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cascalenses

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Papa Francisco em Cascais

João Aníbal Henriques, 04.08.23
 

por João Aníbal Henriques

As palavras não chegam para traduzir a profunda emoção sentida por centenas de milhares de Cascalenses que encheram as ruas da vila para receber o Papa Francisco na sua visita a Cascais. Dois mil anos depois e pela primeira vez na nossa terra, um Papa pisou o território de Cascais trazendo consigo uma mensagem de profundo significado para este Mundo em profunda convulsão. Foi uma visita que recriou a verbalidade dos tempos, pois tendo decorrido no presente, já era, ainda antes de acontecer, um pedaço da nossa história, reformatando a memória e a própria identidade de Cascais. Ficam as imagens possíveis, porque a história faz-se por si própria, entranhada que ficou no pensamento mais profundo do povo de Cascais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
(fotografias da CMC)

 

D. Simão Aranha e o Menino Cascais

João Aníbal Henriques, 23.02.16

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por João Aníbal Henriques

 

D. Simão do Santíssimo Sacramento Pedro Cotta Falcão Aranha de Sousa e Menezes (Cascais 1908-2000) foi a personagem mais importante da sua obra-prima “Cascais Menino”. Não tanto por ter dela feito parte, ao longo das deambulações tantas vezes anacrónicas que vão enchendo estas páginas extraordinárias sobre a sua vila natal, mas mais por terem sido os seus olhos de menino o principal instrumento que utilizou para captar os resquícios mais profundos da Alma de Cascais.

 

Década e meia depois da sua morte, quando em Cascais já são muitos aqueles que nunca se cruzaram com Pedro Falcão nas suas sempre polémicas intervenções em defesa desta terra, é notória a falta que faz o discernimento e a capacidade crítica que o escritor-artista tinha para interpretar a realidade local.

 

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O Cascais onde ele nasceu, cresceu, viveu e morreu é intemporal e, tal ele repetia sistematicamente, mantém-se sempre menino na sua incapacidade de se olhar de frente… é um Cascais que se sente, que se intui e se adivinha, mas que é impossível de descrever. É um Cascais substancialmente maior do que as casas e as ruas, os becos e as vielas, os palacetes e as grandes famílias que neles viveram, ou mesmo que as muitas estórias que dão corpo à sua longa História. É um Cascais que cruza utopia e realidade, esponjando as suas redes mais rudes sobre a mais subliminar e requintada essência. Neste Cascais, que Dom Simão Aranha personifica durante toda a sua vida e que enche a sua obra, reis e pescadores partilham um palco comum onde os dramas e as desventuras da vida caminham lado-a-lado com as alegrias dos vários quotidianos que as eras e os tempos nos vai deixando.

 

Defendia o escritor que o tempo não fazia sentido em Cascais e que as personagens desta terra, as suas casas e as suas vidas se eternizam numa espécie de memória-comum a todos os Cascalenses. Para ele, gente como o pescador João Ruço, o Rei Dom Carlos, o Visconde de Athouguia ou a Menina Mariquinhas, não podem morrer. Porque se assim acontecesse seria sinal de que estava a morrer também aquela aura mística que desde há tanto tempo caracteriza lá fora aquilo que os Cascalenses sentem cá dentro no seu peito. Este é um Cascais riquíssimo de todas as questiúnculas e divergências que compõem o devir diária de uma qualquer povoação Portuguesa, mas também um espaço onde os laços de união fraterna e universal dão corpo a uma comunidade profundamente arreigada e coesa.

 

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O Cascais Menino é o cimento que vai juntando as pedras para formar o edifício onde vivemos. Para eles contribuem todos os que são Cascalenses, independentemente de cá terem nascido ou não, ou de cá terem chegado somente em época recente. Porque para Pedro Falcão o ser Cascalense é uma condição superior ao que está escrito na certidão de nascimento, dependendo muito mais dessa capacidade quase infantil de amar esta terra do que de qualquer outro pressuposto ditado pelos acasos que vamos vivendo. Por isso, existem Cascalenses que somente por cá passam as suas férias, da mesma forma que existem outros cá nascidos, que cá moram e que cá hão-de morrer que nunca alcançaram o epíteto de verdadeiros Cascalenses…

 

No passeio deste Domingo, organizado pela Academia de Letras e Artes e pela Fundação Pedro Falcão e Yanrub, mergulhámos literalmente nos entrefolhos profundos desta Cascalidade que Pedro Falcão nos deixou nas palavras que teve a arte de escrever. E é quase dilacerante a certeza com que ficamos de que ele teve razão naquilo que teve a coragem de defender.

 

Cascais precisa da pureza do olhar de uma criança para ser entendido verdadeiramente. Necessita com avidez de se perder nos conceitos redutores do tempo e do espaço para que, bem alicerçado nos valores únicos que corporizam o seu passado, possa enfrentar estruturadamente o futuro, oferecendo aos Cascalenses a alegria de saberem que fazem parte de um lugar tão especial quanto este.

 

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(Fotografias gentilmente cedidas por João Barata, Manuela Barreto, Tó Cortez, 
João Pedro Amorim e Luís Athouguia)

Cascais na Idade Média Clássica

João Aníbal Henriques, 19.01.16

 

 
 
por João Aníbal Henriques
 
A reconquista Cristã e a entrada de novas gentes no actual território da Península de Lisboa, veio afectar de sobremaneira o Concelho de Cascais. É ponto assente entre os estudiosos da matéria, que Cascais exista já em 1147 e que foi alvo do interesse do novo rei de Portugal, Dom Afonso Henriques.
 
Segundo Pedro Barruncho, na sua obra “Villa e Concelho de Cascais”, datada de 1873, “é mais provável, para começarmos em mais próximos tempos, que pouco antes ou depois da tomada do Castelo de Cintra, se não ao mesmo tempo, o lugar de Cascaes entrasse no domínio do novo reino Lusitano”.
 
Esse facto é por demais evidente se nos debruçarmos mais profundamente sobre o Foral de Dom Manuel em que se pode ler acerca das preocupações que tanto Dom Afonso Henriques como Dom Sancho I tiveram em relação a este pequeno território: “Achámos visto os foraes por El-Rei D. Affonso Henriques e por El-Rei D. Sancho seu filho que os direitos e foros da dita villa de Cascaes sa hão-de arrecadar e pagar d’aqui em diante na maneira e formas seguintes […]”.
 
Este documento, com data de 15 de Novembro de 1514, é ponto fulcral de mudança e transição no estudo da História da Vila de Cascais a nível demográfico. Por um lado, ele comprova a importância da vila para os monarcas das primeira e segunda dinastias, quer seja a nível militar e estratégico, como defesa do estuário do Tejo perante as ameaças Almorávidas, quer a nível político. Por outro lado, ele diz-nos que Cascais possuía já um número razoável de habitantes que lhe permitia alguma expressão ao nível dos centros de poder governamental.
 
Assim, e tendo presente a subjugação administrativa a Sintra que Cascais sofria nessa época, podemos vislumbrar de forma mais linear a curva demográfica da vila durante este período já longínquo da História. É facto assente que desde épocas remotas existiria uma estrada que garantiria a ligação a Lisboa. Essa estrada, designada por “Caminho Velho” em certos documentos medievais, existiria já desde o tempo dos Romanos e possuiria uma extensão que estabeleceria a ligação a Sintra. Por este motivo, e porque Sintra dependia de Cascais e do seu porto para a exportação, pois a única solução para transportar produtos perecíveis para Lisboa era por mar, lógico seria que Cascai tivesse já nesta altura um contingente significativo de homens do mar que, conjuntamente com as suas famílias, se dedicassem à arte de marear. Tal facto é confirmado por José d’Encarnação e Guilherme Cardoso que se têm dedicado à procura da origem do povoamento do território Cascalense: “Uma das preocupações que temos é precisamente a de localizar os vestígios dessa via quando se faz qualquer urbanização no Concelho, uma vez que é muito provável que existisse, e existia mesmo, não temos dúvida nenhuma (temos documentos medievais que nos falam por exemplo na via velha, no caminho velho). É, portanto, possível que esse caminho velho fosse um caminho já utilizado no tempo dos Romanos – tinha forçosamente de existir uma estrada de Lisboa para Cascais, pois ao contrário do que se pensa, eles preferiam afastar-se do mar”.
 
Cascais foi, por isso, causa e efeito da reconquista Cristã, pois que, com o seu porto, contribui fortemente para o desembarque das naus da referida reconquista. Por outro lado, essa mesma reconquista contribuiu por sua vez para um desvanecer das fronteiras a Sul, e a consequente estabilidade que dela resultou contribuiu de forma decisiva para a facilitação do povoamento do território que, a par com a expansão demográfica e económica da Europa, vêm facilitar o desabrochar de novas povoações e o crescimento das já existentes.
 
Como é evidente, nem todos concordam linearmente com esta premissa. Oliveira Marques, por exemplo, contradiz-se ao referir-se a Cascais da seguinte maneira: “Apesar de todos estes povoamentos, o território de Cascais – como aliás toda a região litoral a Ocidente de Lisboa – era considerada como terra bravia e despovoada nos começos da nacionalidade”. Mas mais à frente, na mesma obra, acaba por atestar a importância de Cascais ao sublinhar a relevância da entrega do “Sturil”, actual lugar do Estoril, a Estevão Eanes, valido de Dom Afonso III, que comprova a importância daquele que é hoje o território municipal Cascalense.