuras que deram forma à História de Portugal, nomeadamente Viriato, Nuno Álvares Pereira, Vasco da Gama e o próprio Marquês de Pombal.

O carácter sagrado do monumento, a que não é estranha a concepção da própria praça, surge em linha com o significado profundo do Cais das Colunas e com a ligação às três artérias que convergem para o Rossio: o Ouro, a Prata e a Rua Augusta.

Para o investigador Vítor Adrião (Lusophia) a Praça do Comércio é um decalque quase perfeito da Basílica de Mafra, estando o Altar-Mor no local onde em Lisboa se encontra a Estátua Equestre e o Santíssimo no mesmo sítio onde originalmente se encontra o arco e questão.  


Reforçando a ideia de que o valor deste monumento reside muito mais no seu simbolismo do que na monumentalidade que hoje lhe atribuímos, esta teoria ajuda a explicar a escala única de todo o espaço e, especialmente, a dimensão quase inusitada que o arco assume na totalidade do conjunto.

Recuperado ao longo dos dois últimos anos, o Arco Monumental da Rua Augusta está hoje acessível ao público que o pode visitar mediante o pagamento de um bilhete de 2,50 €, dali obtendo uma perspectiva panorâmica fenomenal de todo o quadriculado que dá forma à Baixa Lisboeta. 










A Estátua Equestre do Rei Dom José no Terreiro do Paço

João Aníbal Henriques, 12.11.13

por João Aníbal Henriques

Situada no Coração de Lisboa, no centro da Praça do Comércio (antigo Terreiro do Paço) e estrategicamente colocada entre o Arco Triunfal da Rua Augusta e o marco simbólico do Cais das Colunas, a estátua equestre do Rei Dom José é um dos mais impressionantes e emblemáticos monumentos da cidade.

Muito ligado à reconstrução pombalina de Lisboa após o grande terramoto de 1755, o convite formulado ao escultor Joaquim Machado de Castro foi feito ainda antes do cataclismo, em 1750, e ficou envolvido em várias polémicas. Em primeiro lugar porque o escultor teve de seguir os desenhos realizados por Eugénio dos Santos e, depois, porque ainda foi obrigado a adaptá-los à forma do pedestal já concebido por Reinaldo Manuel dos Santos.

O significado simbólico da estátua, envolto em várias interpretações de cariz variado e muitas vezes contraditório, assentam no dito plano maçónico que o Marquês de Pombal terá utilizado como base do plano de reconstrução da própria cidade.


Concebida como um templo antigo, a própria Praça do Comércio surge carregada de simbolismo, valendo a pena ler com atenção os muitos e muito profundos estudos realizado pelo investigador Vítor Adrião sobre este assunto e acessíveis através do site Lusophia.

De qualquer maneira, importa referir que todo o quadro que envolve a imagem surge marcado por uma identidade que não é linear e que, mesmo no carácter assimétrico da figura real, deixa antever mistérios que ninguém revelou de forma total. A alegoria às vitórias na Ásia e na América, associada à fama e ao triunfo de Portugal, estão bem patentes nas serpentes e nas figuras que envolvem o Rei e o seu cavalo.


A inovação deste trabalho, que foi a primeira representação equestre de um Rei em espaço público recuperando os valores estéticos da Antiguidade Clássica, é vincada pelo facto de ter sido fundida numa só peça e ao longo de apenas 7 minutos. Tecnicamente diferente de tudo o que tinha sido feita até então, foi uma das muitas experiências bem conseguidas que o Tenente-Coronel Bartolomeu Costa realizou no Arsenal do Exército e que tantas repercussões tiveram na História da Arte Portuguesa e na própria Cidade de Lisboa.

As suas enormes dimensões, e o facto de não poder ser puxada por animais, transformou o transporte entre o local da fundição e a Praça do Comércio numa enorme aventura que se encaixou de forma firme na História de Lisboa. Num percurso épico que se prolongou ao longo de 4 dias, a estátua foi carregada por mais de 1000 homens e obrigou à construção de uma estrada para o efeito e à demolição de casas particulares, igrejas e de outros monumentos que se interpunham no caminho em direcção à frente ribeirinha da cidade.

Por fim, no dia da sua inauguração, em 6 de Junho de 1775, causou estranheza o facto de o Rei não ter estado presente na cerimónia que foi presidida pelo próprio Marquês de Pombal. Esse facto, no entanto, ficou a dever-se mais ao protocolo de linha Francesa que se seguiu, e que colocava o Rei em posição de honra na presidência da cerimónia por ser ele o homenageado na estátua, do que a qualquer tentativa de reforço do poder pessoal do primeiro-ministro de Dom José.

Este, por seu turno, juntou ainda mais uma polémica à estória do monumento, ao colocar, na face virada para o Tejo, um medalhão de bronze com a sua imagem e que foi retirado depois das polémicas políticas instauradas pela Rainha Dom Maria I. O medalhão regressou ao seu local de origem, onde ainda hoje pode ser visto, em 12 de Outubro de 1833 pelas mãos do Governo Liberal.


Por fim, importa reter a teimosia do Rei que se recusou a posar para a estátua, facto que obrigou a utilizar a cara que estava patente numa das medalhas que circulavam na cidade… as mãos da estátua, por exemplo, foram moldadas a partir das mãos do próprio escultor…

 

Em suma, é de mistério e de lenda que se constrói um dos mais extraordinários e inesquecíveis recantos da Cidade de Lisboa!