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Mais para ler
por João Aníbal Henriques
A ligação de Cascais a Santo António é ancestral. Já antes da instalação na Cidadela do regimento Dezanove de Infantaria, que tinha Santo António como orago, existia na Capela de Nossa Senhora da Vitória uma imagem do Santo Taumaturgo que haveria de ter um papel de decisiva importância na consolidação da Identidade Cascalense.
Em 1952, numa iniciativa conjunta da Sociedade Propaganda de Cascais e da Junta de Turismo do Estoril, foi realizado um muito popular concurso de tronos dedicados a Santo António que encheram as ruas de Cascais de cor e de movimento dando o mote para o clima de grande devoção que toda a vila dedicou ao santo lisboeta. Com imensa participação popular, e um júri que incluía os dirigentes da propaganda e do turismo e ainda elementos da direcção do Casino Estoril, a iniciativa passou por vários dos principais arruamentos da vila e teve prémios de valor considerável que foram dos 500$00 aos 50$00, distribuídos em quatro escalões consoante a avaliação efectuada pelos cascalenses.
Agraciado com o primeiro prémio foi a dupla formada pelos cascalenses José Luiz e António Jorge Rodrigues Cardoso, que receberam 500$00 pelo trono que montaram no nº 95 da Rua Visconde da Luz. Em segundo lugar ficaram Maria Matilde dos Santos Branco e Maria Luiza Brígida, moradoras na Rua dos Navegantes, nº 46, tendo recebido um prémio de 400$00. Em terceiro lugar, com um prémio de 200$00, ficou Guilherme Luiz Antunes da Conceição, com o seu trono montado na Rua Nova da Alfarrobeira, 9. O penúltimo premiado foi Maria Teresa Dâmaso de Jesus, moradora no número 11 da Rua Alexandre Herculano e tendo recebido 100$00. E o quinto premiado foi José Manuel Assis Santa, que recebeu 50$00 pelo trono que montou em sua casa no Beco Torto, nº 14.
A cerimónia de entrega dos prémios aconteceu no Casino Estoril no Domingo, dia 22 de Junho, tendo comparecido as mais altas individualidades da vida municipal, para além de uma comitiva representante dos comerciantes da baixa de Cascais.
Eurico Braga e Francisco Romano Esteves, em nome da organização, fizeram os discursos e entregaram os prémios, sublinhando sempre a importância destas iniciativas para o reforço da participação cívica dos cascalenses nos interesses da sua terra.
Depois de um interregno de várias décadas, a antiga tradição cascalense foi retomada em 1983, desta feita numa organização totalmente dirigida pela Sociedade Propaganda de Cascais e por iniciativa da dupla formada pelos directores António de Sousa Lara e Benjamim Quaresma Dinis, contando sempre com a presença, o entusiasmo e o apoio de Armando Penin Villar.
Nesse ano os festejos iniciaram-se com a procissão, que saiu da porta da Cidadela em direcção à Igreja de Nossa Senhora da Assunção, e que culminou, às 17h00, com a actuação da Orquestra Ligeira do Exército no palco do Largo Luís de Camões.
O êxito da iniciativa, bem patente nas notícias dadas pelo Jornal da Nossa Terra e pelo Jornal da Costa do Sol, contou ainda com o patrocínio da Câmara Municipal de Cascais e do C.I.A.A.C – Centro de Instrução de Artilharia Antiaérea de Cascais.
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por João Aníbal Henriques
A morte do Papa Francisco que, em linha com o seu pontificado profundamente ecuménico, tocou de forma muito sentida o coração de muitos milhões de pessoas de todos os credos e religiões em todo o planeta, é um dos mais marcantes momentos deste ano de 2025.
Francisco, o 266º Papa desde a fundação da Igreja por São Pedro, chefiou o catolicismo desde o dia 13 de Março de 2013 até à data da sua morte no Vaticano na passada Segunda-feira. Nascido na Argentina, com o nome de Jorge Mário Bergoglio, foi ordenado padre em 1969, encetando assim uma vida de entrega total e absoluta a Cristo e à defesa dos mais pobres e desfavorecidos.
Em 2023, no 10º aniversário do seu Pontificado, viajou para Portugal para presidir às cerimónias integradas nas Jornadas Mundiais da Juventude e, envolvido num registo de emoção e significado, foi o primeiro Papa a visitar o Concelho de Cascais, deixando um registo na História Municipal que perdurará eternamente na memória dos cascalenses.
Mas não se esgota nesta visita a ligação do Papa a Cascais.
Na Estação Arqueológica dos Casais Velhos, junto à aldeia da Areia e das Dunas do Guincho, existe uma antiga fábrica de púrpura fundada no Século I d.C. A tinturaria, classificada como Imóvel de Interesse Público desde 1984, insere-se num complexo arqueológico de génese romana que integrava igualmente uma zona residencial, uma necrópole e um sofisticado sistema de termas com banhos quentes e frios. Ali, mediante um processo químico desenvolvido nos tanques que ainda hoje podem ser observados, trabalhava-se um marisco comum nestas costas marítimas – o murex – que era triturado e preparado de forma a transformar-se na mais importante tinta da antiguidade.
De entre os vários rituais simbolicamente essenciais para marcar a dignidade papal, dos quais se destaca a abdicação da sua identidade civil e a escolha de um novo nome logo no início do Pontificado, simbolizando a negação peremptória dos laços que o ligavam à vida terrena de forma a poder assumir de forma plena o papel de representante de Jesus Cristo na Terra, o Papa, após a sua eleição no Conclave, eterniza a ligação à cor púrpura, que define simbolicamente os laços entre as funções sagradas que exerce e o Sacrifício Maior da nossa História, o derramamento do sangue sagrado de Jesus.
Por vezes mal compreendidos, pelo seu carácter vincadamente simbólico, estes rituais ajudam a definir o importantíssimo papel que o Papa sempre teve na vida religiosa, cultural, política e social da Europa e do Mundo. Integrados nas vestes fúnebres que marcam a despedida terrena do Papa Francisco, lá vemos os sapatos purpurados que representam esse laço de entrega total à Causa Maior que a Cristandade congrega.
E a tinta púrpura, simbolicamente transformada no Sangue de Cristo, foi fabricada nos Casais Velhos, em pleno Concelho de Cascais, de onde era transportada para Roma para “purpurar” as vestes dos mais importantes dignatários da Igreja Católica Apostólica Romana…
Assumindo a matriz Cristã e Católica desta Europa em que agora vivemos, na qual a Igreja teve papel determinante ao longo de muitos séculos, podemos inferir que Cascais, através da púrpura que se produzia nos Casais Velhos, deu um contributo relevante e de primeira importância para consolidar a civilização ocidental que hoje ainda vamos tendo.
A despedida do Papa Francisco, o primeiro de todos os Papas a visitar Cascais, é assim profundamente sentida neste concelho, não só pelas memórias boas que guardamos do seu Pontificado e da sua mensagem, como também pelas ligações simbólicas que a Nossa Terra sempre teve com a História da Igreja Católica na sua expressa missão de representar na Terra o único e verdadeiro Filho de Deus.
Que descanse em paz.
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por João Aníbal Henriques
Quando a Agência Vitória, a primeira imobiliária de Cascais, abriu portas, no já longínquo ano de 1956, já o edifício onde esteve instalada, no Largo Camões, estava desde há muito ligado à Família Cabral da Silva.
Adquirido no início dos anos 20 por João Cabral da Silva (1905-1966), o edifício setecentista albergou a antiga ourivesaria da família, que ocupava o piso térreo, tendo no primeiro andar, em regime de aluguer, uma sucursal da mítica Pastelaria Garrett.
João Cabral da Silva, nascido na Gândara do Além, em Carvide, Monte Real, veio para Cascais com cinco anos, por ter ficado órfão de forma inesperada. Criado por um tio paterno, o mítico Cabral “o Velho” que possuía estabelecimento comercial na Travessa Afonso Sanches, e que Pedro Falcão eternizou na sua obra memorial “Cascais Menino”, fez toda a sua vida na vila de Cascais, em conjunto com dois primos-direitos que o tratavam como irmão e com quem desenvolveu as naturais apetências comerciais que todos possuíam.
No início da Rua Direita, virada para o mesmo Largo Camões, João Cabral fundou a “Papelaria Cabral”, através da qual se tornou representante oficial das mais importantes marcas de canetas e de perfumes, ao mesmo tempo que, dando azo ao seu espírito empreendedor, inaugurou no primeiro piso do imóvel a primeira biblioteca pública de Cascais. Mais tarde, adquirindo o imóvel do Século XVII que existia na Rua Regimento Dezanove, ali instalou a sua primeira ourivesaria, vendendo e comprando outro, prata, pedras preciosas e relógios, numa paixão que se estendeu durante muitas décadas e que o filho herdou.
João Cabral da Silva foi ainda sócio fundador da Associação Comercial de Cascais e, dentro da estrutura da Igreja Católica, foi um dos principais impulsionadores e promotores das procissões e actos devocionais que aconteciam na vila. Para tal contribuiu de forma decisiva o facto de ter estado com a sua avó Guilhermina Cabral da Silva na Cova da iria, em Fátima, no dia 13 de Outubro de 1917, tendo assistido no próprio local ao “Milagre do Sol”. Esse evento, que o marcou de forma profunda e eterna, foi a razão principal da sua profunda Fé e devoção a Nossa Senhora de Fátima a quem dedicou inclusivamente a sua capela privativa, situada na casa “Serradinho da Eira”, na aldeia da Charneca. Através da Igreja, e sempre resguardado no recato que considerava essencial para que a caridade não se transformasse num instrumento de promoção social, apoiou discretamente dezenas de famílias pobres de Cascais, a quem assegurava a dignidade que defendia para toda a gente.
João Cabral da Silva na Janela do 1º Andar da Tabacaria Cabral
Falecido na sua casa da Rua Direita no dia 13 de junho de 1966, o seu trabalho foi continuado pelo filho, João Moreira Cabral da Silva (1935-2024), que dirigiu a Agência Vitória desde o dia da sua inauguração e até ao dia da sua morte.
Casado com Maria Fernanda Veiga Henriques Cabral da Silva (1936-2023) e sem descendência, João Cabral da Silva foi um dos mais inovadores empresários do sector imobiliário. Empreendedor e visionário, foi capaz de transformar o legado do seu pai numa das mais prósperas casas comerciais da vila, para onde convergiam clientes provindos das mais variadas partes do mundo e que ali procuravam as casas onde viriam a morar.
O Casal Maria Fernanda e João Cabral da Silva na Agência Vitória em 2023
A Agência Vitória, reconhecida internacionalmente pelos seus bons serviços e pela seriedade do seu trabalho, serviu algumas das mais proeminentes figuras da vida política, económica e cultural da Europa de meados do Século XX, chegando a ter uma carteira com mais de 500 imóveis disponíveis e perto de mil clientes (entre proprietários e inquilinos), geridos por Cabral da Silva que, com a sua mulher, liderava uma equipa com cerca de 20 colaboradores.
Os arrendamentos temporários, sobretudo durante o período estival, foram um dois pilares que sustentou o desenvolvimento e a afirmação do Turismo de Cascais durante várias décadas. E ao nível das vendas e dos arrendamentos de longa duração, inovou com a oferta de contratos relativos a imóveis completamente mobilados, que eram nessa altura um filão raro e muito difícil de encontrar em Portugal. Do seu portfolio faziam ainda parte uma parte substancial da oferta de imóveis comerciais na vila e no concelho de Cascais, sector que se afigurou de primeira importância para a consolidação da vocação turística municipal.
Erudito e conservador, preservando os mesmos hábitos e costumes que haviam sido desenvolvidos durante a vida do pai, João Cabral da Silva foi figura marcante e incontornável do Cascais do Século XX. Durante e após o processo revolucionário, em 1974, manteve intocados os valores que sempre defendeu, preferindo pagar o preço dos seus princípios do que vergar-se à novidade que exigia dele posicionamentos mais modernos e liberalizantes. E até final do século, numa luta permanente da qual nunca pediu tréguas, conseguiu manter vivo o seu negócio e encontrar um registo de trabalho assente nesses valores de seriedade que permitiram à Agência Vitória manter a suas portas abertas e preservar uma parte substancial da sua carteiras de clientes, mesmo quando por toda a vila se multiplicavam os concorrentes que surgiam no mercado com ofertas melhor adaptadas aos novos tempos que iam chegando.
Já na sua velhice, debilitado por uma saúde frágil, manteve sempre abertas as portas da Agência Vitória, onde trabalhava diariamente até à véspera do seu falecimento na mesma casa da rua direita onde tinha nascido há 89 anos.
A Agência Vitória laborou ainda até final do ano, tendo encerrado definitivamente as suas portas no dia 30 de Setembro de 2024. Com o seu encerramento, fecha-se um ciclo longo e próspero do comércio de rua em Cascais, acompanhado infelizmente pelo igual encerramento da mítica Drogaria Costa, a Pastelaria Bijou, a Galera Modas, o Faraó e muitos outros estabelecimentos comerciais que durante muitas décadas ajudaram a definir o que era a Vila de Cascais.
Ficam as memórias perenes e inultrapassáveis destes negócios históricos e, sobretudo, a lembrança das vidas dos empresários que lhes deram ensejo e forma. A todos eles se dedicam as palavras de gratidão pela forma como com as suas vidas ajudaram a fazer desta vila uma das mais extraordinárias terras de Portugal.
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por João Aníbal Henriques
No dia 6 de Setembro de 1968 Portugal mudou radicalmente. O então Presidente do Conselho de Ministros, António de Oliveira Salazar foi submetido à derradeira operação ao cérebro, num a tentativa final de impedir o avanço da doença debilitante que o tinha atingido depois da queda sofrida durante a estadia de veraneio no Forte de Santo António da Barra, em São João do Estoril.
E, por ironia do destino, ali mesmo ao lado, em Alcoitão, o milionário boliviano Antenor Patiño organizava na mesma noite aquela que é considerada como a maior e mais extraordinária festa jamais ocorrida em Portugal.
Os dois acontecimentos, ocorridos simultaneamente e com epicentro em pleno concelho de Cascais, são a marca mais flagrante do fim de uma era, marcando em definitivo aquele que foi um dos mais prósperos e significantes períodos da história recente deste município.
Com a presença de mais de mil convidados, onde se integravam as maiores estrelas do mundo dessa altura, como as actrizes Audrey Hepburn, Gina Lollobrigida, Zsa Zsa Gabor e Maria Félix, a festa reuniu ainda os grandes nomes da política e do poder. Em termos internacionais, entre muitos outros nomes de menor importância, destacam-se a ex-imperatriz Soraya Esfandiary da Pérsia, a princesa Margarida da Dinamarca, Ira de Furstenberg, Douglas Fairbanks, Begum Aga Khan, Hubert de Givenchy, Capucine (Germaine Lefebvre) e o empresário Gunter Sachs.
A nível nacional, numa época em que o Estado Novo ainda marcava em definitivo os destinos da nação, estiveram em Alcoitão, esquecendo a terrível intervenção cirúrgica a que o chefe de estado estava a ser submetido simultaneamente, a maior parte das grandes figuras que sustentavam o regime, facto que causou grande celeuma e discussão, acentuada pelo facto de ter sido este o episódio que definitivamente trouxe a público e aos portugueses a consciência sobre o estado de saúde muito débil que caracterizava nessa altura o poderoso Presidente do Conselho de Ministros. De manhã, quando os principais jornais publicavam as dramáticas notícias sobre Salazar, ainda saíam da Quinta Patiño os convidados mais retardatários da festa sumptuosa aí decorrida.
Portugal, depois desta noite, não voltou a ser o mesmo. E, se o charme internacional de Cascais se acentuou, numa réstia de publicidade que levou longe o nome da nação, os equilíbrios políticos e sociais que sustentavam Portugal soçobraram para sempre, encetando o processo de mudanças radicais que culminará, meia dúzia de anos depois, com a revolução do 25 de Abril e, logo depois, com as atrocidades do PREC que definitivamente puseram fim a mais de 500 anos de História.
O município de Cascais, uma vez mais, foi o palco onde tudo aconteceu, concentrando nas suas paisagens magníficas as memórias inesquecíveis das muitas histórias que transversalmente por ali aconteceram.
Vera Lagoa, a mítica cronista social que desafiava os estereótipos instituídos e ousava descrever tudo o que via e se passava em Portugal, foi a grande responsável pela integral transcrição do que foi esta festa deslumbrante. Foi ela quem identificou as caras, os nomes e a importância das muitas celebridades que vieram a Portugal de propósito para estar na Festa Patiño, e foi ela quem sarcasticamente identificou os trajes, as toilettes e os truques de maquiagem que reformataram as personagens criadas para a participação neste extraordinário evento.
Foi igualmente ela quem, por portas e travessas, conseguiu tirar as fotografias que eternizaram aqueles momentos, tendo-as distribuído pela imprensa e, dessa maneira, nos ajudam hoje a perceber a real magnitude daquela noite tão especial.
As fotografias que ilustram este pequeno apontamento são de sua autoria e foram publicadas no jornal local “A Nossa Terra”, o jornal da Costa do Sol, a quem ela as ofereceu.
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O Mundo vivia envolvido num clima de profunda tensão em 1939, e a Europa, marcada pela ascensão política de Adolf Hitler e do III Reich alemão, debatia-se com a dúvida relativamente ao que fazer perante aquela absurda e rápida tomada de poder. O clima de incerteza era enorme e no horizonte político de curto prazo sabia-se que era possível iniciar-se uma guerra devastadora com consequências imprevisíveis para o velho continente e para os países que o compunham há muitos séculos.
Mas no Estoril, paraíso resguardado num enclave de paz e serenidade, a vida continuava quase alheada do que estava a acontecer…
No Carnaval de 1939, num Mundo prestes a entrar em guerra, o Casino Estoril anuncia uma animada e extraordinária festa com cunho internacional. Para além dos corsos que se multiplicaram pelas ruas apinhadas de público daquela maravilhosa estância balnear, nos quais participaram artistas de renome internacional e que contou até com um carro decorado pelo próprio Salvador Dali, o canal de televisão americano CBS, com o seu renomado programa conduzido pelo conhecido Ed Sullivan, transmitiu o seu famoso show a partir do Casino Estoril.
A alegria e a elegância dos Estoris, era assim apresentada numa profusão de bailes temáticos em que os participantes entravam vestidos a rigor.
E o Estoril, apresentado como a estância com o inverno mais suave da Europa, era verdadeiramente o paraíso para reis, príncipes e princesas que ali faziam brilhar o charme próprio de quem sabia ser gente muito especial que tinha a sorte de poder estar no mais especial de todos os destinos daquelas Europa em pânico!
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por João Aníbal Henriques
Diz-se na “Chancelaria de Dom Fernando” que em 1364, quando pescavam nas águas da baía de Cascais, os pescadores encontraram submersa uma magnífica imagem de Nossa Senhora com o Menino ao colo. Talhada em madeira de cipreste, a imagem era de tal maneira formosa que foi desde logo apelidada de Nossa Senhora da Graça, facto que consolidou a devoção dos pescadores cascalenses àquela evocação antiga de Nossa Senhora. O fervor da oração em torno da imagem foi tanto que, mercê da fama angariada por esse Portugal fora, foi a imagem entregue à guarda dos Frades Agostinhos de Lisboa, que a colocaram em lugar de destaque no Altar-Mor do seu mosteiro na capital. Nasceria assim o Bairro da Graça, onde o tal mosteiro estava implantado, reforçando o fervor devocional do povo antigo de Cascais!
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por João Aníbal Henriques
Existem histórias que se transformam em mitos e mitos que se transformam em História… foi o que aconteceu com o Rei Humberto II de Itália durante os muitos anos em que residiu exilado na Vila de Cascais.
Despojado, por sua vontade, dos rigores protocolares que tinha conhecido bem enquanto foi monarca, o Rei fez questão de se integrar plenamente nos usos e nos costumes de Cascais, partilhando com os cascalenses os seus hábitos e a simplicidade despojada que desde sempre caracterizou a vida social nesta vila.
Pouco depois de aqui se instalar, inicialmente em Casa do Conde Monte Real, em frente à Cidadela de Cascais e, depois, numa das Casa Pinto Basto situada junto à enseada de Santa Marta, resolveu um dia logo pela madrugada, de forma a não ser visto por ninguém, dirigir-se ao posto de saúde da vila para se inscrever como doador de sangue.
O seu natural altruísmo, e o desdém que sentia por qualquer acto de ostentação, obrigava-o a zelar pela discrição, evitando assim qualquer publicidade que desvirtuasse o acto abnegado que queria concretizar.
Mas para grande constrangimento do monarca, estavam nesse dia no posto de saúde duas varinas de Cascais que, reconhecendo o Rei e sendo assumidamente suas fãs, lhe pediram reiteradamente que não fizesse esse sacrifício que, segundo elas, poderia pôr em risco a sua saúde e até a sua vida, o que elas consideravam ser um atentado por ser ele um Rei gentil, de muito boa aparência e pai de quatro filhos…
Mas, apesar do pedido do Rei de que não contassem a ninguém o que tinham acabado de ver, as varinas não se calaram e espalharam por todo o lado a notícia do que Humberto II de Itália tinha acabado de fazer.
O Rei nunca desmentiu nem confirmou a história, fugindo sempre do assunto e procurando que o mesmo fosse caindo no esquecimento dos cascalenses.
Mas anos mais tarde, quando foi visitado pelo investigador e escritor Júlio Sauerwien, que viera a Cascais para recolher material para o seu livro “Exilados Régios no Estoril”, foi frontalmente questionado sobre a veracidade dessa história. E, não querendo mentir, foi obrigado a confirmar que era verdadeira!
Mais uma história da História de Cascais que vem confirmar a máxima atribuída a Sua Majestade o Rei Dom Carlos I de Portugal de que “Cascais é o sítio onde o povo é mais nobre e onde a nobreza é mais popular”!
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por João Aníbal Henriques
O dia 5 de Outubro de 1863 foi de festa em Cascais. Com pompa e circunstância, a baía encheu-se de salvas e vivas para receber a Princesa Dona Maria Pia de Sabóia que chegava nesse dia a Portugal para casar com o Rei Dom Luís I.
A vila, engalanada com as cores da Casa de Bragança, foi assim a primeira terra de Portugal a conhecer a futura rainha, mal sabendo ainda o quão importante ela haveria de ser para afirmar Cascais como a “Vila da Corte”, transformando-a com o seu requinte italiano no mais charmoso de todos os destinos em Portugal.
Em 1863 a então Princesa de Sabóia, com a frescura dos seus 15 anos de idade, chegou a bordo da corveta portuguesa Bartolomeu Dias, comandada por Francisco Soares Franco, e transmitia a todos os que a rodearam o sentimento de esperança que trazia para o seu casamento real.
Mal sabia que, depois de uma vida de enganos e desenganos com o monarca seu marido, haveria de assistir à terrível morte de um filho e de um neto, sendo ela própria expulsa de Portugal.
Para além deste imenso desgosto, do qual nunca mais recuperou, a Rainha Dona Maria Pia sofreu em Cascais um dos mais tenebrosos momentos da sua vida. Apesar das crises imensas que afectavam o casamento real, a rainha acompanhou o rei a Cascais quando este, já doente terminal, decidiu que queria morrer a olhar para as muito amadas águas da nossa baía. E não descansou quando, hora após hora, cuidou do seu marido ao longo da longa agonia que este haveria de sofrer na Cidadela Real.
O desgosto e o sofrimento foram tão grandes que depois da morte do rei decidiu que não queria voltar a entrar no Paço de Cascais. Esse espaço que se lhe tinha tornado maldito foi substituído pelo Chalet que havia adquirido no Monte Estoril e que partir desse momento passará a ser o sítio privilegiado para a reunião com os seus familiares e amigos numa espécie de corte secundária sempre que vinha a Cascais acompanhar a Família Real.
Quando morreu exilada em Itália, Dona Maria Pia pediu para ser sepultada com o rosto virado na direcção de Portugal, o país que apesar de tanto mal lhe ter infligido, era efectivamente a sua casa à qual devotadamente entregava o coração e a alma num gesto de amor que nunca foi reconhecido devidamente em Portugal.
Portugal deve muito a esta rainha e Cascais deve quase tudo o que fez deste lugar um sítio tão especial!
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por João Aníbal Henriques
Por incrível que pareça, em 1514, quando Dom Manuel I renovou o antigo Foral de Cascais, a escravatura era um exercício comercial comum na nossa vila.
De facto, numa das posturas desse documento diz-se taxativamente que quem vendesse um escravo ou uma escrava em Cascais teria de pagar um imposto de 13 Reais e meio! E que as escravas que fossem mães de crianças que ainda mamassem não veriam agravadas as suas taxas por esse efeito.
Uma realidade cruel que caracterizou a nossa terra e o resto do mundo mas que felizmente já está muito distante! Pelo menos por cá e por enquanto…
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